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Dia 10.08.00

Dinheiro encontrado no lixo

Organizados numa cooperativa em Curitiba, catadores de lixo livraram-se dos intermediários e conseguem ganhar por mês, em média, R$ 600,00 _ o salário inicial de uma professora de escola pública em São Paulo.

O negócio prosperou porque está em Curitiba, cidade conhecida dentro e fora do país pelo sucesso na reciclagem do lixo.

Num esforço de 10 anos, Curitiba tornou-se o município brasileiro campeão de reciclagem: 20% de todo o lixo, cerca de 450 toneladas por dia. Impressiona até mesmo para os padrões de países desenvolvidos.

Uma das chaves desse desempenho está na educação. O poder público conseguiu convencer a população da importância de reciclar o lixo e, depois, montar toda a operação para a coleta seletiva.

Lixo chegou a entrar no currículo escolar, conscientizando sobre questões ambientais desde cedo. A reciclagem é motivo para o estudo simultâneo e relacionado das matérias tradicionais como ciências, português e estudos sociais.

Exemplo: nas aulas de matemática, aprende-se sobre quilos ou toneladas, usando a coleta de lixo como referência. Ao saber que são coletadas 450 toneladas, o aluno é convidado a discutir o que significa essa quantidade em quilos.

A educação foi intensiva mesmo com os pais, que receberam cartilhas didáticas e acostumaram-se a separar os restos, combinando com o sistema de coleta da prefeitura; há dias diferentes para o recolhimento do lixo orgânico e reciclável.

Colocar o debate ambiental em sala de aula demora, mas funciona. Uma organização não-governamental (Ecoar) desenvolve, há quatro anos, um programa de educação ambiental numa escola pública em São Paulo.

Localizada no Jardim Tietê, zona Leste, a escola José Mauro de Vasconcelos usou como pretexto detonador da preocupação com o meio ambiente os dejetos jogados em suas proximidades.

"Aos poucos, todo o grupo docente encampou a idéia. O programa hoje é o sistema dorsal do nosso projeto pedagógico", diz Telma Luiza Bozzo, diretora da escola.

As crianças são orientadas para plantar e colher na horta, plantam árvores nas margens do rio, preservam uma praça perto da escola, reciclam latas e garrafas. Com o dinheiro, fazem cartões de Natal, presentes para o Dia das Mães e dos Pais. Conseguem bancar até, uma vez por ano, uma excursão.

Diante dos descalabrados em que se meteu São Paulo, experiências exitosas como a de escola José Mauro de Vasconcelos são apenas uma gota de limpeza no mar de lixo.

A cidade produz cerca de 15 mil toneladas de lixo diariamente; 95% são levados a dois aterros sanitários.

Estima-se que, em dois anos, a capacidade desses aterros estará esgotada. O que significa que São Paulo está montada numa bomba-relógio de lixo.

 

 
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Reportagens:

- Curitiba recicla 20% de todo o lixo produzido na cidade
- Educação ambiental muda aparência de escola infantil em SP
- Ainda há solução para o lixo de SP, conta ambientalista
- A civilidade vai limpando a sujeira dos cães
- A sujeira que resolve


Links:

- Fundação SOS Mata Atlântica
- Greenpeace
- Ecoar

(Pesquisa Raquel Souza)

 

 
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Curitiba recicla 20% de todo o lixo produzido na cidade

Raquel Souza
Equipe GD

Curitiba, Paraná, se destaca por ser uma das paisagens urbanas mais bonitas do Brasil, por oferecer uma grande concentração de parques e áreas verdes aos moradores e apresentar um moderno sistema de transporte coletivo. Mas há um outro elemento está colocando a cidade nos patamares das mais desenvolvidas do mundo: Curitiba é o município brasileiro que mais recicla lixo, com cerca de 20% de reaproveitamento. Só para se ter uma idéia, nas principais cidades da Alemanha, o país número um no ranking da reciclagem, o mesmo índice é de 35%.

Com o programa "Lixo que não é Lixo", a prefeitura da cidade vem obtendo sucesso na coleta de materiais recicláveis (papel, papelão, plástico, vidro e alumínio). Atualmente, são quase 450 toneladas diárias.

O programa foi criado, há 10 anos, com o objetivo de fazer de todas as residências mini-usinas caseira de reciclagem. "Fizemos um trabalho com professores das escolas municipais e o tema virou transversal nas escolas de séries iniciais. Os 400 mil moradores receberam cartilhas explicativas, já contendo as datas definitivas em que os caminhões de lixo passam nos bairros. Também foram feitas peças publicitárias para divulgação do programa", contou o Secretário Municipal de Meio Ambiente, Sérgio Tocchio.

