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01/10/2001
-
09h17
SILVANA MAUTONE
da Folha de S.Paulo
Em que medida a crise atual, que fez disparar o dólar, derrubou a Bolsa e mantém os juros internos sob risco de novas altas, se distingue das do México (94), da Ásia (97) e da Rússia (98)?
Em todas essas crises, o foco era bem definido, inclusive geograficamente, diferentemente de hoje, quando as dificuldades que deixam nebuloso o cenário econômico estão por todos os lados.
Crise energética, Argentina, desaceleração mundial, recessão norte-americana, sucessão presidencial em 2001 e guerra à vista desenham o quadro atual.
"As crises anteriores eram essencialmente econômicas. Hoje, há também a questão geopolítica, que não segue a lógica do mercado. Por isso comparar o momento atual com uma análise histórica sobre os desempenhos dos ativos nas crises anteriores pode ser uma avaliação muito frágil", diz Jorge Simino, diretor da UAM (Unibanco Asset Management).
Ele admite, porém, que olhar para trás, desde que consideradas as diferenças conjunturais, sempre é útil para ter uma idéia da reação dos mercados.
No caso da Ásia, em 97, os ataques especulativos contra as moedas da região fizeram com que no final de outubro as Bolsas dos países emergentes despencassem.
Segundo levantamento da Sul América Investimentos, a Bovespa caiu, em dólar, em um único dia, 15%. Ela só retornou ao mesmo patamar, em pontos, em meados de março do ano seguinte. Vale ressaltar que, naquele período, a economia norte-americana, que responde por cerca de 30% do PIB mundial e quase 50% dos investimentos em Bolsa no mundo, não vislumbrava nem de longe a ameaça da recessão.
Durante a crise do México, a Bolsa também sofreu forte impacto. Em dólar, superava 5.500 pontos em dezembro de 94, quando a crise começou. Ela só voltou a se sustentar no mesmo patamar em maio de 96, depois de bater em 2.408 pontos em 9 de março de 95.
Na desvalorização do real, em janeiro de 99, porém, a Bolsa praticamente saiu ilesa e seguiu uma trajetória de crescimento. Mas aqui vale lembrar que a chamada nova economia impulsionava os principais mercados acionários.
"No Brasil, acho que não foi a nova economia que impulsionou a Bolsa, mas, sim, o fato de que a desvalorização tornou os papéis muito baratos aos grandes investidores estrangeiros", diz Simino. Ele ressalta que também teve impacto positivo o fato de a alta do dólar não ter sido repassada para os preços, como se temia.
A análise histórica para o dólar também fica comprometida porque nas crises de 97 e 98, por exemplo, vigorava o câmbio fixo. Tanto que do final de outubro de 97 a outubro de 98 o dólar teve uma variação de apenas 8%.
Com a crise desencadeada pela desvalorização cambial, em janeiro de 99, a situação já era mais parecida com a atual. Por alguns meses, a cotação do dólar andou completamente sem rumo.
Os juros também foram amplamente usados no passado para tentar frear a saída de capital estrangeiro. Em outubro de 97, na crise asiática, de um dia para o outro a taxa do CDI (Certificado de Depósito Interbancário) de 30 dias passou de 2,2% para 4,62%. E só retornou ao patamar anterior em junho de 98, voltando a subir três meses depois. Hoje, ela está em cerca de 2%.
Apesar do cenário global mais sombrio, há quem considere que o Brasil possa se sair melhor na crise atual do que nas anteriores. "Hoje, o sacrifício da economia brasileira é menor do que nas crises precedentes. Basta lembrar os juros reais naqueles períodos e agora", diz Octavio de Barros, economista-chefe do BBV Banco.
O presidente da LAM (Lloyds Asset Management), Walter Brasil Mundell, adverte que estamos no final do ciclo que começou com a crise do México e iniciou o período de refluxos de capital dos países emergentes. Por isso considera decisivo que o país defina uma política de desenvolvimento industrial, para diminuir sua dependência do capital estrangeiro.
"Mas acho que o mercado acionário oferece hoje oportunidades de excelente retorno para as carteiras constituídas agora, considerando um horizonte de dois a três anos", diz. Segundo ele, essa perspectiva só não se concretizará se os EUA não retomarem o crescimento em 2002 e a situação da Europa e do Japão piorar. "Mas não acredito que isso vá ocorrer."
