Escola
da vida
Um grupo
de pais de classe média programou para hoje uma visita
inusual, possivelmente inédita, a uma favela: eles
vão conhecer as instalações onde seus
filhos, acostumados a todos os confortos domésticos,
vão morar por uma semana. "Alguns pais estão
inseguros, é natural que isso ocorra em tempos de tanta
violência", comenta a professora Fabiana Aparecida
Martins, que vai dormir na favela em companhia dos estudantes.
Fabiana,
porém, está tranquila. A experiência vai
ocorrer, na próxima semana, na favela Horizonte Azul,
localizada numa área de manancial próxima à
represa Guarapiranga, apaziguada por um contínuo trabalho
comunitário desenvolvido pela Associação
Monte Azul.
Com programas
educativos e de geração de renda, a Monte Azul
consegue reduzir os níveis de violência e, em
especial, de delinquência juvenil - daí ter-se
tornado referência mundial. Inicialmente bancados com
recursos da Alemanha, os projetos viraram tema de estudos
até para os policiais, intrigados com o fato de que,
nas áreas em que a associação atua, apesar
da pobreza comum da periferia, o crime organizado não
impera.
Morar
numa favela foi um dos meios que a Escola Waldorf de São
Paulo encontrou para levar seus alunos, geralmente protegidos
nos condomínios e distantes das ruas, a fazer uma imersão
na realidade brasileira. A proposta de residência faz
parte do curso de ética, um módulo que dura
um ano. "A idéia é fazer com que os jovens
se insiram no cotidiano das pessoas. Vão sentir - não
pelos livros, mas pela própria pele - o que é
conviver com os problemas de falta de saneamento básico,
lazer, saúde, educação", comenta
Fabiana.
A idéia
é que, durante o dia, os alunos realizem programas
de melhorias da favela (trabalhem na horta, por exemplo),
sirvam de monitores na escola pública e, à noite,
discutam com os jovens dali perspectivas de vida. Eles serão
convidados a perceber o ambiente degradado que leva à
marginalidade e como, naquele local, se consegue inverter
a tendência natural à violência.
Em apenas
uma semana, aqueles estudantes provavelmente vão aprender
o que, como se vê nestas eleições, muito
político ainda não aprendeu: a violência
é provocada não pela pobreza, mas pela sensação
de anonimato, de não se sentir parte de uma comunidade.
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