Bairros
que nasceram de novo
Gilberto
Dimenstein
Inspirada
numa experiência de Cambridge, na Inglaterra, artistas
do charmoso bairro de Santa Tereza, no Rio, abrem à
visitação pública seu ateliês,
num evento batizado de "Porta Abertas".
A curiosidade atrai milhares de moradores do Rio e turistas,
dando ainda mais força ao plano de recuperação
de Santa Tereza, abatido em seu encanto pela guerra de gangues
que habitam as 14 favelas que cercam o bairro.
A mudança começou a ocorrer em 1995, quando
um grupo de moradores estabeleceu parcerias com o setor público.
Surgiu, assim, o Viva o Santa.
Desde então, os índices de criminalidade caíram.
Os investimentos foram dirigidos a projetos culturais, atendendo
ao perfil do bairro, e na recuperação dos imponentes
casarões do século XIX, graças, em parte,
aos incentivos fiscais concedidos pela prefeitura. Melhoraram
o transporte, os bondinhos, símbolos de Santa Tereza,
foram restaurados.
Para reduzir a sensação permanente de cerco,
o Viva o Santa realizou mutirões de limpeza nas favelas
e apoiou o fortalecimento da comunidade.
O bairro entrou no círculo virtuoso. Ao atrair mais
gente, chegaram mais lojas, restaurantes, centros culturais
_ artistas também voltaram.
É exatamente assim a história de sucesso de
projetos de recuperação de regiões deterioradas:
misturar lazer, arte, cultura, fazendo com que mais pessoas
frequentem o bairro. E, acima de tudo, queira morar ali.
É o que acontece em casos exitosos como recuperações
de áreas decadentes de Buenos Aires, Paris, Havana
e Nova York.
O exemplo mais divulgado, atualmente, é o de Times
Square, coração de Nova York, onde estão
os teatros da Broadway. Devido às drogas, prostituição,
criminalidade, as empresas foram saindo e, com elas, moradores
de maior poder aquisitivo.
Numa parceria com a prefeitura e empresários, comandados
pelo "The New York Times", que tem sua sede exatamente
naquela região, atacou-se o crime e empresas sólidas
decidiram apostar em Times Square _ entre elas, a Disney,
que, em 1998, inaugurou teatro numa das ruas de pior fama.
É onde está o problema do Pelourinho, em Salvador,
um dos patrimônios históricos mais conhecidos
do país. Houve um notável esforço de
recuperação dos casarões, além
de policiamento _ o que, evidentemente, atrai turistas.
Mas para garantir a sustentabilidade daquele espaço,
além dos turistas, é necessário atrair
pessoas de maior poder aquisitivo para morar ou trabalhar.
Atualmente, são oferecidos benefícios para artistas
montaram ateliês.
Mesmo assim, ainda é insuficiente e urbanistas propõem
que sejam atraídas faculdades e designadas casas para
repúblicas estudantis.
É o mesmo problema de outro importante projeto de recuperação
urbana: a Rua dos Judeus, também chamado de Bairro
do Recife. Prostíbulos e casarões abandonados
deram espaços a centros culturais, bares e restaurantes.
Nessa rua se criou a primeira sinagoga das América,
no período de dominação holandesa, agora
em fase de restauração.
Esses ingredientes estão contemplados num ambicioso
plano para recuperar o centro da cidade de São Paulo,
parte do programa de quase todos os candidatos.
A iniciativa é coordenada pelo Viva o Centro, uma entidade
privada. Idéias vão de transferência do
poder público para lá, a começar da sede
do governo estadual, a transformação dos cinemas
pornográficos em casas de shows, criação
de espaços culturais, a exemplo a sala Júlio
Prestes, destinada a concertos, e a reforma da Pinacoteca.
Está em andamento a instalação de uma
universidade de música na sede do antigo Deops.
Atrair universidades aos prédios abandonos garantiria
fluxo noturno e estimularia que pessoas voltassem a morar
no centro, onde existem apartamentos espaços e com
baixo preço.
Leia
mais:
- Centro
antigo de São Paulo pode virar pólo cultural
- Com parcerias prefeitura Recife realiza
programa de restauração
- Obras do Pelourinho, na Bahia, já
duram oito anos
- Santa Tereza ganha de volta o seu charme
- Candidatos
à prefeitura de São Paulo lançam propostas
de revitalização do centro
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Centro
antigo de São Paulo pode virar pólo cultural
Raquel
Souza
Equipe GD
O centro
antigo da cidade de São Paulo tem muitos problemas.
Os prédios históricos estão abandonados,
há um grande contingente de camelôs, uma grande
população de rua, e a cada dia que passa, é
mais difícil fazer com que empresas se instalem na
região. Entretanto, existe quem some esforços
e tente combater a degradação da área.
