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Dia 13.12.00

Padre Marcelo, o sem-igreja

Padre Marcelo Rossi inaugurou esta semana a categoria dos sem-igreja.

Entristecido, ele rogou a Deus, durante a missa de despedida, domingo passado, que exercesse poderes de corretagem imobiliária e lhe conseguisse um novo teto para abrigar a multidão de fiéis.

"O problema é que a igreja transformou a vida de seus vizinhos num inferno", diz a urbanista Regina Monteiro, do movimento Defenda São Paulo, uma das pessoas que articulam o enquadramento do sacerdote na lei do silêncio.

Localizado em Interlagos, o Santuário do Terço Bizantino, cenário dos cultos aeróbicos do padre Marcelo, tirou o sossego da vizinhança, submetida na marra à cantoria. A falta de espaço empurra a multidão para fora do templo, atendida só pelos alto-falantes, e cria missas a céu aberto.

Foi tentado, inicialmente, um acordo amigável. Sem resultado. Inconformados, os moradores se organizaram, acionaram o Ministério Público e exigiram que os cultos se realizassem a portas fechadas.

A guerra contra os alto-falantes durou um ano. Na quinta-feira passada, a Justiça, pouco se importando com a notoriedade do padre Marcelo, determinou o fechamento das portas da igreja.

"Não posso fechar as portas e deixar o povo de fora", justifica o padre, instalado há três anos naquele galpão de 7.000 m2, insuficientes para abrigar seu sucesso. O culto de despedida, por exemplo, atraiu 80 mil fiéis, indiferentes à chuva - aquele povaréu lotaria o estádio do Morumbi.

O constrangimento imobiliário talvez não seja em vão. A decisão judicial, consequência de uma articulação comunitária, serve como mostra de civilidade urbana e estímulo para mais cidadãos fazerem valer a lei.

"Vamos empunhar o caso do padre Marcelo como um grande exemplo", orgulha-se Regina Monteiro.

Animadas com a decisão judicial, associações de bairros sentem-se fortalecidas para fazer cumprir a lei do silêncio, desrespeitada por bares, boates e templos evangélicos.

Apesar dos apelos às forças imobiliárias divinas e, no plano terreno, de contar com a ajuda de poderosos amigos, padre Marcelo sabe que não será fácil encontrar, em São Paulo, um templo capaz de abrigar dezenas de milhares de pessoas sem provocar barulho.


 

 
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