"Escola
Cor"
Vitrine
dos mais badalados decoradores e passarela de socialites,
a "Casa Cor" está ganhando, em São
Paulo, uma versão estética dos excluídos
- a "Escola Cor".
Diretora
de uma escola técnica de desenho de arquitetura e decoração,
Elizabeth Rocha queria, havia tempos, tirar o aluno da sala
de aula para executar projetos, reforçar conhecimentos
teóricos com prática e, ainda por cima, melhorar
a comunidade.
A oportunidade
veio quando soube que, na escola pública que frequentou
em sua adolescência, na década de 60, estudantes
estavam colorindo o pátio, inspirados nas pinturas
de Tarsila do Amaral - vanguarda, em sua época, de
uma das mais profundas transgressões estéticas
da história da arte brasileira.
Curiosa
com a experiência de arte-educação, decidiu
dar uma espiada nos muros da Escola Estadual Godofredo Furtado,
em Pinheiros, de onde saiu para estudar arquitetura. Não
conseguiu limitar-se à espiada. Voltou no tempo e mesclou
a emoção do reencontro com a decepção
ante a decadência do espaço, contrastando com
suas lembranças. "Dói", resume.
Elizabeth
saiu dali e propôs a seus alunos que adotassem a escola
e, como na "Casa Cor", cada grupo teria de decorar
um ambiente, transformando salas de aula, biblioteca e laboratórios.
A intervenção deveria ser interativa: os "clientes"
(professores e alunos do Godofredo Furtado) serão convidados
a participar dos projetos, opinando sobre a decoração
mais conveniente. "As classes são decadentes,
e o aluno sente isso", diz o professor Ronaldo Dias,
responsável pelas aulas sobre Tarsila do Amaral, transpostas
para os muros.
A primeira
diferença entre a "Casa Cor" e a "Escola
Cor", além da óbvia distância econômica
entre as clientelas, é que a intervenção
experimental dos estudantes é para sempre, não
desaparece com o fim do evento.
Mais visível
é a diferença para tirar o projeto da prancheta.
Na "Casa Cor", dinheiro não é problema;
a exposição se presta ao marketing. Já
os estudantes vão sair à cata de empresários
dispostos a doar os móveis, caçando no entorno
da escola, onde está a maior concentração
de lojas de decoração na cidade de São
Paulo.
Difícil,
mas possível. Decoradores e arquitetos demonstraram
que esse tipo de proposta consegue sair do papel. Em Recife,
eles adotaram a Febem e conseguiram transformá-la num
prédio público modelar.
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