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Dia 01.08.02

O rabino e as prostitutas judias

O rabino Henry Sobel prepara-se para inserir nos cursos para adolescentes de história do judaísmo as desventuras das "polacas" que reinavam nos mais finos bordéis paulistanos no século passado. Esse detalhe da história paulistana era, até pouco tempo atrás, mantido em segredo pela comunidade, envergonhada do passado.

Criado em Manhattan, o rabino envolveu-se diretamente no drama daquelas "polacas", todas judias, muitas delas religiosas. Como estavam impedidas de serem enterradas num cemitério judaico (e até de rezar na sinagoga), as prostitutas compraram um terreno em Santana, onde descansaram em paz até o local ser desapropriado pela prefeitura, em 1972.

Os restos mortais foram transferidos para o Cemitério Israelita do Butantã, mas, marginalizadas, elas continuaram na clandestinidade. Na lápide, apenas um número, nenhum nome. Com base em pesquisas históricas, Sobel ajudou na identificação, defendeu a inscrição dos nomes e realizou uma cerimônia, uma espécie de bênção tardia. "Não aprovamos a prostituição, mas essas mulheres são filhas de Deus."

Para o rabino, o drama das prostitutas judias é parte da história da crônica opressão contra os judeus -desta vez, com a ajuda dos próprios judeus. "Devemos mostrar essa dor aos nossos estudantes nas escolas", defende. As "polacas" desembarcavam em Santos, fugindo do anti-semitismo e da pobreza na Europa oriental, especialmente na Polônia, seduzidas por uma rede internacional de cafetões judeus. Vinham com a promessa de emprego e casamento.

Ao recuperar a identidade das "polacas" e colocá-las na sala de aula, desenterradas do esquecimento, Sobel é seduzido não apenas pelo judaísmo mas pela história de São Paulo. Ele já faz parte da paisagem paulistana e garante que nem pensa em voltar para Manhattan. "Sinto aqui uma notável energia, a riqueza da diversidade e, acima de tudo, um calor humano que jamais encontraria em Nova York."

Na resistência ao regime militar, ele fez uma marca na cidade por causa de um enterro. Não aceitou a versão de suicídio do jornalista judeu Vladimir Herzog; se fossem seguidos o atestado de óbito e as normas religiosas, o jornalista deveria ser enterrado numa área específica para os suicidas. Ao lado das prostitutas.

 

 
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