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18/09/2001 - 07h14

Parada de aviões cargueiros afeta indústria eletrônica

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ADRIANA MATTOS e FÁTIMA FERNANDES
da Folha de S.Paulo

Há sete dias não chega um único parafuso importado dos EUA. Resultado: a indústria eletroeletrônica e de telefonia começa a interromper a partir de hoje a fabricação de alguns modelos de produtos.

E deve ainda discutir numa reunião, em Manaus (AM), se precisará dar folgas aos funcionários _caso a situação não se normalize nos próximos dias.

Até o final da tarde de ontem os aeroportos dos EUA ainda não haviam liberado a maioria dos vôos de aviões cargueiros, nos quais são transportadas matérias-primas encomendadas por fabricantes do país. Cerca de 90% das peças que compõem um telefone celular, por exemplo, vêm de fora. No caso de TVs acima 29 polegadas, esse percentual chega a 70%.

A Nokia já não tem mais componentes para fabricar o celular tipo 5125 (modelo azul) a partir de hoje. A empresa produz cerca de 6.000 unidades desse aparelho por dia. No caso de outros modelos, há estoque de componentes, mas não por muito tempo.

Antonio Amato, gerente operacional e de logística da Nokia, diz que a empresa busca alternativas para trazer os componentes para o Brasil. Conseguiu fretar um vôo em Dallas, mas até agora não obteve autorização para tirar o avião do chão. Também está tentando trazer peças da Europa e até ocupar as áreas de bagagens de aviões de passageiros.

Algumas companhias do setor eletroeletrônico ainda não se sentem prejudicadas com o inesperado atraso nas entregas dos pedidos dos fornecedores americanos e asiáticos. Essa demora tem pontos positivos porque as vendas de produtos eletroeletrônicos estão em queda. A redução no consumo a partir de maio acabou elevando o nível de estoque das indústrias.

Pio Gavazzi, diretor da Abinee, diz que as encomendas das indústrias de telefonia caíram 70% em relação ao primeiro trimestre deste ano. A previsão de importação do setor em 2001 _entre US$ 8 bilhões e US$ 10 bilhões_ já foi revista para US$ 6 bilhões, o mesmo valor de 2000.

É possível medir o tamanho da dor de cabeça que os atrasos criaram para as companhias. A Varig traz semanalmente para o país, em seis vôos cargueiros, cerca de 360 toneladas de importados. Alguns vôos já foram liberados ontem, diz a companhia, mas a normalização das entregas não será rápida.

"Impedimentos na chegada das peças serão inevitáveis, assim como a possível elevação nos custos das empresas, caso haja especulações em cima do preço dos insumos", diz Paulo Saab, presidente da Eletros, associação do setor eletroeletrônico.

Na AVX, uma das maiores fabricantes e importadoras de componentes do mundo, há estoque de segurança nos armazéns que corresponde a cerca de um mês. Mas a expectativa é que essa quantidade consiga abastecer indústrias locais por duas ou três semanas. "Desde a semana passada não chegou nada", diz Augusto Cordeiro, diretor comercial.

Em Manaus, há expectativa de que aconteça hoje à tarde uma reunião de sindicalistas e empresas da região. Devem discutir possíveis formas de dar descanso aos trabalhadores caso seja necessário reduzir a produção, devido à falta de componentes, informa Agostinho Correa, presidente do sindicato.

A balança comercial brasileira teve superávit de US$ 79 milhões na segunda semana de setembro, mas com queda no ritmo de exportações e importações. No ano, o saldo positivo é de US$ 779 milhões. Na segunda semana do mês, as vendas para o exterior atingiram US$ 1,111 bilhão, e as compras de outros mercados ficaram em US$ 1,032 bilhão.

A média diária das exportações (US$ 222,2 milhões), no entanto, teve redução de 9,6% em relação à primeira semana de setembro. Nas importações, a queda foi de 12,4%.

Segundo a Secretaria de Comércio Exterior, embora tenha sido registrado pequeno aumento na média diária de exportações de produtos básicos (soja e carne, por exemplo), houve redução nas vendas de semimanufaturados e de manufaturados.

A queda na média das importações, entre outros fatores, foi resultado da redução na compra de combustíveis e lubrificantes, adubos e fertilizantes e eletrônicos.

O Ministério do Desenvolvimento diz que é cedo para avaliar o efeito da crise nos EUA. Nas duas primeiras semanas do mês, o superávit da balança é de US$ 120 milhões. As exportações somam US$ 2,094 bilhões, e as importações, US$ 1,974 bilhão.

A média diária das exportações até a segunda semana de setembro apresentou queda na comparação com a média do mesmo mês do ano passado. A redução foi de 1,5%. Em relação a agosto, o recuo foi maior, de 6,6%.

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