A
psicóloga Marta e o ipê-amarelo
Marta
Suplicy interrompeu o discurso que fazia na inauguração
de uma praça, recuperada pelos moradores da Vila Madalena,
para chamar a atenção, com um tom maternal,
de um jovem que se apoiava, distraidamente, num ipê-amarelo
plantado havia poucos dias. O rapaz, arrependido daquele microatentado
ecológico, afastou-se da árvore.
Nesse
primeiro ano de mandato, Marta Suplicy repetiu, de diferentes
modos, o gesto do ipê-amarelo. Saiu-se até agora
melhor como psicóloga do que como prefeita ao transmitir
para os habitantes de São Paulo, traumatizados, com
a auto-estima no chão, a sensação de
acolhimento.
Ainda
não se consegue ver o resultado de sua administração.
Foram divulgados, basicamente, planos; existem fundadas razões
para desconfiar da escassez de habilidade gerencial. A distância
entre o que prometeu na campanha e o que realizou explica,
em larga medida, os baques na popularidade de Marta, como
mostrou a pesquisa Datafolha publicada no último dia
primeiro.
Impossível
não reconhecer, porém, que ela está sinceramente
preocupada em fazer da cidade um espaço mais aconchegante
e civilizado. Na lógica do acolhimento, é enfatizada,
em pequenos gestos, a prioridade a quem anda a pé ou
de transporte público.
Valorizar
o centro tornou-se o símbolo do retorno à própria
história, ao berço -daí que, já
neste ano, quer governar a partir do viaduto do Chá,
num prédio com valor histórico, construído
pelos Matarazzo. Criar centralidade na periferia tem-se mostrado
a principal bandeira de seu governo.
Desmontou-se
a percepção de que éramos comandados
por uma quadrilha ou, no mínimo, por pessoas que não
tinham paixão ou orgulho de fazer parte da história
da cidade. Se ainda falta muito para dizer que ela faz um
bom governo, já dá para assegurar que o clima
de acolhimento e de responsabilidade está estimulando
mais gente a recuperar, por conta própria, praças
e plantas ipês. Não é pouco para uma cidade,
abandonada e triste, metida em sua pior crise existencial,
guiada pela convicção quase generalizada de
que não há saída nessa loucura urbana.
PS - O
ipê-amarelo, plantado num terreno que, até pouco,
era ponto de traficantes, vai muito bem e já mostrou
suas primeiras flores.
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