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Dia 07.03.01

Clube fechado

Destinada a registrar o cotidiano dos paulistanos, esta coluna escolheu-me hoje como seu personagem.

Por insistência de meus dois filhos - um de 13 anos, outro de 10 -, decidi entrar no Clube Alto dos Pinheiros. A pressão dos garotos fazia sentido: muitos de seus amigos, estudantes do Colégio Vera Cruz, frequentam o clube.

Logo fui informado de que, por não ser oficialmente casado, minha companheira e sua filha não poderiam ser minhas dependentes. Aceitei: não queria causar transtornos a meus filhos, que moram com a mãe. Em janeiro, fui informado pela secretaria de que minha proposta de admissão fora aprovada. No dia seguinte, as carteirinhas foram emitidas.

Candidatei-me a personagem desta coluna quando, segunda-feira passada, recebi carta dizendo que minha proposta fora rejeitada pela Comissão de Admissão, apesar de ter as carteirinhas. "O fundamento da rejeição da proposta não será comunicado ao interessado", avisava o documento.

O presidente do clube, Carlos Augusto Monteiro da Silva, que assinou a carta, disse-me, por telefone, que não daria nenhuma informação. "Só cumpri uma decisão" Procurei, então, o presidente da Comissão de Admissão, Paulo Teixeira, que, por intermédio de uma secretária, disse que não era obrigado a dar explicações. Mas entre a emissão das carteirinhas e o recebimento da carta de veto houve um fato.

No dia 4 de fevereiro, a Folha trouxe reportagem revelando a existência de áreas públicas cedidas gratuitamente pela prefeitura a entidades privadas e usufruídas pela elite. Entre elas, estava o Clube Alto dos Pinheiros. O ex-deputado Carlos Augusto Monteiro da Silva fora indicado na reportagem como responsável pelo favor obtido para concessão do terreno.

Ao investigar pelos bastidores as causas do veto, lançado por alguns membros da Comissão de Admissão, descobri um pouco mais sobre os modos de pensar e os valores de minha cidade: alguns sócios não gostaram de eu ter, na primeira proposta, apresentado como mulher uma companheira e viram nisso bom pretexto para descontar a irritação causada por uma reportagem.

Como já tinham a carteirinha, imaginavam-se sócios e adoram o clube, meus filhos estão se sentindo expulsos de lá. Até ontem, não tinha conseguido explicar-lhes essa trama social de uma cidade cujas principais marcas são, justamente, a exclusão e o preconceito.

 

 

 
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