Entenda o caso


O que aconteceu


1. Em janeiro do ano passado, o Banco Central foi obriado a desvalorizar o real

2. Os bancos Marka e FonteCindam, que tinham compromissos fuutros em dólar, pediram ajuda ao BC para não quebrar.

3. Alegando medo de uma crise sistêmica com a quebra dos dois pequenos bancos, o BC vendeu dólares abaixo do preço disponível no mercado.

4. O prejuízo aos cofres públicos, segundo a CPI dos Bancos, atingiu R$ 1,5 bilhão



As ligações


Salvatore Alberto Cacciola
Dono do Banco Marka, o economista, nascido em Milão (Itália) _vive desde os 9 anos no Brasil_, começou a trabalhar no mercado em 1969. Em 1972, abriu no Rio sua própria corretora, que viria a dar origem ao Marka. Foi a Brasília pedir ajuda ao Marka. O socorro lesou o país em R¹ 1,5 bilhão.

Francisco Lopes
No governo desde 1995, era diretor de Política Econômica e de Política Monetária. Assumiu o BC em 13 de janeiro, com a mudança na política cambial e o afastamento de Gustavo Franco. Idealizou uma desvalorização controlada, que fracassou. Autorizou o socorro e saiu no dia 2 de fevereiro, antes de ser formalmente empossado.

Sérgio Bragança
Amigo de Francisco Lopes e co-fundador da consultoria Macrométrica (de Lopes), assina bilhete no qual diz guardar dinheiro do ex-presidente do BC em contas no exterior.

Luiz Augusto Bragança
Irmão de Sérgio e compadre de Lopes, foi convidado por Rubem Novaes e acompanhou Cacciola a Brasília. Conversou sobre o Marka com o ex-presidente do BC na manhã do dia 14.

Rubem Novaes
Economista, foi citado como suposto intermediário de esquema de vazamento de informações privilegiadas. Em depoimentos, assumiu as ligações com Cacciola e que havia acompanhado o banqueiro até Brasília.

Cláudio Mauch
Ex-diretor de Fiscalização do BC, participou da preparação do socorro ao Marka. Teria demovido o BC da intenção de liquidar o Marka.

Tereza Grossi
Chefe interina do Departamento de Fiscalização, participou das negociações com Cacciola. Checou a situação do Marka na BM&F e mandou fiscais ao banco



Hora a hora do socorro que motivou as prisões


13.janeiro

9h - BC muda teto das cotações do dólar de R¹ 1,22 para R¹ 1,32

12h - O banqueiro Salvatore Cacciola e os consultores Rubem Novaes e Luiz Augusto Bragança vão a Brasília pedir ajuda para o Marka, que tinha compromissos em dólar

14h30 - No BC, Cacciola é recebido por Alexandre Pundek, consultor da diretoria, que o encaminha ao Departamento de Fiscalização

18h - A chefe interina do Departamento de Fiscalização, Tereza Crisitna Grossi, telefona para a BM&F. Ouve do superintendente Edemir Pinto que o caso Marka não preocupa

18h30 - Novaes volta ao Rio. A pedido de Cacciola, com dificuldades em negociar com o BC, Bragança permanece em Brasília

14.janeiro

8h - A pedido de Cacciola, Bragança toma café da manhã com o então presidente do BC, Francisco Lopes, e expõe o caso Marka

9h30 - Diretoria do BC inicia reunião que se prolongaria ao longo do dia

13h - No Palácio da Alvorada, FHC almoça com Lopes, o ministro Malan (Fazenda) e outros membros da equipe econômica

14h - No BC, Cacciola redige bilhete a Lopes no qual pede que o BC venda dólares a cotações abaixo do mercado

20h50 - Banco do Brasil recebe fax do BC determinando o socorro ao Marka, com a venda de dólares a cotações abaixo do mercado

21h - BC consulta o Departamento Jurídico sobre a legalidade da operação. Procuradores sugerem liquidação do Marka, mas o então diretor de Fiscalização, Cláudio Mauch, diz que essa hipótese está afastada

22h - Lopes, Malan e o então diretor de Assuntos Internacionais do BC, Demósthenes Madureira de Pinho Neto, jantam no restaurante Francisco, enquanto reuniões continuam no BC

23h - BC decide formalizar o socorro ao Marka só no dia seguinte



O bilhete de Cacciola a Lopes


"Francisco
Preciso muito da tua ajuda, melhor ainda se pudesse falar cinco minutos com você. É muito importante para mim, para você e para o país.

Caso você não consiga me receber, preciso de uma, muito maior, intereferência sua no sentido de o Mauch (Cláudio Mauch, então diretor de fiscalização do BC) ser menos rigoroso e aceitar a negociação em um preço razoável. O ideal, mesmo assumindo um prejuízo enorme, seria 1,250, porém está distante da vontade do diretor.

Em qualquer caso, isto acaba com os meus 30 anos de mercado e 55 anos de vida. Porém, mesmo com este enorme prejuízo, posso assumir que fico satisfeito em não dar prejuízo ao mercado, sobreviver com uma não-financeira para recomeçar minha vida e esquecer tudo.

Obrigado,

Alberto Cacciola"


15.janeiro

9h - BC desiste de manter teto para o dólar e deixa as cotações subirem livremente. Malan e Amaury Bier, então secretário de Política Econômica, passam a manhã no BC

9h30 - Reunião no gabinete de Lopes discute o caso Marka. Malan e Bier estão no recinto, mas não se pronunciam

10h - Participante da reunião, a procuradora Fátima Regina Martins redige o voto da diretoria que aprovou a operação de socorro

11h - Em reunião no Departamento Jurídico, o procurador Manoel Loiola pede que Cacciola escreva uma carta pedindo a ajuda do BC. Mauch aprova o documento

11h30 - Tereza Grossi pede à BM&F uma carta sobre os problemas de bancos no mercado futuro

17h30 - Chega ao BC a versão final da carta da BM&F. O consultor Ricardo Liao faz um recibo com data do dia anterior



O caso do FonteCindam

Resultado da união, em 1º de junho de 1996, dos bancos Fonte, com grande presença nas Bolsas, e Cindam, atuante no setor de câmbios e fundos. Também recebeu ajuda do BC. As investigações sobre a ajuda do BC frustraram a venda da instituição para o banco francês BNP


volta
sobe