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Dia 11.04.01

Amores possíveis

Depois de suavizar a tensão da rotina administrativa da cidade com três taças de vinho e beliscar cubos de chocolate cobertos com caramelo, servidos de sobremesa, a prefeita Marta Suplicy permitiu-se pensar em voz alta: "O poder é um perigo para a alma".

Na condição de mulher e psicóloga que ocupa um dos cargos mais importantes do país, ela dizia estar consciente de que a luta política brutaliza as relações afetivas. Os poderosos são alvejados pelos adversários e bajulados pelos subalternos.

Respiram a lógica fria do poder, na qual sobressaem o cálculo e o interesse. "Difícil manter o afeto desinteressado", comentou, sabendo como é ainda mais complicado, nesse jogo, preservar a vida pessoal, muitas vezes reduzida a munição para tirar votos ou transformada em fonte de fofocas para a imprensa.

Poucos dias depois dessas reflexões, Marta e Eduardo, um dos casais mais charmosos da cidade de São Paulo, anunciaram o fim de um casamento de 36 anos. O impacto vai muito além das colunas sociais: ambos, por seu encanto e por sua credibilidade, acabaram tocados pelo sonho de chegar à Presidência da República.

Experientes analistas rapidamente decretaram o fim dos anseios presidenciais de Marta. Já seria um fato inusitado uma mulher no Palácio do Planalto, transpondo preconceitos machistas. Ainda mais surpreendente seria uma divorciada afrontar as tradições de uma nação católica.

A análise faz sentido. Ela pode perder politicamente, mas, a julgar pelas estatísticas paulistanas, ficou mais com a cara da cidade que governa. É cada vez maior o número de mulheres que avançam nos guetos masculinos -política, por exemplo-, conseguem sustentar-se por conta própria e assumem a chefia das famílias. Em São Paulo, a escolaridade das mulheres já supera a dos homens.

Ganham, na marra, os direitos, mas passam a viver os conflitos causados pelas dificuldades de combinar família com trabalho; realizam-se com os progressos profissionais, mas angustiam-se com as distâncias afetivas, principalmente em relação aos filhos. Graças à autonomia obtida no trabalho, não precisam submeter-se à supremacia dos maridos.

Marta torna-se espelho da crescente legião de mulheres independentes que, em nome do afeto, preferem a inconveniência da separação à conveniência forçada do matrimônio.


 

 
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