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02/10/2001 - 07h55

Economia de guerra vai causar déficit nos EUA

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RICHARD W. STEVENSON
do ''The New York Times''

Analistas de dentro e de fora do governo dizem que os grandes excedentes do orçamento dos últimos anos deverão dar lugar a um déficit no ano fiscal que começou ontem, uma inversão surpreendente causada pelo enfraquecimento da economia e pela campanha contra o terrorismo lançada pelo presidente George W. Bush.

A Comissão de Orçamento do Congresso espera que o governo administre um excedente de US$ 121 bilhões no ano que terminou no domingo, contra US$ 236 bilhões no ano anterior. É previsto que o governo no máximo equilibrará suas contas, depois de pagar a ação militar, as iniciativas de reconstrução e um pacote de incentivo econômico, e provavelmente gastará dezenas de bilhões de dólares a mais do que recebe.

Ainda na última primavera, antes da aprovação do corte de impostos de US$ 1,35 trilhão e antes que ficasse clara a extensão da desaceleração econômica, a comissão projetava um excedente de US$ 304 bilhões no próximo ano. Embora exista um consenso bipartidário de que o país deve gastar o que for preciso depois dos ataques terroristas, a mudança das previsões orçamentárias pode ter consideráveis efeitos econômicos e políticos a longo prazo.

A meta de saldar a maior parte da dívida de US$ 3,3 bilhões já foi questionada. Propostas como ajudar os aposentados a pagar por remédios foi adiada. A "caixa-forte" da Seguridade Social foi abandonada, deixando impreciso como o governo enfrentará os custos crescentes dos benefícios de aposentadoria para uma população que está envelhecendo.

Queima de excedentes

Os dois partidos enfrentam um combate sobre a melhor forma de colocar o governo no rumo dos excedentes, e como o dinheiro, mais escasso, deve ser alocado. Uma análise dos democratas da comissão concluiu que o orçamento de cerca de US$ 2 trilhões para o próximo ano ficará em déficit de US$ 8 bilhões, numa previsão otimista sobre a economia e os custos da reação aos ataques terroristas, e um déficit de US$ 70 bilhões sob previsões pessimistas.

A consultoria Goldman Sachs projetou um déficit para o próximo ano de US$ 25 bilhões, com um risco substancial de que possa ser maior.

Stanley Collender, diretor do Grupo de Consultoria do Orçamento Federal na firma de relações-públicas Fleischman-Hillard, disse que é difícil imaginar que o excedente não seja liquidado no próximo ano. "É indiscutível que um orçamento equilibrado é o melhor que se pode fazer", diz. "É provável que terminemos com um déficit orçamentário."

Projetar excedentes e déficits com um ano de antecedência é uma tarefa imprecisa, e desta vez há mais incertezas do que de hábito, inclusive sobre a natureza e a duração do combate e a profundidade dos problemas econômicos. Mas mesmo que o governo termine o próximo ano sem déficit, é improvável que volte à situação de apenas um mês atrás, quando ambos os partidos supunham que pudessem contar com excedentes grandes e crescentes para pagar diversas iniciativas. Um único ano ruim poderia prejudicar profundamente as projeções de US$ 3,4 trilhões em excesso de renda para a próxima década.

Menos verba, mais gasto

Quando a economia está fraca, o desemprego aumenta e as pessoas que trabalham ganham menos, reduzindo a renda do governo dos impostos, que financia a Seguridade Social e a assistência à saúde. Um declínio nos lucros provoca uma erosão no imposto de renda das empresas. Um mercado de ações estagnado ou em queda significa que as pessoas têm menos ganhos de capital. Ao mesmo tempo, os gastos do governo tendem a aumentar quando a economia enfraquece. Por exemplo, os pagamentos de seguros-desemprego e benefícios sociais aumentam.

Por isso, o excedente diminui e o déficit aumenta, tanto pelo rendimento menor quanto pelo custo maior. Excedentes menores ou déficits maiores também aumentam os pagamentos de juros que o governo deve fazer sobre sua dívida.

Membros de ambos os partidos disseram que nessas circunstâncias é normal o governo ter déficit por um ou dois anos. Não há prioridades maiores, dizem, que a segurança nacional e o crescimento. Perguntado sobre a perspectiva de déficit, o porta-voz de Bush, Ari Fleischer, disse que o país tem sorte de entrar nessa fase com dinheiro disponível para colocar em ação o combate ao terrorismo e revigorar a economia.

"A prioridade é tomar as medidas necessárias para proteger o país", disse. "As implicações orçamentárias ainda deverão ser definidas, e essas também serão orientadas pela economia."

Gene Sperling, que foi assessor de política econômica de Clinton, disse que um motivo para usar os excedentes "é poder desarmar o canhão fiscal e armar os canhões militares em tempos de crise." Ao fazer sua projeção de US$ 25 bilhões de déficit para o próximo ano, a Goldman Sachs disse que a previsão oficial mais recente doa Congresso para um excedente de US$ 176 bilhões já foi reduzida.

Dos US$ 40 bilhões em gastos de emergência para os militares e iniciativas de ajuda aprovados pelo Congresso neste mês, cerca de US$ 26 bilhões virão do orçamento do próximo ano. Um esperado pacote de estímulo à economia, mais a ajuda à indústria da aviação e as expectativas mais baixas de crescimento cortarão outros US$ 110 bilhões do excedente, na estimativa da companhia.

Tombo das ações

A previsão da equipe democrata da Comissão de Orçamento da Câmara se baseia na possibilidade de que a economia não produza tanto imposto de renda quanto nos últimos anos, mesmo depois de se ajustar à desaceleração do crescimento econômico, devido à fraqueza do mercado de ações.

"Os preços das ações caíram muito e podem permanecer baixos diante do clima incerto que temos pela frente", disseram os democratas em sua análise. "Em consequência, o imposto relacionado ao maior rendimento dos ganhos de capital, opções de ações, títulos e lucros corporativos agora podem cair."

Mas mesmo antes que a previsão orçamentária para o próximo ano seja definida precisamente, os partidos estão lançando as bases para um debate sobre como restaurar o governo a uma condição fiscal mais forte a longo prazo.

Os democratas dizem que o governo deve alocar o dinheiro que for preciso agora para as necessidades militares e para um pacote de corte de impostos e novos gastos para ajudar a economia.

Mas eles dizem que o estímulo em curto prazo deve ser acompanhado de um compromisso de administrar os excedentes e pagar mais dívidas no longo prazo. Além disso, dizem os democratas, o país ainda enfrenta o mesmo desafio fiscal em longo prazo que antes de 11 de setembro: pagar as aposentadorias para uma população que envelhece rapidamente.

Nas próximas duas décadas a Seguridade Social norte-americana não conseguirá mais cobrir os benefícios com os impostos que coleta.

*Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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