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05/03/2003 - 03h07

Papéis argentinos têm ganho elevado

ÉRICA FRAGA
da Folha de S.Paulo

Depois do fundo do poço, vêm as oportunidades de grandes lucros. Essa paráfrase reflete bem a situação da Argentina hoje. Investidores que decidiram correr o alto risco de comprar ativos do país, depois do seu colapso financeiro no fim de 2001, embolsam agora ganhos expressivos.

Com altas de, respectivamente, 14,7% e 49,1% -até sexta-, a Bolsa de Buenos Aires é a que mais subiu em dólares no mundo no ano e nos últimos 12 meses.

Os títulos da dívida de empresas argentinas que, assim como o governo, também deram calote, exibem hoje grande recuperação. Levantamento feito pela consultoria GlobalInvest a pedido da Folha mostra que, em média, os papéis de 13 grandes empresas do país que estão inadimplentes tiveram alta de 31,8% entre 20 de maio de 2002 e 20 de fevereiro deste ano.

Até os títulos da dívida soberana argentina tiveram, em média, alta de 5,8%, desde maio de 2002.

Isso quer dizer que a Argentina já se recobrou totalmente e que a situação econômica do país é um mar de rosas? Não. Longe disso. Mas esse movimento reflete, sim, a lenta recuperação do país, cujo PIB (Produto Interno Bruto) deverá crescer entre 4% e 5% neste ano, depois de ter encolhido mais de 10% em 2002.

Se, por um lado, a expansão econômica deste ano se deve ao fato de que a base de comparação- 2002- é muito deprimida, por outro, significa que, aos poucos, indicadores econômicos começam a ganhar algum fôlego. Em janeiro passado, por exemplo, a produção industrial cresceu 4% em relação a dezembro de 2002 (tirando as variações sazonais).

Esses sinais de volta por cima começaram a atiçar o interesse daqueles investidores dispostos a tomar grandes riscos, principalmente os "hedge funds".

"A perspectiva de melhora da economia faz com que os credores dos títulos privados estejam dispostos a renegociar as dívidas. Isso tem feito com que "hedge funds" e alguns investidores locais resolvam correr o risco desses papéis", diz Gustavo Alcântara, gerente do Banco Prosper.

Na Bolsa, a recuperação, que havia começado pontualmente com empresas de setores exportadores, chega agora às mais ligadas à economia doméstica.

Altas expressivas

Alguns exemplos de empresas que tiveram fortes altas em dólar neste ano, até a última sexta-feira, são: Renault Argentina (automobilística), 48,7%; YPF (petrolífera), 18,3%; Banco Francês, 37%; Telecom Argentina (telefonia), 54,5%, Acindar (siderúrgica), 18,5% e Banco Hipotecário, 44%. Os dados são da Economática.

Os títulos da dívida privada do país também registram altas, de 20 de maio de 2002 a 20 de fevereiro deste ano, de 19,9% (YPF) a 89,47% (Mastellone Hermanos).

Para Marcelo D'Agosto, sócio da consultoria InvestMate, essa demanda por papéis privados é dirigida principalmente às empresas que estão reestruturando as dívidas e, portanto, devem pagar ao menos os juros atrasados.

Já as companhias inadimplentes que ainda não estão em processo de reestruturação, mas têm chances de se recuperar, atraem investidores mais agressivos que esperam, no caso de uma renegociação, trocar seus títulos por participação acionária.

Hedge funds
A história da ressurreição de investimentos em ações e títulos privados argentinos repete situações vividas por outros países emergentes nos últimos anos.

O curioso é que, em todos os casos de crises recentes em mercados emergentes, o colapso financeiro é detonado pela saída em massa de recursos dos "hedge funds", que fogem nos primeiros sinais de problema e acabam piorando ainda mais a situação.

Depois, também aos primeiros sinais de recuperação, os mesmos "hedge funds", sempre dispostos a correr grandes riscos, são os primeiros a voltar. No saldo final, esses fundos acabam embolsando enormes lucros com a crise que ajudaram a pelo menos, agravar.

O diretor de um banco de investimentos brasileiro lembra que foi exatamente isso o que ocorreu na Rússia. Segundo ele, os "hedge funds" que compraram títulos públicos da Rússia depois do "default" de 1998, quando estavam valendo pó, chegaram a embolsar lucros de até 500% meses depois.

Depois de reestruturar sua dívida, a Rússia deu uma guinada e, até hoje, investir no país tem sido bom negócio.

 

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