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01/10/2001 - 07h55

Tendência das Bolsas é de recuperação após crise

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PAULA PAVON
da Folha de S.Paulo

Administrar seus investimentos em tempos de guerra, como a que se prenuncia, exige mais do que paciência e cuidado. As variáveis e indefinições são tantas que poucos analistas se arriscam a fazer recomendações categóricas. Vale, portanto, olhar o passado.

Estudo da Sul América Investimentos mostra que, em momentos de grandes conflitos na história, o Índice Dow Jones apresentou tendência de alta poucos meses depois desses acontecimentos.

"A situação que os EUA vivem hoje é semelhante à do assassinato do presidente Kennedy, em que houve uma comoção social", diz Luiz Carlos Rego, economista da Sul América Investimentos.

Rego afirma que, no ataque a Pearl Harbor, em dezembro de 1941, o Índice Dow Jones apresentou tendência de alta três meses depois. "Em todas as outras situações, a duração da crise foi muito rápida. O que se espera é que isso se repita agora", diz.

Para Rego, as autoridades econômicas estão mais atentas agora do que no passado. "O pacote de US$ 100 bilhões e o fato de o Banco Central americano e o europeu terem cortado os juros já mostra que eles estão dispostos a restaurar o crescimento econômico", diz Rego. "Os fundamentos da economia estão intactos, o que foi atingido é o sentimento do consumidor", afirma.

O professor Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da FGV (Fundação Getúlio Vargas), do Rio, diz que a história mostra que os Estados Unidos conseguiram apresentar uma rápida recuperação econômica em momentos de guerra. Mas, dessa vez, a situação pode ser diferente, já que, antes do ataque terrorista no dia 11, o mundo já vinha num processo de desaceleração econômica.

Especialistas consultados pela Folha de S.Paulo afirmam que só há uma saída para o governo americano não deixar os EUA entrarem numa recessão profunda e arrastar os demais países: aumento de gastos públicos e diminuição de taxa de juros.

Para alguns economistas, no entanto, não há muito espaço para o Banco Central americano cortar os juros. "A taxa já foi cortada oito vezes. A saída pode ser aumentar os gastos públicos", diz Luiz Niemeyer, professor de economia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica).

Niemeyer observa que na maioria das guerras, como a Segunda Guerra Mundial ou a Guerra do Vietnã, os EUA viram seu PIB (Produto Interno Bruto) crescer. "Naquela época, a economia cresceu com as guerras porque o governo gastou muito com a indústria bélica."

Na Segunda Guerra Mundial, por exemplo, o PIB dos EUA passou de US$ 866 bilhões em 1939 para US$ 1,4 trilhão em 1946. No auge da Guerra do Vietnã, em 1965, o PIB dos EUA ficou em US$ 2,8 trilhões. Em 1968, esse número saltou para US$ 3,2 trilhões.

Para o professor Carlos Langoni, da FGV-Rio, está errado quem pensa que, desta vez, a economia vai reagir com expansão da atividade econômica.

"Desta vez não haverá um impacto favorável em decorrência do aumento dos gastos militares", diz Langoni. "Essa guerra envolve muito mais 'software' e inteligência humana que armamento bélico." Langoni afirma que o efeito positivo em termos de gastos públicos será modesto.

Para ele, o que mais preocupa nesse momento é a queda do índice de confiança do consumidor norte-americano. Esse índice vem registrando queda desde junho e na última semana voltou a apresentar um recuo mais significativo. A história mostra que, em momentos de guerra, o índice de confiança da população cai.

"Na Guerra do Golfo, em julho de 1990, o índice estava em 74 pontos e caiu para 60 pontos. A recuperação aos níveis pré-ataque só aconteceu oito meses depois."
Para Langoni, a situação de guerra atual é diferente de todas as outras do passado porque a economia já vinha num processo de desaceleração. "A volatilidade (oscilação) de todos os ativos tende a ser alta até que se defina a natureza da retaliação."

Antônio Corrêa de Lacerda, da Sobeet, diz que, mesmo com redução de juros e provável corte de impostos nos EUA, a economia demorará mais para reagir do que em guerras anteriores. "O motor de recuperação das economias são os investimentos feitos pelas empresas, mas isso não deve se expandir já que estávamos num processo de demissão", diz.

O professor de economia internacional Carlos da Costa, do Ibmec, afirma que, quanto mais demorar a ação dos EUA para derrotar o inimigo, mais a economia tende a sofrer. "Assim que for definida a estratégia de ataque e se ela for concentrada somente no Afeganistão, os ativos tenderão a recuperar o seu preço rapidamente", diz.

Para ele, os únicos setores que vão sofrer por mais tempo, ainda que a situação seja resolvida, são turismo, empresas aéreas e indústria de construção civil. O que tende a se recuperar rapidamente, segundo Costa, é a venda de bens duráveis.

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