Leia mais sobre os reflexos do terrorismo na economia
Crise atual no câmbio é diferente das anteriores
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Em que medida a crise atual, que fez disparar o dólar, derrubou a Bolsa e mantém os juros internos sob risco de novas altas, se distingue das do México (94), da Ásia (97) e da Rússia (98)?
Em todas essas crises, o foco era bem definido, inclusive geograficamente, diferentemente de hoje, quando as dificuldades que deixam nebuloso o cenário econômico estão por todos os lados.
Crise energética, Argentina, desaceleração mundial, recessão norte-americana, sucessão presidencial em 2001 e guerra à vista desenham o quadro atual.
"As crises anteriores eram essencialmente econômicas. Hoje, há também a questão geopolítica, que não segue a lógica do mercado. Por isso comparar o momento atual com uma análise histórica sobre os desempenhos dos ativos nas crises anteriores pode ser uma avaliação muito frágil", diz Jorge Simino, diretor da UAM (Unibanco Asset Management).
Ele admite, porém, que olhar para trás, desde que consideradas as diferenças conjunturais, sempre é útil para ter uma idéia da reação dos mercados.
No caso da Ásia, em 97, os ataques especulativos contra as moedas da região fizeram com que no final de outubro as Bolsas dos países emergentes despencassem.
Segundo levantamento da Sul América Investimentos, a Bovespa caiu, em dólar, em um único dia, 15%. Ela só retornou ao mesmo patamar, em pontos, em meados de março do ano seguinte. Vale ressaltar que, naquele período, a economia norte-americana, que responde por cerca de 30% do PIB mundial e quase 50% dos investimentos em Bolsa no mundo, não vislumbrava nem de longe a ameaça da recessão.
Durante a crise do México, a Bolsa também sofreu forte impacto. Em dólar, superava 5.500 pontos em dezembro de 94, quando a crise começou. Ela só voltou a se sustentar no mesmo patamar em maio de 96, depois de bater em 2.408 pontos em 9 de março de 95.
Na desvalorização do real, em janeiro de 99, porém, a Bolsa praticamente saiu ilesa e seguiu uma trajetória de crescimento. Mas aqui vale lembrar que a chamada nova economia impulsionava os principais mercados acionários.
"No Brasil, acho que não foi a nova economia que impulsionou a Bolsa, mas, sim, o fato de que a desvalorização tornou os papéis muito baratos aos grandes investidores estrangeiros", diz Simino. Ele ressalta que também teve impacto positivo o fato de a alta do dólar não ter sido repassada para os preços, como se temia.
A análise histórica para o dólar também fica comprometida porque nas crises de 97 e 98, por exemplo, vigorava o câmbio fixo. Tanto que do final de outubro de 97 a outubro de 98 o dólar teve uma variação de apenas 8%.
Com a crise desencadeada pela desvalorização cambial, em janeiro de 99, a situação já era mais parecida com a atual. Por alguns meses, a cotação do dólar andou completamente sem rumo.
Os juros também foram amplamente usados no passado para tentar frear a saída de capital estrangeiro. Em outubro de 97, na crise asiática, de um dia para o outro a taxa do CDI (Certificado de Depósito Interbancário) de 30 dias passou de 2,2% para 4,62%. E só retornou ao patamar anterior em junho de 98, voltando a subir três meses depois. Hoje, ela está em cerca de 2%.
Apesar do cenário global mais sombrio, há quem considere que o Brasil possa se sair melhor na crise atual do que nas anteriores. "Hoje, o sacrifício da economia brasileira é menor do que nas crises precedentes. Basta lembrar os juros reais naqueles períodos e agora", diz Octavio de Barros, economista-chefe do BBV Banco.
O presidente da LAM (Lloyds Asset Management), Walter Brasil Mundell, adverte que estamos no final do ciclo que começou com a crise do México e iniciou o período de refluxos de capital dos países emergentes. Por isso considera decisivo que o país defina uma política de desenvolvimento industrial, para diminuir sua dependência do capital estrangeiro.
"Mas acho que o mercado acionário oferece hoje oportunidades de excelente retorno para as carteiras constituídas agora, considerando um horizonte de dois a três anos", diz. Segundo ele, essa perspectiva só não se concretizará se os EUA não retomarem o crescimento em 2002 e a situação da Europa e do Japão piorar. "Mas não acredito que isso vá ocorrer."
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