Publicidade
Publicidade
29/06/2003
-
16h00
da Folha Online
Mais de 100 mil brasileiros deixam o país por ano, um número que lota um Maracanã. A tendência é de aumento desse êxodo. Nos últimos cinco anos, a população emigrante cresceu 33%. Hoje mais de 2 milhões moram no exterior, aponta pesquisa do Itamaraty, ainda inédita.
Segundo empresas e entidades que auxiliam a migração, os principais motivos dessa fuga são a persistente crise do mercado de trabalho e a piora contínua das condições de vida nas grandes cidades, como a violência e o caos urbano. Mês a mês, as estatísticas oficiais só atualizam recordes de desemprego, de queda da produção e dos salários.
"Se o país voltar a crescer, criando oportunidades de renda, é possível que muitos retornem e outros desistam de migrar", diz o prefeito de Governador Valadares, João Fassarela (PT). A cidade mineira é famosa por "exportar" mão-de-obra para os EUA.
Por enquanto, com a economia à beira da recessão, sufocada pelos juros elevados, o interesse de sair do país segue forte. O anúncio de 400 vagas para trabalhar como jardineiro nos EUA atraiu centenas de pessoas a uma empresa na capital paulista.
Bye, bye, Brasil
"O brasileiro está muito descontente. A gente só ouve falar em demissão e violência. Muitos se cansam disso e, por serem imediatistas, acham o aeroporto a melhor saída", afirma o diretor da empresa de recrutamento Workusa, Márcio Ferreira.
Na sua avaliação, o começo do verão no hemisfério Norte e as férias de julho aceleram esse movimento, pois aumenta a oferta de vagas de trabalho nos setores de turismo e entretenimento, como parques, hotéis, clubes de golfe e restaurantes.
"No primeiro mundo, fica mais fácil sonhar com o futuro, crescer profissionalmente, levar uma vida tranquila. O país oferece tudo, mesmo para quem está ilegal", diz o paulista Edmir Matusita, 30, que trabalha na Califórnia, em situação regular.
Hoje um terço dos emigrantes está clandestino no mundo, segundo o governo. Nos EUA, os ilegais somam mais da metade da comunidade brasileira. Mas entrar sem visto ficou mais arriscado. As fronteiras estão mais vigiadas devido ao terrorismo.
A partir do próximo dia 15, entram em vigor regras mais rígidas na concessão de vistos temporários para os EUA. A principal mudança: praticamente todo mundo será entrevistado. Exceções: autoridades e pessoas abaixo de 16 e acima de 60 anos.
Muitos voltam frustrados da aventura lá fora. Pior: a Justiça impede alguns de retornar. Segundo o Itamaraty, cerca de 1.300 brasileiros estão detidos no exterior. Nos EUA, são 203 presos. No Japão, 175.
"Em 2002, o brasileiro liderou os casos de deliquência juvenil no Japão e ficou em segundo em criminalidade, só perdendo para os chineses", afirma o presidente do Ciate (Centro de Informação e Apoio ao Trabalhador no Exterior), Masato Ninomiya.
1% do PIB
Quem mora fora também ajuda a economia do país. Em 2002, eles mandaram US$ 4,6 bilhões, um aumento de 10% em relação ao ano anterior. Essa cifra corresponde a 1% do PIB brasileiro, segundo estudo de um órgão do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Desse total, US$ 1,4 bilhão entrou no país por meio das 27 unidades do Banco do Brasil no exterior -- uma aumento de 57% em relação a 2001 (US$ 890 milhões).
"O êxodo não é nocivo ao país. Abre os horizontes da pessoa, que adquire conhecimento e hábitos novos", afirma o gerente da área internacional do Banco do Brasil, Eduardo Nascimento, 37. Cearense, ele morou quatro anos na Inglaterra, onde dirigiu uma subsidiária do BB.
A exploração da mão-de-obra estrangeira também expõe as diferenças da qualidade do trabalho nos países desenvolvidos.
"Os japoneses não querem mais fazer trabalho braçal, pesado. Eles não colocam a mão na massa. Preferem contratar estrangeiros. Também não deixam a pessoa de fora ocupar funções melhores, tomando seu lugar", diz o nissei Fernando Sato, 29, que cogita retornar ao Japão.
Países pobres também atraem os brasileiros. O vizinho Paraguai é segundo principal destino dos emigrantes, conhecidos como "brasiguaios", empregados principalmente nas plantações de soja. Nas últimas décadas, eles protagonizam conflitos com os fazendeiros paraguaios, marcados pela violência e denúncias de exploração da mão-de-obra.
Títulos de eleitor
O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) também comprova o crescimento da comunidade brasileira no exterior. O número de eleitores com título registrado nas embaixadas e consulados cresceu 61% entre 2000 e 2002. Hoje são quase 70 mil pessoas (entre 16 anos e acima de 79) aptas a votar no exterior. Em 2000, eram 43,4 mil.
O levantamento do Itamaraty sobre os brasileiros no exterior é feito com base nos dados enviados pelas 162 embaixadas e consulados. O estudo reflete também as estimativas de autoridades locais para o número de pessoas em situação irregular. O balanço completo de 2002, o terceiro feito pelo governo federal, está na fase final de compilação. O Itamaraty só adiantou à Folha Online a estimativa do total e a média anual de saída.
O Ministério de Relações Exteriores pondera que os números são apenas estimativas, visto que esse indicador é bastante flutuante e de difícil contabilização devido ao elevado número de clandestinos
Procurados pela reportagem, o Ministério do Trabalho, a Secretaria dos Direitos Humanos, a Embaixada dos EUA no Brasil não quiseram se manifestar sobre o assunto. O IBGE informou que nãodispõe de números sobre o êxodo. A população no exterior corresponde a um pouco mais de 1% de todos os brasileiros (175 milhões).
