Nova
York e Porto Alegre podem ajudar São Paulo
A cidade
de São Paulo sentiu ontem, mais uma vez, o gosto do
caos, ao registrar, às 10hs da manhã, congestionamento
de 110 Km _ só perde para 27 de janeiro, com 151 Km
de ruas entupidas.
Urbanistas apostam que, mais cedo ou mais tarde, a cidade
vai parar pelo simples e óbvio motivo de que o número
de carros cresce várias vezes mais rapidamente do que
a capacidade de se abrirem ou se alargarem ruas.
"Vai parar", afirma o urbanista Cândido Malta,
ex-secretário do Planejamento do Município de
São Paulo, ele próprio um exemplo de como se
dribla o rodízio. "Comprei um segundo carro",
afirma.
"Vai parar mais rápido do que se imagina",
alardeia Aylson Brasiliense, da Associação Nacional
dos Transportes Públicos.
O rodízio, segundo os urbanistas, vai perder, com o
tempo, efeito, e as obras do metrô são caras
e demoradas. A classe média, sustentam, jamais vai
deixar o carro na garagem para enfrentar um ônibus lotado.
Apesar da perspectiva do caos, nenhum dos candidatos à
Prefeitura de São Paulo teve ainda coragem de propor
uma solução antipática, mas capaz de
amenizar o inferno do trânsito: o pedágio eletrônico
nas regiões mais movimentadas.
"É uma solução dolorosa, mas inexorável",
afirma Roberto Scaringella, presidente do Instituto de Segurança
no Trânsito.
A idéia é espalhar pedágios eletrônicos
_ o motorista colocaria em seu carro uma tarja magnética.
Com os recursos arrecadados, sugere Candido Malta, o poder
público trataria de apressar as obras do metrô.
O pedágio já é usado, com sucesso, em
Nova York _ e, este semestre, vai ser aplicado em Londres.
Na Ásia, a experiência mais conhecida está
em Singapura, depois que o centro da área sofreu paralisia.
Nova York implantou o pedágio em túneis e avenidas
de grande circulação, arrecadando recursos para
obras dúvidas e, ao mesmo tempo, reduzir o fluxo. "Ajudou,
e muito", afirma o mais badalado urbanista brasileiro,
o governador do Paraná, Jaime Lerner, ex-prefeito de
Curitiba.
Não dá, porém, para comparar Nova York,
com suas linhas de metrô, com São Paulo _ onde,
no início do século, políticos e técnicos
se uniram contra a idéia de instalar o metrô
na cidade.
Quem aponta uma das saídas é Porto Alegre, uma
das cidades brasileiras que implantaram microônibus
de luxo, com capacidade de 21 passageiros, ar condicionado,
telefone celular e até seguro saúde.
Em caso de mal-estar de algum passageiro, o motorista aciona
sistema de resgate médico. Ninguém fica de pé.
São 403 veículos, que carregam, diariamente,
100 mil pessoas; segundo as pesquisas, 43 mil preferiam deixar
o carro em casa. Eles pagam uma tarifa 56% mais cara do que
a do ônibus regular.
"Se o indivíduo souber que vai ter conforto e
pontualidade, ele deixa o carro em casa. E se souber que,
além disso, não tem de pagar pedágio,
terá ainda mais estímulo", afirma Aylson,
da Associação Nacional de Transportes Públicos.
A solução, sugerem os urbanistas, é a
formação de linhas regulares dos ônibus
de luxo, entrando pelos bolsões onde moram as classes
média e alta _ e, quando possível, conectados
ao metrô. Seriam feitos, assim, corredores de um transporte
mais sofisticado.
"Mas se não houver pontualidade e conforto, podem
esquecer", alerta Jaime Lerner que, em Curitiba, criou
os corredores especiais para ônibus e sistemas de cobrança
da passagem em corredores na calçada, facilitando o
embarque.
Compreensível, porém, a falta de coragem dos
candidatos. Falar em pedágio, agora, é como
acenar com a punição _ sem a garantia de solução.
O problema é que, hoje, não há alternativa
com um mínimo efeito sem brigar com a classe média.
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