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12/04/2006 - 09h00

Varig não terá dinheiro público, diz Lula

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ELIANE CANTANHÊDE
Colunista da Folha de S.Paulo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva jogou água fria na pretensão da Varig de arrancar do governo um plano de salvamento para a empresa. "Não cabe ao governo salvar empresa falida", disse ele, numa rápida conversa informal com três jornalistas no Itamaraty, ao final do almoço com a presidente do Chile, Michelle Bachelet.

No início do governo Lula, em janeiro de 2003, o presidente determinou a seus ministros que achassem uma solução para a Varig, sob a justificativa de que se tratava de uma marca estratégica para o país.

Todos os modelos tentados foram abortados dentro do próprio governo ou por divergências dos atores envolvidos na Varig. Não há mais projetos de salvação da empresa.

Ontem, o presidente foi bem claro: "Há oito anos que eu ouço falar nessa história da Varig, e cada vez me aparecem com um número maior [da dívida]", disse, em tom de reclamação e remetendo a solução da companhia, grave e crônica, para outras esferas.

"A Varig tem um acordo judicial que ela tem que cumprir. Se é para resolver, não é o governo. Para isso, existem outras instâncias, como a Lei de Falências, por exemplo", disse ele.

Lula também disse, depois de tomar cafezinho, que as pessoas estão viajando muito, tanto que a TAM e a Gol estão crescendo. E perguntou: "Por que a Varig tem déficit operacional? Isso não é problema do governo".

Já na saída do Itamaraty, Lula foi abordado por vários jornalistas e não quis falar tão explicitamente sobre a Varig, mas também foi claro: "Vocês [jornalistas] têm que perguntar para a direção da Varig".

Ao ser indagado se haverá injeção de dinheiro público na empresa, foi novamente claro, mas com gestos, não com palavras: balançou a cabeça de um lado para outro, negativamente.

Sem dinheiro público

A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que esteve no almoço, foi na mesma linha do presidente e também praticamente descartou aporte financeiro do governo federal: "Eu acho que qualquer solução para a Varig que não implique gasto de dinheiro público é sempre favorável. Eu serei sempre favorável", afirmou.

Apesar de a Varig anunciar que acumula uma dívida de cerca de R$ 7 bilhões, a Folha apurou que o governo trabalha com um valor ainda maior, de cerca de R$ 8 bilhões. A empresa, que já foi líder, hoje tem menos de 20% do mercado interno, atrás de TAM e Gol.

A questão se tornou praticamente prioritária para Dilma, que vem centralizando as reuniões em seu gabinete e, ontem, conversou longamente com o ministro da Defesa, Waldir Pires, sobre o que fazer.

Os dois combinaram que, em 48 horas, a partir de ontem de manhã, vão dar algum diagnóstico e eventualmente soluções paliativas para a empresa, mas dificilmente haverá dinheiro público.

"Não há um modelo", dizia Pires no almoço. De fato, os modelos tentados no atual governo caíram um a um. Deles, o que foi mais uma vez recolocado na Casa Civil, na semana passada, foi o de separar a "parte boa" da "parte ruim" da empresa, que tem um patrimônio estimado de US$ 1 milhão (cerca de R$ 2,5 milhões) entre espaços nos aeroportos mundo afora e licenças para voar.

A solução de partir a companhia em duas, porém, não implica autorização do Planalto para que credores como Infraero (administra aeroportos) ou BR Distribuidora (fornecedora de combustível de aviação) deixem de cobrar suas dívidas. Segundo Pires, "ninguém pode dar uma autorização como essa, sob risco de ser responsabilizado criminalmente".

Depois, também já à saída do Itamaraty, disse: "Há um sentimento [entre os credores] de que se chegou a um estágio difícil, e, portanto, hoje é preciso fazer uma formulação que diga como se pode dar operacionalidade, ou seja, um modelo, um projeto. Infelizmente isso não foi feito até agora".

Colaboraram Eduardo Scolese e Pedro Dias Leite, da Folha de S.Paulo, em Brasília

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