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Dia 03.10.02

O artista da violência

N o final da década de 60, Siron Franco, um anônimo artista plástico, sobrevivia de bicos. Saiu de Goiânia e veio morar nas proximidades da rua Maria Antônia. Migrou para a cidade atraído pelo Masp. Imaginou que uma cidade com um museu daqueles poderia ajudá-lo a fazer carreira. "Foi um choque ver ao vivo pinturas que só via em revistas." Seu programa predileto era andar pelas ruas, seduzido pela diversidade cultural. "A gente não sabia o que era japonês."

A pacata Goiânia pareceu-lhe ainda mais pacata, quando se sentiu sitiado. É que, de seu apartamento, assistiu à guerra entre os estudantes da USP e os do Mackenzie - a batalha foi um dos fatos que marcaram o período de regime militar.
Na semana passada, um trecho da rua Maria Antônia foi fechado para dar espaço a uma exposição sobre a importância daqueles poucos metros quadrados: núcleo inicial da mais importante universidade brasileira, ali se reuniam alguns dos mais influentes intelectuais do país. O lugar ficou conhecido na história como um dos cenários de resistência.

Passados 30 anos, Siron tornou-se um dos mais festejados artistas plásticos brasileiros e a violência do regime militar virou passado, mas as ruas em que ele andava com tranquilidade ficaram perigosas. Neste ano, está transformando São Paulo numa espécie de ateliê a céu aberto - está fazendo um elo entre o passado da violência política e o presente da violência urbana. "O inconformismo com a opressão é um dos motores da minha arte."

Na reinauguração do prédio em que operou o Dops, foi dele a principal obra artística concebida para lembrar as vítimas da repressão: um amontado de corpos de pano. Fez uma intervenção no pátio do Carandiru com as portas rabiscadas pelos presos, prepara agora uma escultura para ser colocada na entrada e, com a participação de crianças, vai decorar os muros da ex-prisão, que deve vir a ser um centro da juventude.

Como retribuição à cidade onde ganhou seus principais prêmios, ele quer entregar-lhe um presente no Natal. Resolveu trabalhar como tutor de jovens da periferia, grafiteiros e pichadores, para produzir intervenções de impacto na cidade e mostrar talentos clandestinos. "A feiura é também uma violência."

 

 
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