Passado
presente do futuro
Está
prestes a ser lançada uma rádio de vanguarda
- comercialmente inviável - apenas para os frequentadores
da galeria Ouro Fino.
A rádio
faz parte de uma ofensiva de marketing para solidificar a
imagem daquele espaço, encravado na rua Augusta, como
um laboratório da moda underground - território
para um tipo de jovem que detesta grifes globalizadas e não
pode ver nem sentir o cheiro da praça de alimentação
de um shopping center. Planejam-se shows e desfiles semanais
para exibir tendências. "É a luta do velho
contra o novo", anuncia Beto Lago, presidente da Associação
de Lojistas da Galeria Ouro Fino.
Como a
matéria-prima desse laboratório é a noite
- o mundo das baladas -, a galeria Ouro Fino consegue ser
o único condomínio comercial da cidade que prospera
(e bem) com muitas de suas lojas fechadas de manhã.
O agito
revela um dos mais extraordinários casos de recuperação
urbana de São Paulo. A galeria Ouro Fino acompanhou
a decadência da Augusta e parecia condenada irremediavelmente
ao abandono. Atraída pelo baixo preço dos aluguéis,
Gilza Magaly inaugurou, em meados da década de 90,
um brechó chamado Passado Presente. "Ninguém
interessante passava mais por aqui", conta Gilza, que,
na adolescência, se deleitava com a sensualidade efervescente
que desfilava pela rua Augusta.
Gilza
abriu caminho para os expositores do Mercado Mundo Mix, à
procura de um ponto fixo para mostrar suas criações,
mas sem dinheiro. "Sair de uma feira para uma loja no
shopping seria suicídio", conta Beto Lago, um
dos idealizadores do Mundo Mix, que também levou seu
escritório para a galeria Ouro Fino.
Rumou
para lá o que a jornalista Erika Palomino, a melhor
antena do estilo alternativo, define como o núcleo
da inteligência underground da cidade, gente conectada,
em tempo real, com Londres e Nova York: empresários
de festas descoladas, um cabeleireiro clubber, lojas de piercing.
Virou ponto de encontro dos DJs que vasculham lojas de discos
de vinil.
O nome
da loja de Gilza acabou se transformando num vaticínio,
ela que só se lembrava de coisas interessantes no passado
- a efervescência dos bons tempos, pelo menos naquela
ilha de modernidade da Augusta, veio para o presente.
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