O caminhão de lixo orgânico passa três vezes por semana nas ruas dos bairros da cidade e todos os dias no centro. Já o de material reciclado a coleta é feita uma vez por semana. "A dona-de-casa faz a primeira separação (orgânico/não orgânico) e os responsáveis pela coleta seletiva separam os diferentes materiais", explicou o Secretário.

Além das campanhas educativas, Tocchio lembra que o êxito do programa "Lixo que não é Lixo" está relacionado ao compromisso que o governo assumiu com a preservação ambiental. "A maior parte dos governos ao implementar um programa como esse pensa na relação custo/benefício. Ou seja, quanto é que eles vão ganhar com isso".

A princípio o programa pode parecer oneroso para o governo, mas não foi o que aconteceu em Curitiba. A reciclagem surtiu efeito nas economias do governo que deixou de gastar dinheiro com a instalação de novos aterros sanitários - com o programa foram ampliados em até quatro anos à vida útil dos já existentes. Além disso, Tocchio diz que começaram a surgir na cidade novos segmentos industriais que utilizavam matéria prima reciclada. Segundo dados da prefeitura, foram gerados, com a implantação do programa, 3.370 novos empregos.

Incentivou-se também a criação de uma cooperativa para os 2,5 mil trabalhadores que atualmente vivem da coleta de materiais reciclados em Curitiba. A "Recoopere" foi inaugurada em 1997, e acaba eliminando a figura do intermediário que baixava o preço do material reciclado em até 80%. Hoje os cooperados vendem diretamente aos depósitos de sucata ou a Recoopere e conseguem ganhar em média R$600 mensais.

Os curitibanos que não tinham um destino para dar ao lixo tóxico podem levar, desde 98, pilhas, baterias e remédios vencidos para os postos que são montados mensalmente nos terminais de ônibus da cidade.

A empreitada começou a ser estendida a outros municípios pelo governo estadual, que pretende atender 201 cidades do Paraná.

 

 
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Educação ambiental muda aparência de escola infantil em SP

Raquel Souza
Equipe GD

"É um trabalho lento, mas que dá resultados. Quando eu cheguei aqui, há quatro anos, essa escola era completamente depredada, pichada e suja. Hoje ela é uma belezinha", disse Telma Luiza Bozzo, diretora da EMEI (escola municipal de educação infantil) José Mauro de Vasconcelos, no Jardim Tietê, Zona Leste de São Paulo.

Desde 1997, diretora e equipe de professores vem trabalhando a consciência ambiental com mais de 600 alunos, entre cinco e sete anos de idade. Além de adquirir conhecimentos sobre preservação ambiental e reciclagem, as crianças contribuem para mudar a cara da escola.

Batizado de "Educação Ambiental, Horta e Qualidade de Vida", o programa surgiu a partir da discussão dos professores sobre a grande quantidade de lixo e dejetos que eram jogados em um rio, próximo da escola.

Com a ajuda da ONG Ecoar os professores criaram metodologias para trabalhar a questão ambiental com seus alunos. Aos poucos, todo o grupo docente encampou a idéia. "O programa hoje é o sistema dorsal do projeto pedagógico da escola", contou a diretora.

As crianças plantam e colhem na horta da escola, fazem reciclagem de papel, latas e garrafas plásticas. A idéia trouxe benefícios para a escola e a comunidade. Com o dinheiro da reciclagem de latinhas é possível promover a Semana da Criança, com atividades diversificadas, excursões e festa. A reciclagem de papelão e garrafas plásticas ajudam duas famílias da região. Cartões de Natal e presentes para o dia das mães e pais não dispensam o uso da matéria prima reciclada.

Com a participação da ONG foi possível oferecer oficinas para os pais e comunidade em geral sobre reciclagem na EMEI. No ano passado, por exemplo, uma entidade assistencial promoveu um curso de reaproveitamento de alimentos e preparo de massas coloridas utilizando sobras. Atualmente, uma das participantes ganha dinheiro vendendo essas massas.

Ainda nesse semestre as crianças irão confeccionar cartazes de alerta para a preservação do rio. Vão plantar árvores em sua margem e a equipe de professores pensa em adotar uma pracinha próxima da escola. "Acho que se a gente consegue despertar na criança o respeito com o meio ambiente, pelo menos uma coisa boa ela vai ter dentro de si", concluiu a diretora.

