Gabriel
Monteiro ganha favela
Uma das
ruas comerciais mais chiques de São Paulo, com lojas
prontas a satisfazer os sonhos de consumo de ricos e famosos,
a alameda Gabriel Monteiro da Silva virou na semana passada
um caso de polícia. Policiais lançaram bombas
de efeito moral para evitar uma ocupação irregular.
Showrooms
do caos paulistano, as lojas foram construídas indiferentemente
à proibição determinada pelas regras
do zoneamento e lutam, até agora com sucesso, contra
as investidas de fiscais, de promotores públicos e
de entidades de defesa de São Paulo. Ninguém
acredita que venham a ser despejadas.
Mas, na
semana passada, um grupo de novos ocupantes da rua, também
irregulares, teve um enfrentamento com a polícia, quando
foram usadas bombas de efeito moral. Eles se instalaram num
entroncamento da alameda Gabriel Monteiro da Silva com a avenida
Brasil, mais exatamente na praça Edgar Thomaz de Carvalho.
Semelhantes
aos requintados vizinhos na transgressão urbana, os
alvos das bombas, 17 adolescentes, são diferentes no
status social - sem ter onde morar, ergueram cinco barracas
na praça, atraindo a ira dos comerciantes.
Desde
os nove anos de idade na rua, S.V., hoje com 14, ganha a vida
limpando pára-brisas na avenida Rebouças, o
que lhe dá, por dia, cerca de R$ 15. Está feliz.
"Agora tenho meu canto, com as minhas irmãs e
o restante do pessoal que mora aqui."
Ela jamais
pensaria em mobiliar a barraca com os móveis de design
que fazem a fama dos vizinhos. Mas caprichou. Dorme numa cama
de solteiro; os cachorros ficam num pequeno sofá protegido
por uma colcha. Improvisou numa tábua uma penteadeira
em que estão xampu, condicionador e leite de rosas.
Ao lado, uma mesa coberta de brinquedos. Na única parede
de concreto, uma corrente, fotos de ídolos e desenhos
de sua autoria. "Sou uma dona-de-casa exemplar. Guardo
todas as notas fiscais para que não me acusem de roubo",
orgulha-se.
O impasse
está criado. Os adolescentes não querem sair
- só o farão se tiverem um teto. E os comerciantes,
em nome da lei, pressionam prefeitura e polícia. Acusam
a favela de comprometer as vendas e de afastar a sofisticada
clientela. O poder público ainda não conseguiu
oferecer nenhuma solução legal aos favelados
-e, aliás, nem aos lojistas, que ainda estão
fora da lei.
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