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23/09/2001 - 08h50

Câmbio caro e atraso nos vôos pressionam indústrias

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FÁTIMA FERNANDES
ADRIANA MATTOS
da Folha de S.Paulo

O atraso na chegada de matérias-primas importadas ao Brasil e a recente alta do dólar, após os atentados nos Estados Unidos, elevaram os custos das indústrias, especialmente a eletrônica e de brinquedos, que já podem subir os preços.

É que parte dos contratos de importação leva em conta a cotação do dólar no dia em que a mercadoria é desembarcada no país. Logo, a combinação entre o atraso nas entregas -devido ao fato de os aeroportos estarem parcialmente fechados- e a subida na cotação da moeda americana, desde o dia em que ocorreram os atentados, deve encarecer o preço dos importados no Brasil.

Na última semana, as indústrias que tiveram os produtos "retidos" nos aeroportos tiveram de pagar, por um dólar, até 8,75% a mais do que imaginavam. A taxa corresponde à variação da moeda desde o dia dos atentados até a última sexta-feira. Isso tem deixado as companhias irritadas. Dizem que não têm culpa do que houve nos Estados Unidos, não especularam contra o real e não deveriam arcar com qualquer tipo de custo extra.

A Tec Toy, que importa componentes para produzir videogames e videokês, informa que precisaria aumentar em 7% os preços dos seus produtos para compensar a alta do dólar e as perdas com o atraso na chegada dos componentes à sua fábrica em Manaus (AM).

Há oito dias a Tec Toy aguarda os insumos para fabricar videokês e videogames. "Cerca de 30% da nossa encomenda está atrasada. Enquanto ela não chega, estamos pagando mais pelos componentes, já que o dólar está subindo", afirma Lourival Kiçula, diretor-presidente da empresa.

Além de os custos estarem em alta, diz Kiçula, a empresa pode ter de atrasar as entregas de mercadorias para o Dia da Criança. Isso causará um transtorno para a empresa, que terá de dar férias para os empregados numa época em que seria o pico da produção.

Mais problemas
A dor de cabeça das indústrias não pára por aí. As empresas que não fecharam contratos para o pagamento da mercadoria no dia do desembarque -mas quitaram a compra quando expediram o pedido- deveriam sair ilesas nesta hora, já que não têm mais dívidas. Deveriam, mas isso não vai acontecer.

"Os impostos cobrados no país, quando o produto chega, precisam ser pagos em reais, mas em cima da cotação do dólar do dia. Aí, não tem quem escape. Todo mundo vai pagar mais caro porque não conseguiu liberar a carga na semana passada", diz Claive Tanganelli, diretor da Gradiente.

"E o pior de tudo é que esses impostos, que já ficarão mais caros, são impostos em cascata. Ou seja, o II [Imposto de Importação" incidirá sobre o IPI [Imposto sobre Produtos Importados" e assim por diante", conta Rodrigo Mascaretti, da importadora de brinquedos Delta Gift.

A empresa ainda não sabe se precisará repassar os aumentos de custos. Levantará o tamanho do impacto para verificar. Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq, que reúne a indústria de brinquedos, acredita que a pressão do dólar sobre os custos não deve se manter por muito tempo.

A Celestica, fornecedora de peças e fabricante de produtos para empresas como Nec e Lucent, recebeu na última segunda-feira, no aeroporto de Guarulhos, um lote de uma tonelada com componentes eletrônicos. A empresa teve de pagar os impostos com base no dólar do dia.

Segundo a Folha apurou, a empresa já espera que os fornecedores, principalmente da indústria de áudio e vídeo, repassem os aumentos de custos que sofreram por causa do escalada do dólar após o ataque.

Há duas formas, basicamente, de se fechar contratos de importação no país. Pode-se pagar a compra no dia do fechamento do contrato ou quando o produto chega ao país. Ainda é possível pagá-lo daqui a 30, 60, 90 ou até 180 dias, por meio de cartas de crédito expedidas pelos bancos.

Heron do Carmo, coordenador do IPC (Índice de Preços ao Consumidor), da Fipe, afirma que o impacto da alta do dólar nos preços dos produtos não deve ser considerável.

"Uma empresa ou outra pode tentar subir os preços, mas não terá sucesso. O consumidor não estará disposto a pagar mais por uma mercadoria. Além do mais, a renda disponível não aumentou a ponto de levar o consumidor a gastar mais", afirma o economista da Fipe.

Turbulência
Para o coordenador do IPC, as pressões por causa do dólar mais caro devem diminuir a partir de agora. "Haverá uma turbulência na economia quando os Estados Unidos reagirem, mas passado alguns dias tudo se acalma novamente."

Heron do Carmo acredita que neste ano a inflação no Brasil deve ficar em torno de 6,5% -só um pouco maior do que a do ano passado, de 6%. É um ótimo número, considera o economista, levando em conta as crises que o país já teve de enfrentar neste ano.
 

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