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01/10/2001 - 09h08

Aplicação em fundo cambial é campeã no Real

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SANDRA BALBI
Editora do FolhaInvest

Quem investiu R$ 1.000 em um fundo cambial no alvorecer do Plano Real e manteve a aplicação acumulou, até o dia 27/09, R$ 7.249,43.

A mesma quantia, aplicada naquela época em um fundo DI _que acompanha a variação dos juros praticados nos negócios entre os bancos, o CDI (Certificado de Depósito Interbancário)_, transformou-se em R$ 5.828,00.

Na lanterninha ficaram os fundos de ações, onde os R$ 1.000 viraram apenas R$ 1.633,63.

Esse foi o resultado de um estudo feito pelo Labfin da FIA-FEA USP (Laboratório de Finanças da Fundação Instituto de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo) sobre os fundos de investimento que exigem aplicação inicial inferior a R$ 5.000.

Esse resultado contraria o que especialistas em mercado de câmbio, gestores de fundos de investimento e os manuais de finanças não se cansam de recitar: no longo prazo, o juro (CDI) supera a variação do dólar. "É matemático: o CDI já embute a variação do câmbio e o cupom cambial (a taxa de juros paga pelos títulos cambiais)", diz André Oda, supervisor do Guia de Fundos do Labfin.

O problema é que, no caso do mercado brasileiro, os fatos têm cabeça dura e parece que teimam em contrariar até a matemática. As sucessivas crises externas e internas que chacoalharam o mercado nos últimos anos fizeram o dólar passar por picos de valorização que o juro (CDI) não acompanhou. "Além disso, os fundos cambiais acabam rendendo mais que o dólar, pois, além da variação da moeda, eles são remunerados por uma taxa de juro paga pelos títulos cambiais que recheiam suas carteiras", diz Oda.

Para os analistas, a rentabilidade acumulada por esses fundos no período é fruto de uma anomalia e não derruba a teoria de que os fundos DI tendem a superar os cambiais. "Ao analisarmos os fundos desde o início do Real, partimos de uma base em que a moeda local estava supervalorizada e embutia uma expectativa de desvalorização", diz Oda.

Segundo Aury Luiz Ermel, diretor de gestão da Sudameris Asset Management, "o câmbio ficou represado até 99 pelo Banco Central e acabou estourando. De lá para cá, tudo que ocorreu foi ajuste".

Até 99 os fundos DI mantiveram uma marcha constante de valorização superior à dos cambiais, acompanhando a taxa do CDI. "O cambial supera o DI nas crises, pois o dólar dispara sob pressão do mercado, que quer se proteger em moeda estrangeira, e dos bancos, que passam a especular com a moeda", comenta Oda.

Ele observa que, para obter o ganho acumulado desde julho de 94 nos fundos cambiais, o investidor teria de ter resistido à tentação de migrar para um fundo DI no período em que as taxas de juros foram mais palatáveis. "Ou, então, ele teria de acertar a hora de entrar e sair da aplicação, ganhando com os picos do câmbio, o que é praticamente impossível."

Devido ao alto grau de incerteza que cerca o movimento do câmbio, os analistas insistem que o pequeno investidor só deve aplicar em fundos cambiais se tiver algum compromisso em dólar para vencer no futuro. "Se o câmbio disparar, o investidor terá condições de pagar sua dívida em dólar", diz Ermel.

Segundo ele, para quem está preocupado com uma possível guerra e seus desdobramentos e com os ventos de incerteza que vêm da Argentina, ainda há tempo de buscar proteção em um fundo cambial. "Não se preocupe com rentabilidade, mas, sim, com hedge", recomenda ele.

O comportamento dos fundos cambiais nos últimos sete anos permite, porém, questionar a tese de que só vale a pena aplicar nessa modalidade de fundo para proteger o patrimônio em dólar.

Para Orlando Zainaghi, diretor de distribuição de fundos do banco Santander, os fundos cambiais foram criados para dar proteção aos investidores frente à oscilação do dólar. "Mas acabaram virando uma opção de diversificação", diz Zainaghi.

No entanto, ele recomenda ao pequeno investidor tomar muito cuidado com esse produto. "Só deve aplicar em fundo cambial quem está disposto a tomar sustos no meio do caminho", alerta. Ele dá como exemplo o desempenho do fundo cambial do Santander desde janeiro de 2000 até agora. "O fundo, em razão da queda do dólar, registrou cota negativa em quatro dos 21 meses analisados", conta Zainaghi. Por isso ele recomenda aos investidores aplicar no máximo 20% das economias nesse produto.

André Oda, do Labfin, também diz que os cambiais podem ser uma opção de diversificação para o investidor leigo. "Mas é preciso aplicar num fundo cambial e ficar esperando uma crise, quando o dólar tem seus picos de alta. Hoje estamos no meio da crise, não é a melhor hora para entrar", conclui.

Na opinião do economista Sérgio Werlang, ex-diretor do BC, as últimas medidas do governo para tirar liquidez dos bancos e derrubar o dólar devem surtir efeito nos próximos 15 dias. "O mercado já está antecipando isso, daí a queda da semana passada."

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