O
palácio de Genoíno
Quando
vivia na clandestinidade, o cearense José Genoíno
saía de manhã das pensões em que morava
em São Paulo e ía ao centro da cidade, onde
fazia reuniões políticas nos mais diversos locais,
para despistar a polícia - aquelas caminhadas produziram
um caso de amor com a cidade.
Para passar
o tempo entre as reuniões, vasculhava os sebos à
procura de raridades literárias, lia jornais sentado
em bancos de praça e assistia a filmes nos cinemas
antigos, atualmente abandonados ou transformados em "pulgueiros".
Tinha
o hábito de levar sanduíches de queijo com mortadela
às sessões de cinema. "Viver em São
Paulo era passear a pé", lembra-se.
Acabou
preso bem longe daquele cenário, quando fazia guerrilha
na região do Araguaia. Depois de solto, deu aulas de
história no Colégio Equipe, referência
na época de ensino alternativo, localizado então
na rua Martiniano de Carvalho; o espaço, tão
vivo culturalmente no passado, é hoje um desolador
estacionamento onde se vê o resto de uma floresta isolada
por grades, nas proximidades da rua Augusta. Dali, o professor
manteve o hábito de fazer os trajetos dos tempos da
clandestinidade, absorto entre os livros dos sebos e os personagens
das praças, agora sem sentir-se perseguido.
Candidato
do PT ao governo estadual, ele se compromete, no programa
de governo, a voltar a fazer das paisagens do passado seu
reduto e um jeito de ajudar a cidade que o acolheu. Se eleito,
garante despachar na atual sede da Secretaria Estadual da
Educação, ex-colégio Caetano de Campos,
na praça da República. "Prefiro governar
no meio do povo a governar isolado no Morumbi", promete.
Voltar
para aquela área era o projeto de Mário Covas,
depois engavetado - pelo menos temporariamente - pelo seu
substituto, Geraldo Alckmin. Covas pretendia ir para o prédio
do Banespa, no viaduto do Chá; Marta Suplicy saiu na
frente e abocanhou o prédio para a sede da prefeitura.
O compromisso
de Alckmin é, se eleito, mudar a maioria das repartições
públicas para o centro, até por uma economia
de recursos. "Ainda tenho a intenção de
mudar o palácio, mas dependo da verba", diz.
Mudar
para o centro não vai custar nada para outro personagem
da política brasileira, ocupante do principal palácio
brasileiro: um grupo de empresários prepara doação
de um imponente imóvel, com vista para o Anhangabaú,
para Fernando Henrique Cardoso usá-lo como escritório
e organizar seu acervo.
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