O trabalho da ONG Ecoar é feito em consórcio com o Código Consultoria e Planejamento, e ganhou uma concorrência pública junto à Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente do município de São Paulo para realizar um programa de educação ambiental nas zonas norte e leste da cidade.

Esse programa de educação ambiental foi financiado pela prefeitura por exigência do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), como parte da contrapartida para o financiamento das obras do PROCAV II (Programa de Canalização de Córregos, Implantação de Vias e Recuperação Ambiental e Social de Fundos de Vale).

 

 
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Ainda há solução para o lixo de SP, conta ambientalista

Raquel Souza
Equipe GD

Segundo estimativas, a cidade de São Paulo produz cerca de 15 mil toneladas de lixo diariamente, dessas 95% são levadas aos dois aterros sanitários existentes - que terão sua capacidade esgotada em no máximo dois anos. Para Décio Rodrigues, físico e coordenador de campanhas do Greenpeace (organização não governamental de preservação ambiental que atua no mundo inteiro) trata-se de uma verdadeira bomba relógio.

"Daqui a um ano e meio os caminhões de lixo não terão para onde ir. No momento de pânico, em que os dois aterros não comportarem mais nada, aparecerão diversos 'planos de gaveta' para novos aterros. A cidade vai virar um caos e a Setesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) vai ter que liberar concessão para novos aterros ou correr o risco de deixar São Paulo no meio de todo o lixo que produz", contou Rodrigues.

Segundo ele, o assunto na cidade não é recente. Há doze anos atrás, foi convocada uma reunião no município justamente para tratar do assunto. Diversos representantes de entidades não-governamentais e do governo participaram da discussão. Entretanto, o que se viu nos últimos anos são medidas paliativas de ampliação da sobrevida dos aterros, nada para conter a expansão do lixo ou efetivar planos de reciclagem, redução do desperdício e reutilização de material.

A ausência de discussão, na opinião do representante do Greenpeace, acaba dando oportunidade para que empresários que trabalham com a questão se apropriem de possíveis áreas de aterro para que no futuro possam vende-las a preços altíssimos à prefeitura.

"É inacreditável que nenhum candidato a prefeitura de São Paulo tenha se dado conta de que colocar o assunto em debate é de extrema importância. A ausência de um plano piloto sobre a questão só aponta o descaso com o assunto e o quanto as propostas deles referem-se a um mundo irreal", reclamou Rodrigues.

O físico aponta possíveis soluções e estratégias para a cidade lidar com o lixo que produz. Segundo ele, há uma fórmula que apontaria bons resultados a longo prazo: a ER3 - Eliminação do lixo tóxico, redução, reutilização e reciclagem de materiais.

Sobre a redução de lixo, por exemplo, Rodrigues conta que na Alemanha é bastante comum os cidadãos fazerem compras com bolsas de lona evitando a utilização de sacos plásticos, que são frágeis e descartáveis. A periferia de São Paulo também tem uma experiência positiva de reutilização de embalagens - é bastante comum a venda de produtos de limpeza a granel. "As grandes empresas também poderiam fazer o mesmo é uma questão de consciência", diz.

Por fim, o ambientalista alerta que para diminuir a produção de lixo em até 3 toneladas diárias é necessário um plano da prefeitura, mas que esse projeto depende também da participação de diversos atores - "é o coletivo de cidadãos de São Paulo que produz o lixo. Solucionar o problema depende de várias medidas e entre elas a educação", concluiu.

 

 
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A civilidade vai limpando a sujeira dos cães

Animal civilizado não deixa sujeira pela rua - e, pouco a pouco, os bípedes que dominam o Rio de Janeiro vão aprendendo a lição, até mesmo quando não são os autores da porcaria. Cresce nessa cidade o número de humanos que não deixam pelo caminho o que seus cachorros fazem de pior.

O cenário sempre impecável das manhãs e fins de tarde no calçadão e na Lagoa registra saudável mudança, nesses dias: donos de cães carregando sacos plásticos e equipamentos para recolher as fezes dos animais. Rotina nas metrópoles do mundo desenvolvido, a atitude vai tomando conta do Rio.

Torna-se menos freqüente aquele pisão desagradável, que faz o mais pacato cidadão xingar o mundo e as estrelas. Graças a humanos como a estudante Marcelle Alves Mattos, 19 anos, que todo dia leva os poodles Beethoven, de 7 anos, e Champ, de 2, para passear no calçadão da Praia do Leblon, bairro onde mora. Além de civilizada, ela é equipada. Leva os cachorros numa mão e, na outra, um saco e a armação plástica que é a última novidade no ramo. "Detesto pisar em porcaria, então não vou deixar o cocô dos meus cachorros para os outros limparem".

