Conversa
de bar em bar
Na percepção
dos jovens paulistanos, fumar maconha já não
é crime - pelo menos num território da cidade:
as ruas da Vila Madalena, o bairro dos artistas e boêmios,
localizado estrategicamente entre as duas principais universidades
da cidade, a PUC e a USP.
O traçado
aparece numa pesquisa feita pela antropóloga Rachel
Trajber, que, durante três meses, se embrenhou pelos
bares para tentar entender a percepção dos jovens
sobre as drogas, em especial a maconha.
Assessorada
por dois antropólogos - Gabriel Barbosa e Silvana Nascimento
-, ela percebeu a existência de uma divisão espacial
que separa diferentes "tribos", marcadas por diferentes
gostos musicais, jeitos de vestir, de falar. E até
de usar drogas.
Nas conversas
de bar em bar, os jovens apontaram a Vila como um território
livre dos apreciadores de maconha. Suas falas, colhidas em
longas conversas descontraídas e devidamente gravadas,
revelam como a apresentadora Soninha sintetiza as visões
daquela "tribo". "Eles são preocupados
com a saúde e temem qualquer droga que produza dependência",
conta Rachel.
Não
se identificam com os consumidores de cocaína e consideram
o cigarro muito pior para a saúde do que a maconha.
Dependência, seja qual for, aparece nas conversas como
"dançar" na vida. Eventualmente, podem até
usar ecstasy em alguma "rave", beber um pouco mais
da conta ou, numa festa, testar cocaína. Mas vêem
os ingredientes químicos como nocivos, germes da dependência.
Um dos entrevistados disse: "Maconha não é
droga, é erva. Droga é cocaína".
"Como
nos rituais de iniciação, a convivência
desses jovens nos bares oferece a possibilidade da vida em
comum, que subverte as regras do cotidiano. Abre-se espaço
às experiências transcendentes", afirma
Rachel.
Das suas
incursões pelas noites da Vila, os antropólogos
saíram convencidos de que as campanhas de prevenção
à dependência são feitas por adultos que
nem de longe percebem os códigos dos jovens.
PS - Como
essa pesquisa é um dos trabalhos mais interessantes
que já li sobre jovens e drogas no Brasil, coloquei-a
na íntegra na página do Aprendiz:
É leitura obrigatória para pais, educadores
e profissionais de saúde.
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