Era
uma vez uma praça de letras
Era uma
vez uma menina que estudava em frente a uma praça de
Araraquara. "Brincávamos ali de pular corda, amarelinha,
pega-pega. A praça era a continuação
da minha escola, e a cidade parecia fazer parte de meu quintal",
lembra-se Ciça Gorski, que, ainda adolescente, mudou-se
para São Paulo para cursar arquitetura, virou paisagista
e fez da recuperação de áreas públicas
sua profissão.
Ciça
resgatou das imagens de sua infância ao pensar numa
função para o terreno de 500 metros quadrados
entre as ruas Belmiro Braga e Inácio Pereira da Rocha,
a duas quadras da galeteria "Galinheiro", passagem
obrigatória na Vila Madalena. Fazia-se dali dormitório
e banheiro público, onde traficantes de crack, vivendo
entre mendigos e protegidos pela proximidade de um beco, atormentavam
a vizinhança.
Além
da nostalgia provinciana, ela inspirou-se nos "pocket
parks", de Nova York -são terrenos deteriorados
resgatados pelos vizinhos e transformados em jardins comunitários,
especialmente pelos idosos.
Na condição de voluntária, a paisagista,
que já tinha ajudado a recuperar uma praça em
frente ao colégio Vera Cruz, encontrou o caminho aberto.
Os vizinhos,
apoiados pela polícia, expulsaram os traficantes. A
administração regional de Pinheiros concedeu
direito aos moradores da vizinhança de assumir a área
e empresários doaram material de construção.
Dessa
rede de parcerias, saiu o desenho de uma área de convivência
com atividades culturais e educacionais -especialmente contação
de histórias- conduzidas por entidades não-governamentais,
voluntários e escolas. Entre as atividades, planeja-se
chamar idosos para contar estórias para as crianças
de escolas públicas. Daí surgiu o nome do espaço
-Praça Aprendiz das Letras.
A partir
do tema da literatura, convidaram-se crianças e adolescentes
para produzir letras em mosaicos, fixadas nos bancos; grafiteiros
deixaram suas assinaturas, com sua caligrafia urbana, num
totem. No próximo sábado, com direito a festa
na rua, serão plantadas árvores.
Pelo menos
para Ciça, convidada a plantar um Pau-Brasil, a Vila
Madalena, onde mora, vai ter um toque da praça da sua
infância.
|
|
|
Subir
|
|
|