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21/09/2001 - 06h00

Leia o depoimento de Greenspan no Senado

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da da Folha de S.Paulo

Leia a seguir depoimento do presidente do Federal Reserve (BC dos EUA), Alan Greenspan, diante do Comitê Bancário, de Habitação e Assuntos Urbanos do Senado dos EUA, ontem.

Gostaria de começar minhas declarações mencionando a profunda tristeza que eu e meu meus colegas do Federal Reserve sentimos pela perda ou ferimento irreparável de tantas pessoas talentosas, de tantas profissões, na semana passada. Ainda que estejamos aqui hoje para discutir algumas das implicações econômicas e financeiras mais imediatas daquela tragédia, estamos plenamente cientes de que o assunto que estaremos discutindo não passa de uma simples nota de pé de página.

O terrorismo de 11 de setembro sem dúvida terá efeito significativo sobre a economia dos EUA a curto prazo. Um esforço enorme será necessário, da parte de muitos, para enfrentar a destruição física e humana. Mas à medida que nos esforçamos por enfrentar nossas terríveis perdas e suas consequências imediatas para a economia, é preciso que não percamos de vista nossas perspectivas de longo prazo, que não foram significativamente prejudicadas por aqueles terríveis acontecimentos.

Ao longo das duas décadas passadas, a economia americana ganhou crescente resistência a choques. Mercados financeiros desregulamentados, mercados de trabalho muito mais flexíveis e, mais recentemente, importantes avanços na tecnologia de informação reforçaram nossa capacidade de absorver perturbações e nos recuperar.

No passado, nossa economia rapidamente recuperou seus níveis anteriores depois da devastação de furacões, terremotos, inundações e uma série de outros desastres naturais que periodicamente se abatem sobre diferentes regiões de nosso país. Se bem que o trauma de 11 de setembro compartilhe de algumas características desses desastres, as diferenças são importantes.

Em contraste com os desastres naturais, os acontecimentos da semana passada preocupam muito mais porque atingem as raízes de nossa sociedade livre, um de cujos aspectos é a economia de mercado. Todas as economias modernas exigem confiança em que as instituições do livre mercado estejam funcionando e em que os compromissos assumidos pelos participantes dos mercados hoje sejam honrados não só amanhã mas ao longo do futuro.

Quanto maior o grau de confiança no estado dos mercados futuros, maior o nível de investimento de longo prazo. O choque de 11 de setembro, ao elevar acentuadamente o grau de incerteza sobre o futuro, tem o potencial de causar, por algum tempo, uma fuga pronunciada a compromissos futuros. E isso, a curto prazo, implicaria em nível reduzido de atividade atual. De fato, boa parte da atividade econômica se paralisou na semana passada.

Mas as fundações de nossa sociedade livre continuam a ser sólidas, e acredito que nos recuperaremos e prosperaremos, como no passado. Como consequência do apoio espontâneo e quase universal que recebemos de todo o mundo, um acordo sobre uma nova rodada multilateral de negociações comerciais parece agora mais plausível.

Um resultado como esse criaria um sistema mais forte de mercado mundial. Uma rodada de negociações bem-sucedida não só reforçaria significativamente o crescimento econômico mundial, mas responderia ao terrorismo com uma reafirmação vigorosa do nosso compromisso com sociedades livres e abertas.

Mas antes que o processo de recuperação se inicie, a estabilidade precisará ser restaurada na economia norte-americana e em outras, ao redor do mundo. Pode-se afirmar que essa estabilidade mal estava começando a se evidenciar nos EUA nos dias que precederam o ato terrorista. Os números agregados de produção, emprego e gastos das empresas continuavam fracos.

Isso posto, os gastos dos consumidores subiram em agosto e pareciam razoavelmente sustentados na primeira metade de setembro. Os analistas setoriais sugerem que as vendas de veículos estavam perto dos níveis de agosto, e as vendas das cadeias de varejo haviam caído modestamente apenas. Os executivos de compras apontam uma melhora no quadro de encomendas em agosto. Além disso, o ritmo dramático de queda nos lucros está se reduzindo. É certo que esses sinais são apenas provisórios, mas no geral oferecem encorajamento.

Na semana passada, evidentemente, o nível de atividade se reduziu. O choque ficou mais evidente nos mercados de consumo, com muitos compradores em potencial presos aos seus televisores e distantes dos shopping centers. Tanto as vendas de veículos quanto as das maiores cadeias de varejo, que oferecem algumas das indicações mais atualizados sobre os gastos dos consumidores, parecem ter caído consideravelmente. E os setores de turismo e de transporte aéreo sofreram severos cortes.

A paralisação sem precedentes do transporte aéreo americano e os controles de fronteira mais duros induziram a cortes dramáticos de produção em diversos estabelecimentos que usam métodos "just-in-time" de administração de suas cadeias de suprimentos. As montadoras, por exemplo, teriam ao que parece reduzido sua produção e até mesmo fechado certas fábricas na semana passada, em larga medida devido à escassez de suprimentos, ainda que sem dúvida as incertezas de curto prazo quanto à demanda talvez tenham desempenhado um papel.

O efeito do devastador ataque ao World Trade Center sobre os mercados financeiros foi pronunciado, já que as telecomunicações e a capacidade de operações foram severamente prejudicadas, mas os mercados estão funcionando, agora, ainda que de maneira improvisada em alguns casos e, como no passado, a infra-estrutura será rapidamente restaurada.

Por um breve período, o ataque terrorista perturbou seriamente as transferências de pagamentos que em geral atingem a casa dos trilhões de dólares ao dia. Muitas das partes envolvidas em operações perderam temporariamente sua capacidade técnica de pagar no prazo, o que descobriu as empresas que contavam receber esse dinheiro. As pressões terminaram concentradas nos bancos.

As necessidades deles foram atendidas pelo Federal Reserve, tanto por meio de empréstimos em volume recorde na janela de redescontos quanto por meio de uma extraordinária infusão de fundos via operações de "open market". Para facilitar a canalização de liquidez em dólares a instituições financeiras estrangeiras operando nos Estados Unidos, linhas de "swap" cambial com prazo de 30 dias foram providenciadas junto a importantes bancos centrais, uma vez mais em volume recorde. Era essencial, em um ambiente como esse, atender a todas as demandas apropriadas de liquidez em dólar. À medida que os mercados financeiros e a infra-estrutura de pagamentos voltam ao normal, os empréstimos estão sendo pagos e o balanço temporariamente inchado do Federal Reserve começa a voltar ao normal.

Ninguém tem como compreender integralmente a tragédia de 11 de setembro e suas consequências nas próximas semanas, à medida que o choque passa, poderemos avaliar melhor como a dinâmica corrente desses acontecimentos afetará a perspectiva da economia.

A prazo mais longo, a perspectiva de um avanço tecnológico rápido e continuado, e de ganhos correlatos de produtividade, não se alterou muito. Essa perspectiva, derivada da inventividade do nosso povo e da força do nosso sistema, fortifica um futuro promissor para o nosso país livre.

*Tradução de Paulo Migliaci

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