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17/09/2001
-
08h20
MARIA CRISTINA FRIAS
da Folha de S.Paulo
Esperar um cenário mais definido antes de decidir o que fazer com aplicações em Bolsa é a recomendação mais ouvida entre analistas do mercado acionário.
Depois dos atentados terroristas nos Estados Unidos, houve uma mudança brusca de patamar, de paradigma.
Esse novo modelo começará a ser revelado quando o mercado verificar o desempenho das Bolsas de Nova York, que reabrem apenas hoje; se o Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) promover corte na taxa de juros do país antes de sua próxima reunião em outubro; e conforme a reação militar definida pelos EUA.
"Antes de conhecer esses desdobramentos, não adianta dar conselho, a não ser recomendar a quem está fora da Bolsa que não entre", diz Pedro Martins, estrategista do JP Morgan.
"Em tempos de volatilidade, não se deve fazer nada", afirma o diretor de tesouraria do Lloyds TSB, Reinaldo Le Grazie. Luiz Antônio Vaz das Neves, diretor da Planner, concorda: "É preciso esperar a situação se estabilizar. Estou no mercado há mais de 30 anos e sempre que tomei uma decisão em meio à crise me dei mal".
Segundo Grazie, "há grandes medos no ar e um deles é a alta do petróleo, pela possibilidade de guerra. Se houver bombardeio, com apoio dos países vizinhos ao Afeganistão, a repercussão em Bolsa pode ser até positiva, como à época do Guerra do Golfo".
Na última semana, uma das três piores dos últimos 11 anos, a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) despencou mais de 18%. As outras duas semanas de maiores quedas no período foram em março de 90 e outubro de 97, quando a Bolsa caiu cerca de 22%.
Com tantas perdas, para a maioria dos analistas, não é recomendável sair de Bolsa a preços tão baixos. Para Gustavo Alcântara, do Banco Prosper, entretanto, o investidor deve "fazer as contas de quanto ainda pode perder no mercado e, se for o caso, sair, para retornar num momento mais oportuno".
O diretor da Lloyds Asset Management, Gilberto Poso, diz que quem não suporta mais tombo e quer sair deve aguardar. "As cotações caíram demais e pode haver uma recuperação técnica nos próximos dias."
"É difícil dar esse conselho, mas só se vier uma alta de 5% a 10% ao longo da semana é que o investidor poderá julgar se deve ou não vender tudo", diz o diretor da BNP Paribas Asset Management, Jacopo Valentino.
Os analistas ressaltam também que sair agora para voltar quando a tendência estiver mais bem definida envolve risco. Para um leigo, é muito difícil acertar o momento de voltar antes que os ativos tenham se valorizado demais.
Para alguns analistas, a Bovespa, por ser uma das Bolsas que mais caíram, "não tem muito espaço para queda, a menos que ocorra um 'crash' em Nova York". Agora o México é que estaria na linha de tiro.
"O vizinho norte-americano está numa situação inversa à brasileira, com Bolsa e moeda muito valorizadas. É possível que estrangeiros vendam primeiro ativos de lá ou de países próximos a uma eventual área de conflito", diz Valentino.
Para ele, o aumento do nível de tensão predispõe o governo norte-americano a fazer um novo corte em sua taxa básica.
"Se a redução vier logo, porém, talvez o Fed fique sujeito a críticas e com a política explícita demais."
O mercado financeiro estará atento também à próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), marcada para amanhã e quarta-feira.
A maioria dos economistas afirma acreditar em manutenção da taxa Selic.
"A política monetária tem muita relação com a diminuição da atividade econômica, com o aumento do quadro recessivo. O BC pode manter a taxa também em razão da piora do endividamento público", observa Francisco Petros, presidente da Abamec (Associação Brasileira dos Analistas do Mercado de Capitais).
Porém não deve ser descartada a possibilidade de o Banco Central adotar um viés de alta ou mesmo aumentar a taxa.
Com horizonte de três a cinco anos, ainda há quem veja na Bolsa uma boa oportunidade.
"Momentos de depressão são interessantes. Quem busca segurança pode sair perdendo", afirma Pedro Charmont, da Investidor Profissional.
Para ele, é preciso analisar a relação preço e valor justo da ação e a capacidade da empresa de enfrentar adversidades.
"Importa saber quais são rentáveis, tratam bem minoritários e sobreviverão. Todos continuarão a comer e a falar ao telefone", diz.
