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03/10/2001
-
07h54
do ''Financial Times''
A política econômica dos EUA foi galvanizada pelos ataques terroristas. Os debates técnicos do trimestre passado sobre o seguro social e seus problemas são coisa do passado. Em lugar disso, surgiu um novo consenso de Washington, que estipula que a economia precisa de auxílio oficial, da política monetária e cortes de impostos, bem como por meio de gastos públicos adicionais.
Até agora, o Federal Reserve (Fed, BC dos EUA) ofereceu liquidez quase ilimitada aos mercados. E também cortou as taxas de juros em um ponto percentual desde os ataques (de 3,5% para 3% no dia 17 e de 3% para 2,5% ontem). O Congresso aprovou em tempo recorde um pacote de gastos federais de emergência da ordem de US$ 40 bilhões. E novas verbas de assistência para as linhas aéreas foram prometidas.
No Congresso, o apoio a um aumento dos gastos federais com o objetivo de estimular o crescimento econômico é amplo. O governo provavelmente apoiará a idéia. E planeja, por sua vez, nova série de cortes de impostos. O Congresso está pronto para oferecer apoio quanto a isso.
É uma exibição impressionante de unidade política. Mas o raciocínio econômico que embasa cada uma das novas propostas políticas vem-se debilitando. O preço a ser pago por esse amplo consenso ameaça se tornar alto demais.
Ninguém duvida da fraqueza da economia norte-americana no momento. Ela já estava deslizando para uma recessão quanto os terroristas atacaram. Os dados econômicos divulgados na segunda-feira mostram que o crescimento das rendas e gastos pessoais caiu acentuadamente em agosto. O nível de poupança pessoal cresceu ao seu nível mais alto desde novembro de 1998.
Essa recessão, consequência de uma reacomodação necessária depois de anos de consumo e investimento excepcional, agora se agravará. Mas ninguém tem como prever que duração terá. Devemos esperar.
Dadas essas incertezas ampliadas e os riscos econômicos, o Fed estava certo ao cortar os juros antes que os mercados financeiros fossem reabertos. Mas novas medidas são difíceis de defender. A política monetária já está agindo para estimular a demanda e os efeitos de um novo relaxamento monetário demorariam meses para fazer efeito. Se a recuperação acontecer logo, um grande corte de juros hoje seria inadequado. Poderia representar a volta da expansão inflacionária. Essa ameaça já enervou os mercados de bônus do governo.
Mas o verdadeiro nervosismo, refletido pelo mercado, se relaciona às medidas de tributação e gastos em estudo. A política fiscal não é a ferramenta mais precisa para administrar a demanda. Se o atraso nos efeitos da política monetária é já bastante longo e variável, o da política fiscal é ainda mais longo, e ainda mais incerto.
O rendimento de bônus do Tesouro de prazo mais longo vem subindo desde os ataques. Isso demonstra que, independentemente das consequências em termos de inflação, os mercados se preparam para demanda considerável por empréstimos da parte do governo norte-americano.
Até agora, o pacote de estímulo fiscal foi modesto, representando cerca de 0,5% do PIB dos EUA. Mas as somas que vêm sendo estudadas em termos de gastos e cortes de impostos são quatro vezes mais altas. Além do programa contínuo de reduções de impostos que já está em curso, o novo estímulo fiscal ameaça deixar os EUA com um problema estrutural de déficit orçamentário.
O pior é que os cortes de impostos e aumentos de gastos provavelmente terão pouco efeito, ou serão contraproducentes. Incentivo fiscal ao investimento, por exemplo, é uma das prioridades do governo. O objetivo seria remediar a atual queda no nível de investimento. Mas esse tipo de medida foi tentado em muitos países e não exerceu efeito perceptível sobre os gastos de capital.
Ao longo do tempo, os governos aprenderam que as melhores políticas econômicas promovem a estabilidade macroeconômica e raramente tentam influenciar o comportamento do setor privado. Em tempos de crise, a lição ainda se aplica. A única diferença é que as considerações econômicas são mais difíceis e demoradas.
O corte de juros, feito ontem, pode ser justificável. Mas a necessidade de gerar a aparência de que se está fazendo algo representa um grande perigo para a saúde da economia a longo prazo.
