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Dia 22.11.01

Gabriel Monteiro ganha favela

Uma das ruas comerciais mais chiques de São Paulo, com lojas prontas a satisfazer os sonhos de consumo de ricos e famosos, a alameda Gabriel Monteiro da Silva virou na semana passada um caso de polícia. Policiais lançaram bombas de efeito moral para evitar uma ocupação irregular.

Showrooms do caos paulistano, as lojas foram construídas indiferentemente à proibição determinada pelas regras do zoneamento e lutam, até agora com sucesso, contra as investidas de fiscais, de promotores públicos e de entidades de defesa de São Paulo. Ninguém acredita que venham a ser despejadas.

Mas, na semana passada, um grupo de novos ocupantes da rua, também irregulares, teve um enfrentamento com a polícia, quando foram usadas bombas de efeito moral. Eles se instalaram num entroncamento da alameda Gabriel Monteiro da Silva com a avenida Brasil, mais exatamente na praça Edgar Thomaz de Carvalho.

Semelhantes aos requintados vizinhos na transgressão urbana, os alvos das bombas, 17 adolescentes, são diferentes no status social - sem ter onde morar, ergueram cinco barracas na praça, atraindo a ira dos comerciantes.

Desde os nove anos de idade na rua, S.V., hoje com 14, ganha a vida limpando pára-brisas na avenida Rebouças, o que lhe dá, por dia, cerca de R$ 15. Está feliz. "Agora tenho meu canto, com as minhas irmãs e o restante do pessoal que mora aqui."

Ela jamais pensaria em mobiliar a barraca com os móveis de design que fazem a fama dos vizinhos. Mas caprichou. Dorme numa cama de solteiro; os cachorros ficam num pequeno sofá protegido por uma colcha. Improvisou numa tábua uma penteadeira em que estão xampu, condicionador e leite de rosas. Ao lado, uma mesa coberta de brinquedos. Na única parede de concreto, uma corrente, fotos de ídolos e desenhos de sua autoria. "Sou uma dona-de-casa exemplar. Guardo todas as notas fiscais para que não me acusem de roubo", orgulha-se.

O impasse está criado. Os adolescentes não querem sair - só o farão se tiverem um teto. E os comerciantes, em nome da lei, pressionam prefeitura e polícia. Acusam a favela de comprometer as vendas e de afastar a sofisticada clientela. O poder público ainda não conseguiu oferecer nenhuma solução legal aos favelados -e, aliás, nem aos lojistas, que ainda estão fora da lei.

 

 
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