Fora
dos trilhos
Num dos maiores negócios
imobiliários da história de São Paulo, o governo federal
está decidido a leiloar áreas em torno da linha de trem que corta
a cidade - os terrenos pertencem à Rede Ferroviária Federal S/A
(RFFSA).
Para reforçar o caixa,
o Ministério dos Transportes ameaça um dos projetos mais sonhados
por urbanistas para melhorar a qualidade de vida na cidade: repovoar a orla ferroviária.
Isso seria feito por meio de parceria entre os governos federal, estadual e municipal
e a iniciativa privada.
São 135 quilômetros
de trilhos, cruzando áreas abandonadas ou subvalorizadas da cidade, onde
no passado prosperaram indústrias. Galpões vazios apodrecem inúteis.
Ao redor das indústrias surgiram bairros populares, como Brás e
Mooca, que atraíram milhões de imigrantes e migrantes.
"Estamos diante de
uma loucura", afirmou ontem o secretário estadual dos Transportes
Metropolitanos, Cláudio de Senna Frederico, disposto a liderar uma campanha
para sensibilizar os paulistanos em geral e, em particular, os políticos
e governantes.
A loucura, na opinião
do secretário, é deixar de aproveitar as áreas que acompanham
o trilho -quase três vezes o tamanho de Santos - para construir casas, estabelecimentos
comerciais, escolas e parques, o que evitaria que a cidade se espraiasse ainda
mais e que a periferia se ampliasse.
A idéia é
internalizar o crescimento, aproveitando a infra-estrutura já construída
e beneficiada pela linha do trem a ser conectada com o metrô. "É
a grande chance de desenvolver um projeto viável, democratizando o espaço
da cidade", afirma a urbanista Raquel Rolnik.
Os urbanistas apostam na
reurbanização da orla como uma nova fronteira a ser desbravada -
um pálido sinal do que esse desbravamento significaria é visível
no Centro Empresarial da Água Branca, ao lado do trilho.
O governo federal está
empenhado em levantar recursos com os leilões, mas pouco ou nada interessado
em investir em projetos de revitalização urbana.
O governo estadual não
se articulou politicamente para pressionar o Ministério dos Transportes
e impedir os leilões e, enfim, a prefeitura de Marta Suplicy, metida no
atoleiro fiscal, ainda não está informada sobre as negociações
com a RFFSA. É um sonho urbano, por enquanto, fora dos trilhos.
|
|
|
Subir
|
|
|