O
homem-morcego mora aqui
Os
distritos policiais de São Paulo inventaram o homem-morcego -espécime
capaz de dormir em pé, amarrada nas grades, devido à falta de espaço
na cela.
A técnica foi se
espalhando pelas delegacias, superlotadas de presos, a ponto de o secretário
da Segurança, Marco Vinício Petrellluzzi, afirmar que um campo de
concentração nazista seria para eles um "avanço".
O homem-morcego é
produto da improvisação acrescida ao descaso. Os distritos policiais
não foram imaginados para servir como cadeia, mas como centro de triagem.
No 3º distrito, região
da chamada cracolância, estão enjauladas 176 pessoas numa área
que daria, no máximo, para 60; alguns estão ali há mais de
um ano aguardando julgamento.
"Só posso dizer
que sinto vergonha", reconheceu ontem Petrelluzzi, ao visitar aquele distrito,
onde vivem homens-morcego.
O problema não é
só para os marginais, mas para toda a cidade, especialmente nas festas
de final de ano, quando aumenta o número de rebeliões.
Os policiais dizem abertamente
que não existe sistema adequado contra fugas.
Transformadas em rotina,
as fugas significam dinheiro desperdiçado da captura e uma política
de "enxuga-gelo" no combate à criminalidade; são este
ano 555 fugas, de janeiro até novembro.
O que separa o preso da
liberdade são, muitas vezes, apenas uma porta e uma parede, num convite
ao resgate.
A solução
seria ampliar os Centros de Detenção Provisória (CPD), dotados
de sistemas de segurança e desenvolvidos com a ajuda de movimentos de direitos
humanos.
Já existem cinco
deles construídos, com capacidade para abrigar 765 presos. Até hoje
não houve registro de fuga deles.
Para destruir a carceragem
dos distritos, seriam necessários, no mínimo, mais 10 CPDs, ao custo
de R$ 50 milhões. Não há, porém, previsão de
recursos nem no governo estadual nem no federal para esse tipo de obra.
Alguns desses centros já
começam a reproduzir o mesmo erro, graças à enxurrada de
capturas e da falta de celas: presos sentenciados continuam nos centros provisórios,
embora devessem ter sido encaminhados para uma penitenciária.
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