Escolas
descobrem professores na rua
Gilberto
Dimenstein
Cidade
Líder é um bairro na Zona Leste de São
Paulo onde fadas ajudam a educar crianças de escola
municipal Prof. Luiz Pereira.
A biblioteca daquela escola foi abastecida com livros sobre
fadas, utilizados para desenvolver linguagem, imaginação,
trabalhando ao mesmo tempo problemas éticos e emocionais.
Com poucos recursos à sua disposição,
sem tradição de leitura na família e
desabituados a frequentar bibliotecas, os alunos se encantaram
com aquele jeito de aprender _ e, na média, melhoraram
seu desempenho escolar.
As fadas entraram ali porque a direção da escola
abriu-se à comunidade, permitindo que um grupo de educadores,
treinados na leitura de estórias e patrocinados com
recursos privados, ganhasse espaço e tempo para desenvolver
o projeto.
O melhor desempenho escolar, graças a essa intervenção
comunitária, não é novidade. Buscar auxílio
nos talentos da comunidade faz parte do manual sobre como
se consegue uma boa escola pública.
O Censo Escolar divulgado esta semana mostrou, mais uma vez,
que o Brasil vem conseguindo aumentar as matrículas.
É consenso, porém, a qualidade ruim do ensino;
o despreparo dos professores, infra-estrutura indigente das
escolas, currículos distantes da realidade. Para piorar,
poucos recursos.
Mesmo nas nações mais ricas, escolas públicas
saem à caça do apoio externo para aprimorar
a qualidade do ensino. Nos Estados Unidos, essa idéia
chegou ao seu ponto máximo, com a criação
das chamadas "charters schools". Charter tem, aqui,
o sentido de compromisso.
As melhores escolas públicas americanas são
aquelas que conseguiram fazer as melhores parcerias com a
comunidade _ o que vai dos pais e empresas, passando por museus,
teatros, cinemas, centros de pesquisa, até as faculdades,
para treinamento de professores e desenvolvimento de currículo.
Nas "charters schools", os prefeitos entregam, em
regime de concessão, a administração
da escola a grupos comunitários, com ampla autonomia.
Depois de cinco anos, é feito um teste para medir o
aprendizado.
No Brasil, há pelo menos uma experiência que
se aproxima desse modelo. Em Salvador, a Prefeitura entregou
a gestão de uma escola ao Projeto Axé. O currículo
é baseado em arte e cultura, especialmente com as referências
baianas: Jorge Amado, Caetano Veloso, Gilberto Gil, João
Ubaldo Ribeiro.
A Prefeitura de Salvador tem um fórum especialmente
dedicado para aglutinar as entidades que desejem colaborar
com a educação pública, desenvolvendo
projetos.
O que se vê, no geral, é a chegada de educadores
motivados, dispostos a gerar inovações, sem
a modorra do funcionalismo estatal _ e, mais importante, capazes
de influenciar a rede pública.
À beira do Rio Solimões, na Amazônia,
mora o povo indígena Ticuna. Eles frequentam uma escola
com 750 crianças. Uma parceria assegurou aos indígenas
preservar suas tradições com suas músicas
e lendas.
Seria praticamente impossível ao poder público,
já com dificuldades no ensino de matemática
ou português, enveredar na aplicação da
música e lendas indígenas em sala de aula.
Existem dados disponíveis para medir cientificamente
o impacto da ajuda comunitária. Patrocinado pela Câmara
Americana do Comércio, o Instituto da Qualidade de
Ensino atua em escolas de São Paulo, Campinas e Recife.
Sua missão: treinar o professor, ajudá-lo a
lidar com o aluno.
O núcleo piloto, iniciado em 1994, é formado
por três escolas da periferia da cidade de São
Paulo. Foi feito um teste na primeira turma de alunos, cujos
professores passaram a receber orientação do
Instituto de Qualidade de Ensino: 26% conseguiram a nota 7
em português, 10% a mesma nota em matemática.
Atualmente, 67% conseguem 7 em português; 31% em matemática.
.
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Crer
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Na
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