A organização não-governamental Viva
o Centro, por exemplo, há quase dez anos vem desenvolvido
um trabalho de revalorização do local.
A iniciativa
já rendeu bons frutos, uma delas é a recuperação
e adaptação do hall da Estação
Julio Prestes - que se tornou um grande centro de espetáculos.
A obra contou com a participação de bancos e
empresas associadas ao Viva o Centro, que atuou em parceria
com o governo do Estado. O Viva o Centro tem apoio do Instituto
de Arquitetos do Brasil (IAB) que conta com a consultoria
de especialistas no assunto.
Além
da recuperação de centros históricos
e de praças, o que se quer do centro da cidade é
um processo de restruturação urbana. Geoges
Wilheim, arquiteto e urbanista, conta que o centro da cidade
precisa ser um local que conte com uma ampla rede de serviços
e que possa ser uma boa opção de moradia. .
"À noite o centro da cidade tem um aspecto de
abandono", disse o arquiteto.
Durante
o dia, calcula-se que na área de 4,4 quilômetros
quadrados, formada pelos distritos da Sé e República,
circulam mais 2,8 milhões de pessoas diariamente -
dando ao local um aspecto de formigueiro humano. Mas menos
de 3% dessas pessoas permanecem no local, que possui apenas
70 mil moradores.
Segundo
ele, apesar da região central viver num verdadeiro
caos, com planejamento e um movimento de re-habitação,
a exemplo do que ocorreu em Buenos Aires, Havana e em algumas
regiões de Paris, ainda há chances para que
lugares como a República e a Sé sejam novamente
interessantes para residências. "O centro da cidade
tem um grande número de prédios abandonados
que podem ser boas opções de moradia. Algumas
regiões como a Praça da República, ao
seu redor, possui prédios cuja finalidade é
essa", disse o arquiteto.
Boas opções
de lazer ou cursos noturnos poderiam atrair principalmente
o público juvenil para o centro, acredita Wilheim.
A presença de escolas e faculdades na região
também atrairia o comércio de livros, a instalação
de cafés e bares - "o que daria um novo ar para
a vida noturna da região".
Ainda
há outra possibilidade para atrair a classe média
- a "cinelândia", que hoje mostra filmes que
qualidade duvidosa, mas poderia se transformar em um complexo
de mostras de cinemas e ponto de encontro para a juventude.
Junto com o projeto seria necessário a instalação
de estacionamentos.
Para diminuir
o aspecto "formigueiro humano" do período
diurno, Candido Malta, ex-secretário de Planejamento
do Município de São Paulo e professor da Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo da USP, acredita que é necessário
um remanejamento das linhas de ônibus. "Nem todo
mundo que vai ao centro da cidade efetivamente trabalha na
região. É grande o número de pessoas
que vão até lá só para fazer baldeações
para os seus locais de trabalho", contou.
(Colaborou
de J. Ribeiro)
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Com
parcerias prefeitura Recife realiza programa de restauração
Raquel
Souza
Equipe GD
Os casarões
e prédios históricos de Recife já estiveram
em ruínas. Outros foram ocupados indevidamente e se
tornaram zona de prostituição. Mas com um programa
de restauração do poder público, o apoio
da iniciativa privada e a cooperação da comunidade,
a aparência da capital pernambucana está mudando.
Em 1987,
após um planejamento prévio, a prefeitura começou
o projeto de recuperação, inicialmente no bairro
de Recife. Contando com prédios do século XVII,
o local histórico remete à ocupação
da capital de Pernambuco. "Os edifícios estavam
degradados, outros em ruínas. Os espaços estavam
sendo sub-utilizados", disse José Nilson de Andrade
Pereira, Secretario do Departamento de Preservação
dos Centros Históricos, órgão ligado
a Secretaria de Planejamento do município de Recife.
Entre
altos e baixos, há cinco anos atrás a iniciativa
da prefeitura passou a ser impulsionada pela ajuda da iniciativa
privada. "Hoje o incentivo financeiro das instituições
privadas devem ultrapassar os da prefeitura", afirmou
Pereira. A iniciativa privada, segundo Pereira o já
investiu mais de R$ 5 milhões. A região do bairro
de Recife foi dividido em pólos de recuperação.
Um deles, o Pólo de Alfândega, terá auxílio
do programa desenvolvido pelo governo federal e o Bid (Banco
Interamericano de Desenvolvimento) para recuperação
de monumentos e revitalização urbana.
Os prédios
foram reformados, alguns se tornaram bares e lanchonetes.
