Cidade
de cão
Depois
de criar a grife Dasluteen, especializada em moda para adolescentes,
a Daslu, uma das lojas frequentadas pelas mulheres mais ricas
de São Paulo, resolveu investir nos animais e lançou
nesta semana a Daslulu. A grife Daslu vai agora em coleiras,
bandanas e até em roupas da coleção outono/inverno
para cachorros.
Nenhuma
cidade no Brasil oferece tantos produtos e serviços
tão refinados para seus animais -um mercado milionário.
Segundo registros da prefeitura, existe na cidade 1,2 milhão
de cães e 260 mil gatos. Os rastros desses animais
estão por todos os lados, sujando as calçadas
mesmo dos bairros mais finos, como Higienópolis, líder,
segundo a prefeitura, na exposição pública
de fezes caninas.
A clínica
veterinária Colibri oferece a seus clientes tratamentos
de medicina alternativa, como homeopatia e acupuntura. "A
procura aumenta sem parar", comemora a veterinária
Ana Regina Toro. Para se diferenciar no competitivo mercado,
a Pet Squeezen tem um serviço de hidromassagem com
sais minerais. Ali, um cachorro pode passar até horas
para melhorar a aparência, ganhando novas tinturas.
O biólogo
e criador de cachorros Ely Reibscheid tem um hotel para cães
nas proximidades de São Paulo, com todos os requintes
de uma casa de campo -são 13.000 m2 de área
verde para que fiquem soltos. Os bichanos recebem tratamento
VIP: banhos, piscina e tosa.
Tantos
cuidados veterinários fazem com que, a exemplo da população
humana, a expectativa de vida do animal paulistano também
aumente. Há duas décadas, a expectativa de vida
dos cães variava de oito a dez anos. Nos dias de hoje,
está em torno de 16 anos.
Já
existem rações específicas para animais
obesos, com diabetes, alergias e deficiências renais
ou cardíacas. Clínicas veterinárias usam
serviços de ultra-som para diagnósticos mais
precisos.
Na lógica
do apartheid social que marca o traçado urbano, delimitado
por níveis jamais experimentados de violência
e degradação, a grife canina converte-se em
notável símbolo de uma cidade que trata animal
como se fosse gente - e gente como se fosse animal. Talvez
se encontre nesse símbolo a explicação
para São Paulo estar tão selvagem.
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