Tradução de Paulo Migliacci
Leia mais no especial sobre atentados nos EUA
Leia mais sobre os reflexos do terrorismo na economia
Esforço do Fed para estimular economia pode ser em vão
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A política econômica dos EUA foi galvanizada pelos ataques terroristas. Os debates técnicos do trimestre passado sobre o seguro social e seus problemas são coisa do passado. Em lugar disso, surgiu um novo consenso de Washington, que estipula que a economia precisa de auxílio oficial, da política monetária e cortes de impostos, bem como por meio de gastos públicos adicionais.
Até agora, o Federal Reserve (Fed, BC dos EUA) ofereceu liquidez quase ilimitada aos mercados. E também cortou as taxas de juros em um ponto percentual desde os ataques (de 3,5% para 3% no dia 17 e de 3% para 2,5% ontem). O Congresso aprovou em tempo recorde um pacote de gastos federais de emergência da ordem de US$ 40 bilhões. E novas verbas de assistência para as linhas aéreas foram prometidas.
No Congresso, o apoio a um aumento dos gastos federais com o objetivo de estimular o crescimento econômico é amplo. O governo provavelmente apoiará a idéia. E planeja, por sua vez, nova série de cortes de impostos. O Congresso está pronto para oferecer apoio quanto a isso.
É uma exibição impressionante de unidade política. Mas o raciocínio econômico que embasa cada uma das novas propostas políticas vem-se debilitando. O preço a ser pago por esse amplo consenso ameaça se tornar alto demais.
Ninguém duvida da fraqueza da economia norte-americana no momento. Ela já estava deslizando para uma recessão quanto os terroristas atacaram. Os dados econômicos divulgados na segunda-feira mostram que o crescimento das rendas e gastos pessoais caiu acentuadamente em agosto. O nível de poupança pessoal cresceu ao seu nível mais alto desde novembro de 1998.
Essa recessão, consequência de uma reacomodação necessária depois de anos de consumo e investimento excepcional, agora se agravará. Mas ninguém tem como prever que duração terá. Devemos esperar.
Dadas essas incertezas ampliadas e os riscos econômicos, o Fed estava certo ao cortar os juros antes que os mercados financeiros fossem reabertos. Mas novas medidas são difíceis de defender. A política monetária já está agindo para estimular a demanda e os efeitos de um novo relaxamento monetário demorariam meses para fazer efeito. Se a recuperação acontecer logo, um grande corte de juros hoje seria inadequado. Poderia representar a volta da expansão inflacionária. Essa ameaça já enervou os mercados de bônus do governo.
Mas o verdadeiro nervosismo, refletido pelo mercado, se relaciona às medidas de tributação e gastos em estudo. A política fiscal não é a ferramenta mais precisa para administrar a demanda. Se o atraso nos efeitos da política monetária é já bastante longo e variável, o da política fiscal é ainda mais longo, e ainda mais incerto.
O rendimento de bônus do Tesouro de prazo mais longo vem subindo desde os ataques. Isso demonstra que, independentemente das consequências em termos de inflação, os mercados se preparam para demanda considerável por empréstimos da parte do governo norte-americano.
Até agora, o pacote de estímulo fiscal foi modesto, representando cerca de 0,5% do PIB dos EUA. Mas as somas que vêm sendo estudadas em termos de gastos e cortes de impostos são quatro vezes mais altas. Além do programa contínuo de reduções de impostos que já está em curso, o novo estímulo fiscal ameaça deixar os EUA com um problema estrutural de déficit orçamentário.
O pior é que os cortes de impostos e aumentos de gastos provavelmente terão pouco efeito, ou serão contraproducentes. Incentivo fiscal ao investimento, por exemplo, é uma das prioridades do governo. O objetivo seria remediar a atual queda no nível de investimento. Mas esse tipo de medida foi tentado em muitos países e não exerceu efeito perceptível sobre os gastos de capital.
Ao longo do tempo, os governos aprenderam que as melhores políticas econômicas promovem a estabilidade macroeconômica e raramente tentam influenciar o comportamento do setor privado. Em tempos de crise, a lição ainda se aplica. A única diferença é que as considerações econômicas são mais difíceis e demoradas.
O corte de juros, feito ontem, pode ser justificável. Mas a necessidade de gerar a aparência de que se está fazendo algo representa um grande perigo para a saúde da economia a longo prazo.
Tradução de Paulo Migliacci
Leia mais no especial sobre atentados nos EUA
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