Marketing
no parque
Dia ensolarado
no parque. A criança, suada, compra um sorvete, diverte-se
com as lambidas doces e geladas, colore os lábios e
os beiços; se o sorvete for de casquinha, as marcas
do prazer se estenderão fatalmente, para desgosto da
mãe, pela camiseta. Essas cenas, tão ingênuas
e rotineiras, escondem um segredo.
Nem a
criança nem seus pais imaginariam que os beiços
lambuzados pudessem denunciar um delito. De acordo com a lei,
aquele prazer infantil é proibido.
Ao buscar
mecanismos de parceria para atrair recursos da iniciativa
privada aos parques da cidade de São Paulo, a secretária
municipal do Meio Ambiente, Stela Goldenstein, estudou a legislação
e descobriu absurdos.
Ninguém
pode vender nada nos parques: nem sorvete, nem pipoca, nem
refrigerante. Quem vende está na ilegalidade. "É
uma enorme bobagem e, por isso, a lei não é
aplicada", diz Stela.
A legislação
dificulta, porém, o lançamento de um plano para
trazer aos parques recursos que garantam a sua preservação
e novos investimentos -recursos de que a prefeitura não
dispõe.
Numa espécie
de marketing ecológico, Stela está recebendo
propostas de patrocínio aos parques, um bom negócio
publicitário e, ao mesmo tempo, uma fonte de recursos
para a cidade.
Grandes
empresas já demonstraram interesse em bancar os custos
de parques como o Ibirapuera, desde que possam divulgar suas
marcas: a publicidade atingiria, em cheio, uma classe média
com bom poder aquisitivo. Tamanha é a disposição
de patrocínio que nasceu a idéia de realizar
uma licitação e, entre os participantes dela,
escolher o que der mais dinheiro. "Gostaríamos
que as empresas tivessem até a chance de manter um
show room dentro do parque", afirma a secretária.
Mas a
legislação é restritiva. Proíbe
atividades comerciais e limita a exposição das
marcas das empresas patrocinadoras. Para superar essas restrições,
a secretária do Meio Ambiente quer aprovar na Câmara
Municipal novas leis para os parques.
Na lógica
da exclusão urbana, é fácil patrocinar
um Ibirapuera ou um parque do Morumbi -bem mais complicado,
porém, é levar dinheiro para as áreas
verdes da periferia, frequentadas por pessoas mais pobres.
A solução
é definir obrigações: quem ganhasse o
Ibirapuera teria de adotar parques na periferia.
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