Um
spray na mão e uma idéia na cabeça
Gilberto
Dimenstein
Ícaro
Vitola tem 20 anos, mora em Santo André, região
metropolitana de São Paulo, e sua paixão é
grafitar muros com um grupo de amigos.
A paixão
transformou-o em professor de grafitagem e exemplo bem-sucedido
de como enfrentar a praga da pichação, epidemia
urbana, sintoma de deterioração.
Apoiado
pelo poder público, Ícaro faz parte da rede
de grafiteiros de Santo André que embeleza os muros
abandonados da cidade e tenta, por meio de oficinas, converter
os pichadores.
Munidos
de um spray na mão e de uma idéia na cabeça,
eles chegaram a lançar um dia especialmente para a
grafitagem: saem todos, naquele dia, transformando espaços
públicos em telas, do posto de saúde às
escolas.
A experiência
reduziu a poluição visual de Santo André,
baseada num princípio testado e aprovado em outras
cidades: a pichação não significa a vontade
de destruir, sujar o espaço, mas de intervir, de ser
reconhecido, de se identificar numa sociedade que só
oferece anonimato aos marginalizados.
Quando
essa possibilidade é oferecida por meio de grafitagem,
o adolescente sente-se recompensado porque deixou sua marca
e produziu algo digno de ser admirado.
Em Nova
York, artistas plásticas convidavam pichadores a sair
de madrugada, justamente o horário em que atacavam.
Aproveitavam
aqueles passeios para ensinar-lhes desenho, pintura, combinação
de cores.
Daqueles
encontros, viram a transformação de pichadores
em grafiteiros, alguns deles talentosos, que passaram a ganhar
a vida com arte.
O projeto
de Nova York foi aplicado, nos mesmos moldes, em Ceilândia,
na periferia de Brasília, num programa batizado de
"Picasso não pichava".
Das 22h
até as 2h, os pichadores, orientados por monitores,
trocaram os garranchos pelos desenhos - o que os ajudou, depois,
a progredir na escola, ajudados por psicólogos e educadores.
Apesar
do pouco tempo, essa idéia mostra bons resultados na
cidade de São Paulo, que, em várias regiões,
está tomada pelos garranchos. A começar pelos
monumentos históricos.
Nada revela
mais a sensação de abandono em São Paulo
do que as pichações.
A Secretaria Estadual da Cultura e o Patrimônio Histórico
do Município identificaram e atraíram as gangues
de pichadores - eles têm pontos de encontros no centro
da cidade.
Ex-pichador,
Oswaldo Junior, Juneca, dá aulas em oficinas que estão
recebendo 200 alunos. Ali, eles aprendem, além da grafitagem,
a respeitar monumentos históricos.
"Podem apostar que, atrás de um pichador, você
encontra o artista", afirma Juneca, que, por oito anos,
ganhou respeito entre as gangues pelas ousadas pichações.
Numa tentativa
de mostrar que existe poder público em São Paulo,
Celso Pitta chegou a anunciar que iria prender os pichadores,
classificando o delito de crime organizado, e multar os donos
de lojas e casas que não as repintassem; diante da
reação ao absurdo, voltou atrás.
O que
acontece em Nova York, São Paulo, Santo André
e Brasília, entre muitas outras cidades, ensina que
a prevenção é melhor do que a repressão
- e prevenção significa educação.
No caso,
a educação pela arte.
.
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(Pesquisa:
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