Marcelle leva Beethoven e Champ à rua três vezes por dia, e com tanto know-how também tem do que reclamar. Segundo ela, há um desequilíbrio na distribuição das lixeiras da Comlurb pelas ruas do Leblon. Um obstáculo à limpeza e ao bom senso. "Há ruas pequenas com até cinco lixeiras e outras maiores sem nenhuma", relata a estudante.

É verdade - mas os humanos mais selvagens que muitos quadrúpedes usam esta e outras desculpas para largar a sujeira no caminho. Gerente da Pet Fantasy, loja de animais no Leblon, Giselle Andrade conta que recolhe o que seus cachorros fazem, mas ainda se acha uma entre poucos. "Menos da metade dos donos de animais apanha o cocô", conta Giselle.

O advogado Cláudio Luiz Alves é da mesma tribo. Dono do labrador Maradona, ele costuma chamar a atenção dos que deixam o cocô pelo caminho. "O descaso é um absurdo" - revolta-se, lembrando a lista de selvagerias urbanas. "Essa gente também avança sinal e joga lixo na rua. E ficam impunes porque o Rio ainda não é Nova York. Lá, recolher as "obras" do próprio cachorro é obrigação prevista em lei. Quem for flagrado com o totó sem a pá e o saco plástico pode ser multado na hora. Assim, uma pessoa passeando com o cachorro sem nada nas mãos é vista como um ser de outro planeta. Ou de um balneário distante", lembra o advogado.

O site Viralata.org , feito por donos e criadores de cães, mantém a campanha nacional "Anti-cacas - se você catar não vai pisar". Na pagina da organização é possível fazer dowload de cartazes, banners e folhetos da campanha. Os interessados também encontrarão um manual de obrigação e cuidados destinado a donos de cães.

(As informações são do jornal O Globo)

 

 
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A sujeira que resolve

Na cidade do Rio de Janeiro, há ruas inteiras em que a produção aumenta quando o expediente acaba. O último turno do dia, quando os escritórios fecham, as portarias se trancam, os letreiros comerciais escurecem, os sinais de trânsito começam a falar sozinhos e os engravatados desertam, é dos catadores de papel. Eles pegam no batente depois das seis horas da tarde e param a madrugada no ermo das calçadas. Pelo uniforme de trabalho, parecem mendigos. Andam esmolambados, comem as sobras de restaurantes, usam as marquises como oficina, os meios-fios como banheiro e as mãos nuas como luvas impermeáveis, para enfiar até o cotovelo nas entranhas gosmentas dos sacos de lixo. Pelo esforço, parecem funcionários em dia de promoção.
Competem sem parar pelo melhor ponto na lixeira dos edifícios vazios. São sujos, mas fazem a parte mais complicada da limpeza urbana - a reciclagem.

Conhecem os bairros pelo que neles se bota fora. A Barra da Tijuca é farta em plástico de embalagem. Ipanema e Leblon, em frasco de vidro. Em toda a Zona Sul, boca rica é a lata de cerveja e refrigerante, usada na reciclagem do alumínio. Cada lata pesa cerca de 15 gramas. Sessenta e seis latas fazem um quilo. Um quilo vale R$1. No Centro, o forte é o papel, que pesa mais, mas paga menos. Cerca de 100 reais a tonelada. Quem consegue juntar 100 sacos de papel branco e seco, lixo de primeira, embolsa numa noite 50 reais.

"Mas o serviço é duro e tenso, a maioria não agüenta aquilo cinco vezes por semana. No máximo, quatro. Em geral, três. No fim, dá 30 reais por dia", esclarece José Ezequiel Soares, dono da Prainha Aparas, que há 13 anos compra o papel coletado pelos 18 papeleiros acampados na rua do Carmo.

Vende tudo para uma fábrica de papel higiênico em Cantagalo. José Ezequiel perseguiu um diploma de economista até o segundo ano da universidade. Calcula que "uns 90%" de seus fornecedores são analfabetos. Gente como Ricardo de Souza, 21 anos, que informa: "Isto aqui é massacre, ralação. Chega o fim de semana, vou direto para o baile funk". Um papeleiro
ganha entre 400 e 500 reais por mês. Como um gari da Comlurb, a estatal de limpeza urbana no município cujo concurso atraiu no ano passado mais de 48 mil candidatos. Sua bagunça funciona. Graças também à informalidade dos catadores de lixo, a Latasa, empresa multinacional, recicla alumínio no Brasil por 240 dólares a tonelada. Fora daqui, custa quase o quíntuplo.

