Amor
no Carandiru
Cenário de rebeliões
e massacres, o Carandiru está produzindo uma das mais literárias
histórias de amor da cidade de São Paulo. É tão literária
que, em folhas dispersas, escritas a mão, vem se transformando em livro.
Condenado a 14 anos de prisão
por assalto à mão armada, o rapper Cristian de Souza Augusto, conhecido
como Afro-X, consome parte do tempo escrevendo sobre sua paixão pela cantora
Simony, com quem vai ter um filho, já chamado de Ryan. Fez chegar a esta
coluna alguns manuscritos.
Num trecho, relata a sensação
de insignificância. "Duas pessoas, dois mundos diferentes. Eu, 157.858,
apenas um número no sistema presidiário brasileiro. Ela, uma cantora
e apresentadora renomada, a quem eu assistia e todos da minha geração
também assistiram, um fenômeno chamado Balão Mágico."
Simony conheceu aquele "número"
perdido no sistema presidiário quando, voltando para casa, sintonizou o
rádio e encantou-se com a música de um conjunto de que nunca ouvira
falar: 509-E. Decidiu esticar o caminho, parou numa loja de discos e comprou "Provérbios
13", no qual estava a música que a seduzira. "A partir daí,
o destino uniu duas vidas distintas, o amor falou mais alto e superou todas as
muralhas."
Foram paixão e gravidez
instantâneas, na busca de um elo que se sobrepusesse à distância
que os separava. "Dessa união gerou-se uma semente chamada Ryan para
revolucionar os conceitos da sociedade. Nosso amor veio para revolucionar e quebrar
todas as barreiras do preconceito, qualquer que seja ele: de preto para branca;
de rico para pobre; do livre para o preso."
Numa folha, aparece uma
frase de Simony sobre as chances de Afro-X de vencer os preconceitos: "Acredito
cegamente que meu marido consiga se adaptar facilmente a todas e quaisquer regras
impostas pelos ricos, porém duvido que um rico consiga se adaptar e conviver
no Carandiru."
A história de Afro-X
tem a chance de chegar a um final feliz. Famoso com o sucesso do 509-E e reconhecido
pelo bom comportamento, o músico aguarda para em breve viver em regime
semi-aberto. Começa, então, a preparar-se para a reintegração
na sociedade que o transformou em assaltante de bancos. Atualmente, além
de se exibir em apresentações musicais, ele faz palestras para jovens
infratores, tentando afastá-los do mundo do crime.
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