Dona
Flor e seus sete canteiros
Quando
era menina em Veneza, onde nasceu, Iolanda Zanotto aprendeu
a gostar de cultivar canteiros de flores nas ruas -eram especialmente
valorizados por causa da fugacidade das flores, submetidas
ao rigor das estações. Jovem, ela veio morar
em São Paulo. Está hoje com 74 anos e conseguiu
espalhar na sua vizinhança, no bairro de Pinheiros,
o costume de preservar canteiros públicos.
Inconformada
com o descaso pela cidade, tão disseminado em São
Paulo, ela declarou uma guerra solitária
contra os indivíduos que fazem das poucas áreas
verdes -a começar dos canteiros- banheiro para seus
cães. Não se amedronta e passa um pito no dono
do cachorro. "Já ouvi cada coisa. Certa vez uma
mulher me mandou voltar para a Itália."
Decidiu
criar e cuidar de sete canteiros no entorno do prédio
em que mora, na rua Simão Álvares, enchendo-os
de "marias-sem-vergonha" e de "boas-noites",
que produzem um visual multicolorido. "Amo esta terra.
Estou aqui há mais de 53 anos e me considero mais brasileira
do que italiana. Acho que posso contribuir com um pouco das
virtudes de um povo que dá valor para suas flores."
Ela vê, em relação à Itália,
vantagens em São Paulo. "O tempo frio é
curto, há tipos de planta que podem florescer durante
o ano inteiro."
Inspirados
no exemplo de Iolanda, moradores das redondezas -descrentes
no poder público- sentiram-se estimulados a fazer seus
próprios canteiros nas ruas. O porteiro de um prédio
fez uma "vaquinha" e, além de flores, plantou
árvores. "Na última viagem que fiz à
Itália, fiz questão de levar as fotos da rua
para que meus parentes vissem o progresso. Antes não
dava para mostrar, era tudo muito feio."
Entusiasmada
com as conquistas, Iolanda quer agora ensinar as pessoas a
criar canteiros, compartilhando conhecimentos que abrangem
desde a época certa para o plantio e as características
de cada planta até os lugares onde fazer as compras
por um preço melhor - da menina encantada com as flores
em Veneza, ela busca ser uma professora de jardinagem pública.
A guerra
contra os cães já não está tão
solitária. Surgiram recentemente associações
de rua em Pinheiros - nas ruas Mateus Grou, Joaquim Antunes
e Simão Álvares, por exemplo - que lançaram
campanhas pela civilidade dos proprietários de animais.
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