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01/11/2001 - 08h44

Efeito do terror sobre economia dos EUA divide economistas

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JONATHAN FUERBRINGER
do ''The New York Times''

Entre os economistas, não resta dúvida de que os ataques terroristas contra os Estados Unidos perturbaram tanto os consumidores quanto as empresas e empurraram a economia norte-americana a uma recessão, a primeira em dez anos. Mas avaliar a gravidade da recessão será muito mais difícil.

Louis Crandall, economista-chefe da Wrightson Associates, disse depois do ataque que os analistas haviam "perdido valor, porque nós não sabemos o que os números deveriam estar dizendo agora". E, acrescentou ele, "nesse estado emocional extraordinário, não se pode extrair muitas conclusões sobre o que um número específico significa quanto à economia mais ampla e sobre as tendências para o futuro."

A dificuldade de previsão ficou clara na semana passada. As encomendas de bens duráveis deveriam ter caído 1,3% em setembro, de acordo com a estimativa de consenso entre os economistas norte-americanos.

Mas na verdade a queda atingiu 8,5%, e o volume de encomendas ficou em US$ 165,4 bilhões, o mais baixo desde 1996. E as vendas de imóveis residenciais existentes, para as quais a expectativa de queda era de 6,1% em setembro, de acordo com o consenso das estimativas, apresentaram queda de 11,7%.

Já em se tratando do relatório divulgado hoje sobre o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre, a previsão de consenso era de declínio de 1%. O declínio real foi de 0,4%. A previsão de consenso quanto ao nível de emprego, cujos números oficiais serão divulgados na sexta-feira, é de uma alta de 4,9% para 5,2% no nível de desemprego, e um corte de 300 mil empregos nas folhas de pagamento não-agrícolas.

Ainda que as estatísticas econômicas se tenham tornando mais difíceis de prever, há sinais de que as coisas estão piorando. Um deles é a queda aguda nos preços das commodities.

O índice de preços de matéria-prima industrial bruta do Commodity Research Bureau caiu em 7,3% desde os ataques de 11 de setembro, e um total de 16% no ano até agora. Cotado em 214,81 pontos, o índice está em seu mais baixo nível em 15 anos, bem abaixo de sua marca durante a recessão precedente, em 1990/ 1991. Um declínio nesse índice é frequentemente um sinal de debilitação do crescimento econômico mundial.

Outro sinal de alerta é a alta nos pedidos iniciais de seguro-desemprego, que ultrapassaram os 500 mil na semana passada. Robert J. Barbera, economista-chefe da Hoenig & Company, disse que a alta em relação ao nível semanal médio de 412 mil pedidos anterior aos ataques terroristas demonstra que o número de demissões aumentou.

Porque os gastos dos consumidores são um elemento tão crucial do crescimento econômico, o volume mais elevado de demissões faz com que as perspectivas pareçam ainda mais negativas.

Um outro indicador são as taxas de juros, que continuam a cair. Os juros do título de dois anos do Tesouro norte-americano estão em 2,49%, pouco acima dos 2,44% de terça-feira, a marca mais baixa desde que esse tipo de título começou a ser emitido, nos anos 70.

Os rendimentos de prazo mais longo também estão caindo, oferecendo mais um sinal de que os investidores antecipam uma desaceleração ainda maior, e atenuando o temor quanto à inflação. O rendimento da nota de 10 anos do Tesouro está em 4,43%, perto da marca mais baixa para esses instrumentos desde que começaram a ser emitidos.

Tudo isso gera dúvidas sobre as perspectivas de crescimento econômico no quarto trimestre deste ano. O consenso, de acordo com a Bloomberg News, é de uma queda de cerca de 1%. Mas as previsões individuais vão de uma alta de 2,5% a uma queda de 3,8%.

Mas a história e o impasse nos negócios que se seguiu aos ataques terroristas indicam uma queda mais séria. Nas nove recessões desde 1949, o declínio na atividade econômica durante o pior trimestre de queda variou de um declínio de 3,3% na recessão de 1990/1991 a um mergulho de 10,3% na recessão de 1957/1958. O declínio médio para o pior trimestre de cada recessão ficou ao redor de 6%.

Se, como muitas das previsões indicam, a economia se recuperar no ano que vem, há uma boa chance de que o quarto trimestre deste ano seja o pior da recessão. E essa possibilidade, combinada à queda nos preços das commodities, à queda nas taxas de juros e ao aumento nos pedidos de seguro-desemprego, torna a previsão de consenso de uma queda de 1% no crescimento econômico para os três meses finais do ano um tanto suspeita.

*Tradução de Paulo Migliacci

Leia mais sobre os reflexos do terrorismo na economia

 

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