Aliás, nesse ramo, o atraso acelerou a arrancada do país para a modernidade. O Brasil recicla 65% das latas e 50% do papel que consome. Uma percentagem superior à americana. "Todo mundo acha que reciclagem é uma atividade muito lucrativa que o governo desperdiça, botando fora seu rico lixo. Mas isso é um mito", diz Paulo Carvalho Filho, um engenheiro que há oito anos trocou as aulas na PUC pela presidência da Comlurb. Ele correu mundo atrás de exemplos para seguir no Rio de Janeiro. Na França, viu cidades onde o lixo sai das casas arrumado em sacos específicos para cada tipo de material e embarca em caminhões com escaninhos separados para os vidros, o papel, a lata e o plástico. Muito bonito, mas custa dez vezes mais que a coleta normal.

O modelo que vingou no Rio veio de Medellín, Colômbia. Baseia-se, lá como cá, na fartura de miseráveis dispostos a pôr literalmente a mão na massa. Organizados em cooperativas, eles melhoram. A Comlurb lhes dá prensas, luvas, banheiros, bebedouros, depósitos especialmente construídos em desvãos de viadutos, carrinhos de mão e luvas. E tira-lhes das costas os atravessadores. O primeiro contato com os papeleiros do Centro quase fez Paulo Carvalho desistir do projeto. Chamara-os para uma conversa diante de um prédio da Comlurb. Ao chegar, encontrou a calçada tomada por uma legião maltrapilha que empurrava carroças com roda de bilha e amarrava cachorros nos postes com barbante. "Achei que não haveria diálogo possível. Mas a turma sabia falar direitinho de seus problemas", conta ele. A prova do que diz pode ser procurada na rua do Carmo. Atende pelo nome de Sebastião Nascimento da Silva. Tem 35 anos e seis filhos. Desde os 15 separa papel para os compradores de aparas. Criou a família com o que acha no lixo,
inclusive um maço de dois mil reais que tirou uma noite do meio da porcaria.

É capaz de falar assim: "Nosso serviço não é valorizado, mas é importante. Senão, vai fazer celulose como? Derrubando árvore". Mas saber conversar não quer dizer que saibam conviver. As cooperativas de catadores tiveram que superar uma barragem de suspeitas. Exigia cadastrar trabalhadores recrutados entre viciados, ex-presidiários e outros casos de alergia crônica à
identificação oficial. Sair da informalidade implica dividir imediatamente o que ganha com o governo federal, dando 15% para o INSS. E é preciso adotar normas de comportamento coletivo numa atividade habitualmente regulada por ferozes disputas. No caso da Comlurb, essa adaptação foi entregue aos cuidados de Elinor Brito, que antes de ser o sociólogo da casa foi militante de partido esquerdista no regime militar. Disciplina é com ele mesmo.

Vinte cooperativas foram criadas no Rio de Janeiro, de Jacarepaguá a Bangu. Sobraram 16. Quatro fracassaram, ou por ficar muito longe dos pontos de coleta, desencorajando as adesões, ou perto demais de favelas, que acabaram levando os bebedouros, janelas basculantes, vasos sanitários e prensas.

A que funcionava junto a PUC, na Zona Sul, incomodou demais a grã-finagem da vizinhança. Em compensação, a Cooperativa da Vargem Pequena, Coopevap para os íntimos, é um sucesso. Garimpando o lixo da Barra da Tijuca e de Jacarepaguá, "comprou cinco caminhões de coleta", informa o diretor técnico da Comlurb José Bulus. Até agora, 1200 catadores de papel saíram da
clandestinidade. O engenheiro Paulo Carvalho acha que isso é pouco para uma cidade coalhada de pobres e desempregados. Uma vez por semana, ele sai de sua casa em Jacarepaguá com a mala do carro cheia de lixo. São maços de papel e papelão, sacos latas, vidros e plásticos. Diante da sede da Comlurb, na Tijuca, entrega tudo arrumado para um ex-mendigo que virou catador.
O presente não vale grande coisa num mercado que troca toneladas por capilés.

Mas ajuda a fixar a real cotação da sujeira carioca. Quem encontra um papeleiro mergulhado no lixo do Centro da cidade acha que viu exemplo de vocação para a imundície. Ledo engano. Porca a sociedade que durante o dia embaralha o lixo para ele separar durante a noite.

(As informações são do jornal Notícia e Opinião)


 

 
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