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Dia 29.11.01

Conversa de bar em bar

Na percepção dos jovens paulistanos, fumar maconha já não é crime - pelo menos num território da cidade: as ruas da Vila Madalena, o bairro dos artistas e boêmios, localizado estrategicamente entre as duas principais universidades da cidade, a PUC e a USP.

O traçado aparece numa pesquisa feita pela antropóloga Rachel Trajber, que, durante três meses, se embrenhou pelos bares para tentar entender a percepção dos jovens sobre as drogas, em especial a maconha.

Assessorada por dois antropólogos - Gabriel Barbosa e Silvana Nascimento -, ela percebeu a existência de uma divisão espacial que separa diferentes "tribos", marcadas por diferentes gostos musicais, jeitos de vestir, de falar. E até de usar drogas.

Nas conversas de bar em bar, os jovens apontaram a Vila como um território livre dos apreciadores de maconha. Suas falas, colhidas em longas conversas descontraídas e devidamente gravadas, revelam como a apresentadora Soninha sintetiza as visões daquela "tribo". "Eles são preocupados com a saúde e temem qualquer droga que produza dependência", conta Rachel.

Não se identificam com os consumidores de cocaína e consideram o cigarro muito pior para a saúde do que a maconha. Dependência, seja qual for, aparece nas conversas como "dançar" na vida. Eventualmente, podem até usar ecstasy em alguma "rave", beber um pouco mais da conta ou, numa festa, testar cocaína. Mas vêem os ingredientes químicos como nocivos, germes da dependência. Um dos entrevistados disse: "Maconha não é droga, é erva. Droga é cocaína".

"Como nos rituais de iniciação, a convivência desses jovens nos bares oferece a possibilidade da vida em comum, que subverte as regras do cotidiano. Abre-se espaço às experiências transcendentes", afirma Rachel.

Das suas incursões pelas noites da Vila, os antropólogos saíram convencidos de que as campanhas de prevenção à dependência são feitas por adultos que nem de longe percebem os códigos dos jovens.

PS - Como essa pesquisa é um dos trabalhos mais interessantes que já li sobre jovens e drogas no Brasil, coloquei-a na íntegra na página do Aprendiz: É leitura obrigatória para pais, educadores e profissionais de saúde.

 

 
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