O
artista da violência
N o final da década de 60, Siron Franco, um anônimo
artista plástico, sobrevivia de bicos. Saiu de Goiânia
e veio morar nas proximidades da rua Maria Antônia.
Migrou para a cidade atraído pelo Masp. Imaginou que
uma cidade com um museu daqueles poderia ajudá-lo a
fazer carreira. "Foi um choque ver ao vivo pinturas que
só via em revistas." Seu programa predileto era
andar pelas ruas, seduzido pela diversidade cultural. "A
gente não sabia o que era japonês."
A pacata
Goiânia pareceu-lhe ainda mais pacata, quando se sentiu
sitiado. É que, de seu apartamento, assistiu à
guerra entre os estudantes da USP e os do Mackenzie - a batalha
foi um dos fatos que marcaram o período de regime militar.
Na semana passada, um trecho da rua Maria Antônia foi
fechado para dar espaço a uma exposição
sobre a importância daqueles poucos metros quadrados:
núcleo inicial da mais importante universidade brasileira,
ali se reuniam alguns dos mais influentes intelectuais do
país. O lugar ficou conhecido na história como
um dos cenários de resistência.
Passados
30 anos, Siron tornou-se um dos mais festejados artistas plásticos
brasileiros e a violência do regime militar virou passado,
mas as ruas em que ele andava com tranquilidade ficaram perigosas.
Neste ano, está transformando São Paulo numa
espécie de ateliê a céu aberto - está
fazendo um elo entre o passado da violência política
e o presente da violência urbana. "O inconformismo
com a opressão é um dos motores da minha arte."
Na reinauguração
do prédio em que operou o Dops, foi dele a principal
obra artística concebida para lembrar as vítimas
da repressão: um amontado de corpos de pano. Fez uma
intervenção no pátio do Carandiru com
as portas rabiscadas pelos presos, prepara agora uma escultura
para ser colocada na entrada e, com a participação
de crianças, vai decorar os muros da ex-prisão,
que deve vir a ser um centro da juventude.
Como retribuição
à cidade onde ganhou seus principais prêmios,
ele quer entregar-lhe um presente no Natal. Resolveu trabalhar
como tutor de jovens da periferia, grafiteiros e pichadores,
para produzir intervenções de impacto na cidade
e mostrar talentos clandestinos. "A feiura é também
uma violência."
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