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Dia 14.03.01

Amor no Carandiru

Cenário de rebeliões e massacres, o Carandiru está produzindo uma das mais literárias histórias de amor da cidade de São Paulo. É tão literária que, em folhas dispersas, escritas a mão, vem se transformando em livro.

Condenado a 14 anos de prisão por assalto à mão armada, o rapper Cristian de Souza Augusto, conhecido como Afro-X, consome parte do tempo escrevendo sobre sua paixão pela cantora Simony, com quem vai ter um filho, já chamado de Ryan. Fez chegar a esta coluna alguns manuscritos.

Num trecho, relata a sensação de insignificância. "Duas pessoas, dois mundos diferentes. Eu, 157.858, apenas um número no sistema presidiário brasileiro. Ela, uma cantora e apresentadora renomada, a quem eu assistia e todos da minha geração também assistiram, um fenômeno chamado Balão Mágico."

Simony conheceu aquele "número" perdido no sistema presidiário quando, voltando para casa, sintonizou o rádio e encantou-se com a música de um conjunto de que nunca ouvira falar: 509-E. Decidiu esticar o caminho, parou numa loja de discos e comprou "Provérbios 13", no qual estava a música que a seduzira. "A partir daí, o destino uniu duas vidas distintas, o amor falou mais alto e superou todas as muralhas."

Foram paixão e gravidez instantâneas, na busca de um elo que se sobrepusesse à distância que os separava. "Dessa união gerou-se uma semente chamada Ryan para revolucionar os conceitos da sociedade. Nosso amor veio para revolucionar e quebrar todas as barreiras do preconceito, qualquer que seja ele: de preto para branca; de rico para pobre; do livre para o preso."

Numa folha, aparece uma frase de Simony sobre as chances de Afro-X de vencer os preconceitos: "Acredito cegamente que meu marido consiga se adaptar facilmente a todas e quaisquer regras impostas pelos ricos, porém duvido que um rico consiga se adaptar e conviver no Carandiru."

A história de Afro-X tem a chance de chegar a um final feliz. Famoso com o sucesso do 509-E e reconhecido pelo bom comportamento, o músico aguarda para em breve viver em regime semi-aberto. Começa, então, a preparar-se para a reintegração na sociedade que o transformou em assaltante de bancos. Atualmente, além de se exibir em apresentações musicais, ele faz palestras para jovens infratores, tentando afastá-los do mundo do crime.

 

 

 
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