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Dia 31.01.01

Cidade deficiente

Designado por Marta Suplicy para melhorar a paisagem da cidade, Maurício Faria descobriu pela pior maneira possível como é difícil a vida urbana de quem depende de uma cadeira de rodas.

"Só sentindo mesmo na pele para entender o suplício e a discriminação", comenta Faria, novo presidente da Emurb (Empresa Municipal de Urbanismo), forçado a locomover-se numa cadeira de rodas. Em 27 de agosto do ano passado, ele dormiu na direção do automóvel, acidentou-se e quebrou o fêmur. Submetido a tratamento, imaginou que não tardaria a voltar a andar.

Não foi o que aconteceu. Viu-se obrigado a abandonar sua terapia preferida: passear a pé. Quando era vereador na Câmara Municipal de São Paulo e batia a ansiedade, embrenhava-se pelas ruas do centro, para desanuviar o espírito e recuperar o equilíbrio psicológico. "Conhecemos de verdade uma cidade quando a vivenciamos a pé".

Para chegar à sede da Emurb, no edifício Martinelli, primeiro arranha-céu de São Paulo, pede ajuda; muitas vezes é carregado.

Ao aventurar-se sozinho no centro, descobriu que havia no chão um sistema de ventilação em formato de grelha. Quase uma armadilha que, por pouco, não prendeu as rodas de sua cadeira, deixado-o imobilizado na rua.

Percebeu o que significam as calçadas curtas, irregulares, esburacadas e sem rebaixamento. Vivenciou a dificuldade de entrar em prédios, teatros, cinemas, lojas e restaurantes.

"Fui ao cinema e me certifiquei se havia acesso especial. Havia um elevador. Só que, depois do filme, o equipamento estava quebrado. Tive de sair carregado. Hoje, vivo apenas em espaços fechados. Nem mesmo os parques estão dotados de recursos para os portadores de deficiência."

O aprendizado transformou-o num militante a favor dos portadores de deficiência. Com uma diferença: poder de influir nas decisões urbanas.

Como presidente da Emurb, ele decidiu articular um lobby nas várias esferas da prefeitura para obrigar a garantia de acesso especial - a começar dos parques e áreas públicas. "Vou ordenar, vigiar e cobrar", diz, ainda sem saber quando vai conseguir voltar a andar sem ajuda.

 

 

 
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