Poluição
invisível
Nem tudo
é visível na poluição visual.
Júlio Albiere é, há três anos,
presidente da Comissão de Proteção à
Paisagem Urbana, ligada à Secretaria da Habitação.
Árdua tarefa: cabe-lhe atacar a poluição
visual da cidade, caoticamente povoada por outdoors.
Também
é, há cinco anos, o presidente do Sindicato
das Empresas de Publicidade Exterior, representante dos exploradores
de outdoors, geradores de poluição visual.
Trabalha
há 20 anos na direção do Grupo Plamarc,
empresa licitada pela Prefeitura de São Paulo para
colocar placas de rua e comercializar espaço publicitário.
Assim, ele próprio ganha seu salário graças
ao direito de interferir na paisagem e, indiretamente, à
poluição visual.
"Qualquer
desconfiança é infundada. Não misturo
meus papéis", indigna-se Júlio, dizendo
não ver contradição em atuar simultaneamente
em três cargos que, inevitavelmente, se chocam. Ele
está há 15 anos na Comissão Municipal
de Proteção à Paisagem Urbana, da qual
é hoje o presidente.
Segundo
ele, o problema são os outdoors clandestinos; ao todo,
de acordo com sua contabilidade, 2000.
Para Júlio,
as administrações regionais não se incomodam
com as placas clandestinas por julgarem haver problemas mais
sérios para serem resolvidos.
Na opinião
da urbanista Regina Monteiro, do movimento Defenda São
Paulo, o desinteresse tem motivos mais palpáveis, além
da indiferença estética.
"Conivência",
acusa ela, e aponta um esquema de proteção às
placas de rua ilegais. Colocar ordem nas placas é uma
das promessas de Marta Suplicy. "Vou limpar a cidade",
garante.
Já
existe até um plano, elaborado por Jorge Wilheim, escolhido
secretário do Planejamento Urbano, disseminador da
idéia de que o cidadão tem direito à
paisagem.
Aplicado
o plano, a distância mínima entre cada placa
seria de oito metros, liberando as fachadas dos prédios
e das casas.
"
Com esse caos, os anúncios perdem eficácia",
afirma.
Combater
a feiúra urbana não é uma decisão
fácil. E não só causa da, digamos, poluição
invisível das administrações regionais.
Menos placas significam menos recursos nos cofres da prefeitura.
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