Cidade
deficiente
Designado por Marta Suplicy
para melhorar a paisagem da cidade, Maurício Faria descobriu pela pior
maneira possível como é difícil a vida urbana de quem depende
de uma cadeira de rodas.
"Só sentindo
mesmo na pele para entender o suplício e a discriminação",
comenta Faria, novo presidente da Emurb (Empresa Municipal de Urbanismo), forçado
a locomover-se numa cadeira de rodas. Em 27 de agosto do ano passado, ele dormiu
na direção do automóvel, acidentou-se e quebrou o fêmur.
Submetido a tratamento, imaginou que não tardaria a voltar a andar.
Não foi o que aconteceu.
Viu-se obrigado a abandonar sua terapia preferida: passear a pé. Quando
era vereador na Câmara Municipal de São Paulo e batia a ansiedade,
embrenhava-se pelas ruas do centro, para desanuviar o espírito e recuperar
o equilíbrio psicológico. "Conhecemos de verdade uma cidade
quando a vivenciamos a pé".
Para chegar à sede
da Emurb, no edifício Martinelli, primeiro arranha-céu de São
Paulo, pede ajuda; muitas vezes é carregado.
Ao aventurar-se sozinho
no centro, descobriu que havia no chão um sistema de ventilação
em formato de grelha. Quase uma armadilha que, por pouco, não prendeu as
rodas de sua cadeira, deixado-o imobilizado na rua.
Percebeu o que significam
as calçadas curtas, irregulares, esburacadas e sem rebaixamento. Vivenciou
a dificuldade de entrar em prédios, teatros, cinemas, lojas e restaurantes.
"Fui ao cinema e me
certifiquei se havia acesso especial. Havia um elevador. Só que, depois
do filme, o equipamento estava quebrado. Tive de sair carregado. Hoje, vivo apenas
em espaços fechados. Nem mesmo os parques estão dotados de recursos
para os portadores de deficiência."
O aprendizado transformou-o
num militante a favor dos portadores de deficiência. Com uma diferença:
poder de influir nas decisões urbanas.
Como presidente da Emurb,
ele decidiu articular um lobby nas várias esferas da prefeitura para obrigar
a garantia de acesso especial - a começar dos parques e áreas públicas.
"Vou ordenar, vigiar e cobrar", diz, ainda sem saber quando vai conseguir
voltar a andar sem ajuda.
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