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30/09/2001 - 13h10

Ação do governo ganha apoio unânime nos EUA

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FERNANDO RODRIGUES
Enviado especial da Folha de S.Paulo a Nova York

Os ataques que causaram o maior número de mortos em um único dia na história recente dos EUA, em 11 de setembro, foram tão excepcionais como a maior ação estatal na economia do país desde o final dos anos 70 -quando foram salvos da falência com pacotes governamentais a cidade de Nova York e a Chrysler.

Os atentados levaram o governo George W. Bush, com a ajuda do Congresso, a aprovar medidas inéditas para tentar impedir o desmoronamento econômico do país, que está à beira da recessão.

Métodos nada liberais foram usados. Os dois mais vistosos somam US$ 55 bilhões: foram US$ 15 bilhões para ajudar companhias aéreas em estado quase falimentar e outros US$ 40 bilhões para ser usados nas outras operações de salvamento e ajuda de setores prejudicados pelos atentados -desses, US$ 20 bilhões são para a cidade de Nova York. Fala-se ainda em mais um pacote de US$ 60 bilhões, que completariam US$ 100 bilhões para ser usados na ajuda pós-atentados.

Desde que os republicanos consolidaram o poder com Ronald Reagan, a partir dos anos 80, o governo dos EUA não concedia tanta ajuda estatal para a economia privada na forma de repasse direto de dinheiro -o método liberal tinha sido sempre o corte de impostos, que aliás também está entre as medidas que podem ser tomadas em breve.

Exceto por esparsos artigos de jornal, não há ainda nos EUA uma discussão aberta se esse tipo de movimento representa uma inversão de ideologia a respeito da presença do Estado na economia. O debate aqui é outro. Há um temor do governo e de defensores do livre mercado de que muitos aproveitem o momento para empurrar para o Estado o custo da sua incapacidade de competir.

Sobre o que já foi concedido e feito pelo governo, é difícil encontrar alguém contrário. "Quando Adam Smith falou sobre a mão invisível da competição, ele não estava pensando em um avião entrando dentro de um prédio", diz o economista Ken Goldstein, do Conference Board, organização baseada em Nova York e que faz as pesquisas dos principais indicadores econômicos dos EUA.

Para Goldstein, a única ajuda até agora, de fato, foi para as companhias aéreas.

"Mas trata-se de um setor vital para que seja mantida a atividade econômica. O governo não está propriamente intervindo no sentido de salvar um monte de empresas incompetentes. Está tentando garantir que os negócios continuem durante uma situação de caráter altamente imprevisível", diz o economista.

As companhias aéreas vinham fazendo lobby por uma ajuda do governo havia mais de um ano. Quando ocorreram os atentados, chegaram a pedir até US$ 24 bilhões para continuar operando. A Casa Branca aprovou US$ 15 bilhões, pois o presidente do Fed, Alan Greenspan, recomendou que fosse escoimado do pacote algum dinheiro que não fosse para compensar as empresas pelas perdas relacionadas ao terrorismo.

Houve perdas reais por causa dos atentados. O espaço aéreo dos EUA permaneceu fechado por quase três dias. Os cerca de 40 mil vôos diários no país foram cancelados. Até hoje o aeroporto nacional Ronald Reagan, em Washington, continua fechado.

Mas essa ajuda às empresas aéreas dos EUA não causa um desequilíbrio, uma vez que companhias estrangeiras que operam no país não receberam o incentivo?
"É claro que há uma desigualdade de condições, mas as empresas dos outros países já estão pedindo ajuda a seus governos, o que deve acontecer e é legítimo", diz o professor de Economia da Columbia University David Weinstein.

Para Weinstein, é possível que este momento pelo qual passam os EUA seja realmente de inflexão do modelo neoliberal. "Antes dos ataques falava-se sobre se era mesmo correto usar o dinheiro do superávit que o país estava tendo em suas contas. Agora, as despesas são tantas que comenta-se a possibilidade de nem haver superávit, mas até um déficit", diz.

De fato, na semana passada o governo dos EUA revisou suas metas de superávit orçamentário. Para o ano fiscal que termina hoje, 30 de setembro, o governo americano deve ter superávit de US$ 121 bilhões -US$ 32 bilhões a menos do que o projetado. No ano que vem, o valor deve cair para US$ 56 bilhões. É muito, mas até o mês passado a cifra projetada para 2002 era de US$ 176 bilhões.

"Dentro de uma lógica keneysiana, é necessário que o governo gaste dinheiro, mas não importa muito como é feito o gasto. E não é isso o que está acontecendo no momento. As empresas aéreas foram de fato atingidas por um fato inesperado, além, é claro, de ter sido vítimas de má administração. Mas o governo parece interessado em eliminar só o efeito dos atentados", diz Weinstein.

Para Arturo Porzecanski, economista e diretor-executivo do ABN-Amro em Nova York, "ainda não há resposta sobre se essas ações do governo dos EUA são realmente transitórias ou uma mudança de tendência". Até porque, diz ele, "ninguém sabe como será essa guerra aberta contra o terrorismo, como será a reação dos inimigos até agora desconhecidos".

Guerra do Golfo
Robert Shiller, professor de Yale e autor do polêmico "Exuberância Irracional", afirma que a atual crise pode repetir a situação ocorrida após a Guerra do Golfo.

Segundo ele, um dos principais índices de confiança do consumidor nos EUA, o da Universidade de Michigan, apresentou uma queda recorde após a invasão do Kuait, em 1990. A vitória contra Saddam Hussein, em janeiro de 1991, voltou a aumentar a confiança dos consumidores.

Ele defende uma força-tarefa conjunta entre governos para encontrar os responsáveis e evitar ataques. "Os receios dos investidores podem ser afastados se houver uma efetiva cooperação internacional contra nossos medos mais profundos", diz, referindo-se a possíveis novos ataques.

Leia mais no especial sobre atentados nos EUA

Leia mais sobre os reflexos do terrorismo na economia
 

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