Outros viraram espaços culturais e ateliês de
artistas. Segundo o Secretário, os prédios receberam
cores fortes e vivas que mudaram o aspecto cinzento de anos
passados. "Os moradores perceberam a mudança e
agora ficam mais atentos à conservação
do local". Eles se preocupam até com a preservação
da fachada de suas casas.
O turismo
também foi impulsionado, além das praias, os
visitantes contam com dois centros culturais, no bairro do
Recife. "Nós temos mais turistas frequentando
nossos prédios históricos e tendo contato com
a cultura daqui", contou Pereira. Segundo ele, de alguma
forma, os investimentos pela restauração dos
prédios e conjuntos históricos urbanos retornaram
para o bolso da prefeitura e dos empresários.
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Obras
no Pelourinho, Salvador (BA), já duram oito anos
Raquel
Souza
Equipe GD
"À
medida que você caminhava pelo centro histórico
de Salvador se deparava com o abandono do poder público.
Eram ruínas, esgoto a céu-aberto, uma degradação
do ponto de vista econômico e social", disse Adriana
Castro, diretora do Instituto de Patrimônio Histórico
e Cultural da Bahia - um dos órgãos estaduais
responsáveis pela recuperação do Pelourinho,
em Salvador.
Segundo
ela, desde 1969 o Pelourinho tem sido objeto de intervenção
pelo poder público. Entretanto, somente em 1992 um
projeto de forma sistematizada foi desenvolvido e dividido
em fases de implantação. De lá para cá,
já foram investidos pelo governo do Estado da Bahia
mais de R$96 milhões.
Além
dos imóveis, foram feitos programas de revitalização
de praças, ampliação de estacionamento,
segurança específica para a região, telefones
públicos, entre outras coisas. "São investimentos
para melhorar a vida de todos os cidadãos soteropolitanos,
mas também para os turistas que a região recebe",
contou a diretora.
O projeto
já está em sua sétima fase. "Agora
serão recuperados 130 imóveis", afirmou
Valfredo Ribeiro, coordenador do projeto da sétima
etapa de recuperação do Pelourinho.
Este empreendimento
ainda depende do financiamento de U$8 milhões que o
Estado pretende angariar com o programa Monumenta Bid - uma
iniciativa do Ministério da Cultura e do Banco Interamericano
de Desenvolvimento que pretende investir U$62 milhões
na restauração de monumentos e sítios
históricos.
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Santa
Tereza ganha de volta o seu charme
Raquel
Souza
Equipe GD
Já
em sua oitava edição o evento Portas Abertas
faz com que as ruas do bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro,
fiquem movimentadas. Pessoas de toda a cidade e turistas vão
até lá visitar os ateliês dos artistas
locais, que por dois dias expõem seus trabalhos. A
iniciativa é inspirada numa experiência semelhante
da cidade de Cambridge, na Inglaterra.
Depois
de muitos anos de degradação, provocada por
conflitos entre as 14 favelas que os morros do bairro abrigam,
Santa Tereza voltou a ser um bairro requisitado por artistas,
atraindo curiosos por seus casarões do século
XIX.
A mudança
começou a ocorrer em 1995, quando um grupo de moradores
procurou a Secretaria de Segurança do Rio. Manifestos
foram lidos em praça pública, favelas receberam
mutirões de limpeza e foi criado o Viva Santa, hoje
uma ONG. Desde então os índices de violência
começaram a cair.
Em maio
de 1997 a badalação de quatro mil visitantes
e 75 artistas do Portas Abertas atraiu a atenção
da Secretaria Municipal de Cultura. Um bonde de carga virou
o Palco sobre Trilhos. O transporte melhorou, com novas linhas
de microônibus e a restauração dos bondinhos.
A revitalização cultural contribuiu para os
preços dos apartamentos subirem em até 50%.
Bares e restaurantes também se multiplicaram.
Fadado
ao esquecimento e a destruição, os antigos casarões
de Santa Teresa começam a ser reconstruídos.
O casarão da socialite Laurinda Santos Lobo, por exemplo,
foi reformado e se tornou um centro cultural - batizado como
Parque das Ruínas.
Um projeto
batizado de "As cores em Santa Teresa" recuperou
40 casas coloniais sob o patrocínio do Grupo Monteiro
Aranha e da Fundação Roberto Marinho. Para dar
continuidade e manter a preservação do espaço,
a prefeitura está oferecendo benefícios (como
isenção fiscal e predial) para moradores ou
empresas instalados no local que se comprometem em restaurar
ou preservar os antigos edifícios da região.
"É
uma contrapartida que o governo dá para as pessoas
que se comprometerem com a história de Santa Teresa",
afirmou Cláudio Antônio Lima Carlos, arquiteto
do Departamento Geral de Patrimônio Cultural.
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