Leia mais no especial sobre atentados nos EUA
Leia mais sobre os reflexos do terrorismo na economia
Analistas aconselham esperar definição do mercado acionário
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da Folha de S.Paulo
Esperar um cenário mais definido antes de decidir o que fazer com aplicações em Bolsa é a recomendação mais ouvida entre analistas do mercado acionário.
Depois dos atentados terroristas nos Estados Unidos, houve uma mudança brusca de patamar, de paradigma.
Esse novo modelo começará a ser revelado quando o mercado verificar o desempenho das Bolsas de Nova York, que reabrem apenas hoje; se o Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) promover corte na taxa de juros do país antes de sua próxima reunião em outubro; e conforme a reação militar definida pelos EUA.
"Antes de conhecer esses desdobramentos, não adianta dar conselho, a não ser recomendar a quem está fora da Bolsa que não entre", diz Pedro Martins, estrategista do JP Morgan.
"Em tempos de volatilidade, não se deve fazer nada", afirma o diretor de tesouraria do Lloyds TSB, Reinaldo Le Grazie. Luiz Antônio Vaz das Neves, diretor da Planner, concorda: "É preciso esperar a situação se estabilizar. Estou no mercado há mais de 30 anos e sempre que tomei uma decisão em meio à crise me dei mal".
Segundo Grazie, "há grandes medos no ar e um deles é a alta do petróleo, pela possibilidade de guerra. Se houver bombardeio, com apoio dos países vizinhos ao Afeganistão, a repercussão em Bolsa pode ser até positiva, como à época do Guerra do Golfo".
Na última semana, uma das três piores dos últimos 11 anos, a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) despencou mais de 18%. As outras duas semanas de maiores quedas no período foram em março de 90 e outubro de 97, quando a Bolsa caiu cerca de 22%.
Com tantas perdas, para a maioria dos analistas, não é recomendável sair de Bolsa a preços tão baixos. Para Gustavo Alcântara, do Banco Prosper, entretanto, o investidor deve "fazer as contas de quanto ainda pode perder no mercado e, se for o caso, sair, para retornar num momento mais oportuno".
O diretor da Lloyds Asset Management, Gilberto Poso, diz que quem não suporta mais tombo e quer sair deve aguardar. "As cotações caíram demais e pode haver uma recuperação técnica nos próximos dias."
"É difícil dar esse conselho, mas só se vier uma alta de 5% a 10% ao longo da semana é que o investidor poderá julgar se deve ou não vender tudo", diz o diretor da BNP Paribas Asset Management, Jacopo Valentino.
Os analistas ressaltam também que sair agora para voltar quando a tendência estiver mais bem definida envolve risco. Para um leigo, é muito difícil acertar o momento de voltar antes que os ativos tenham se valorizado demais.
Para alguns analistas, a Bovespa, por ser uma das Bolsas que mais caíram, "não tem muito espaço para queda, a menos que ocorra um 'crash' em Nova York". Agora o México é que estaria na linha de tiro.
"O vizinho norte-americano está numa situação inversa à brasileira, com Bolsa e moeda muito valorizadas. É possível que estrangeiros vendam primeiro ativos de lá ou de países próximos a uma eventual área de conflito", diz Valentino.
Para ele, o aumento do nível de tensão predispõe o governo norte-americano a fazer um novo corte em sua taxa básica.
"Se a redução vier logo, porém, talvez o Fed fique sujeito a críticas e com a política explícita demais."
O mercado financeiro estará atento também à próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), marcada para amanhã e quarta-feira.
A maioria dos economistas afirma acreditar em manutenção da taxa Selic.
"A política monetária tem muita relação com a diminuição da atividade econômica, com o aumento do quadro recessivo. O BC pode manter a taxa também em razão da piora do endividamento público", observa Francisco Petros, presidente da Abamec (Associação Brasileira dos Analistas do Mercado de Capitais).
Porém não deve ser descartada a possibilidade de o Banco Central adotar um viés de alta ou mesmo aumentar a taxa.
Com horizonte de três a cinco anos, ainda há quem veja na Bolsa uma boa oportunidade.
"Momentos de depressão são interessantes. Quem busca segurança pode sair perdendo", afirma Pedro Charmont, da Investidor Profissional.
Para ele, é preciso analisar a relação preço e valor justo da ação e a capacidade da empresa de enfrentar adversidades.
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