Leia mais
Cantora Angela Maria desiste de deixar o Brasil
Com medo de pneumonia, EUA demitem asiáticos e contratam latinos
Filho de prefeito petista ganha a vida como pintor nos EUA
Para voltar ao Brasil, emigrante precisa aprender a economizar
Nem crise japonesa reverte fenômeno dos dekasseguis
Especial
Enquete: o que deve ser feito para reduzir a fuga de brasileiro para o exterior?
Sites relacionados
Visite o site do Ciate
Visite o site da Workusa
Veja o número de brasileiros em cada país, em Word
Veja estatísticas da imigração dos EUA, em PDF
Veja dados da remessa de dinheiro por imigrantes, em PDF
Desemprego e violência levam 100 mil brasileiros a deixar o país todo ano
SÉRGIO RIPARDOda Folha Online
Mais de 100 mil brasileiros deixam o país por ano, um número que lota um Maracanã. A tendência é de aumento desse êxodo. Nos últimos cinco anos, a população emigrante cresceu 33%. Hoje mais de 2 milhões moram no exterior, aponta pesquisa do Itamaraty, ainda inédita.
Segundo empresas e entidades que auxiliam a migração, os principais motivos dessa fuga são a persistente crise do mercado de trabalho e a piora contínua das condições de vida nas grandes cidades, como a violência e o caos urbano. Mês a mês, as estatísticas oficiais só atualizam recordes de desemprego, de queda da produção e dos salários.
"Se o país voltar a crescer, criando oportunidades de renda, é possível que muitos retornem e outros desistam de migrar", diz o prefeito de Governador Valadares, João Fassarela (PT). A cidade mineira é famosa por "exportar" mão-de-obra para os EUA.
Por enquanto, com a economia à beira da recessão, sufocada pelos juros elevados, o interesse de sair do país segue forte. O anúncio de 400 vagas para trabalhar como jardineiro nos EUA atraiu centenas de pessoas a uma empresa na capital paulista.
Bye, bye, Brasil
"O brasileiro está muito descontente. A gente só ouve falar em demissão e violência. Muitos se cansam disso e, por serem imediatistas, acham o aeroporto a melhor saída", afirma o diretor da empresa de recrutamento Workusa, Márcio Ferreira.
Na sua avaliação, o começo do verão no hemisfério Norte e as férias de julho aceleram esse movimento, pois aumenta a oferta de vagas de trabalho nos setores de turismo e entretenimento, como parques, hotéis, clubes de golfe e restaurantes.
"No primeiro mundo, fica mais fácil sonhar com o futuro, crescer profissionalmente, levar uma vida tranquila. O país oferece tudo, mesmo para quem está ilegal", diz o paulista Edmir Matusita, 30, que trabalha na Califórnia, em situação regular.
Hoje um terço dos emigrantes está clandestino no mundo, segundo o governo. Nos EUA, os ilegais somam mais da metade da comunidade brasileira. Mas entrar sem visto ficou mais arriscado. As fronteiras estão mais vigiadas devido ao terrorismo.
A partir do próximo dia 15, entram em vigor regras mais rígidas na concessão de vistos temporários para os EUA. A principal mudança: praticamente todo mundo será entrevistado. Exceções: autoridades e pessoas abaixo de 16 e acima de 60 anos.
Muitos voltam frustrados da aventura lá fora. Pior: a Justiça impede alguns de retornar. Segundo o Itamaraty, cerca de 1.300 brasileiros estão detidos no exterior. Nos EUA, são 203 presos. No Japão, 175.
"Em 2002, o brasileiro liderou os casos de deliquência juvenil no Japão e ficou em segundo em criminalidade, só perdendo para os chineses", afirma o presidente do Ciate (Centro de Informação e Apoio ao Trabalhador no Exterior), Masato Ninomiya.
1% do PIB
|
Desse total, US$ 1,4 bilhão entrou no país por meio das 27 unidades do Banco do Brasil no exterior -- uma aumento de 57% em relação a 2001 (US$ 890 milhões).
"O êxodo não é nocivo ao país. Abre os horizontes da pessoa, que adquire conhecimento e hábitos novos", afirma o gerente da área internacional do Banco do Brasil, Eduardo Nascimento, 37. Cearense, ele morou quatro anos na Inglaterra, onde dirigiu uma subsidiária do BB.
A exploração da mão-de-obra estrangeira também expõe as diferenças da qualidade do trabalho nos países desenvolvidos.
"Os japoneses não querem mais fazer trabalho braçal, pesado. Eles não colocam a mão na massa. Preferem contratar estrangeiros. Também não deixam a pessoa de fora ocupar funções melhores, tomando seu lugar", diz o nissei Fernando Sato, 29, que cogita retornar ao Japão.
Países pobres também atraem os brasileiros. O vizinho Paraguai é segundo principal destino dos emigrantes, conhecidos como "brasiguaios", empregados principalmente nas plantações de soja. Nas últimas décadas, eles protagonizam conflitos com os fazendeiros paraguaios, marcados pela violência e denúncias de exploração da mão-de-obra.
|
O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) também comprova o crescimento da comunidade brasileira no exterior. O número de eleitores com título registrado nas embaixadas e consulados cresceu 61% entre 2000 e 2002. Hoje são quase 70 mil pessoas (entre 16 anos e acima de 79) aptas a votar no exterior. Em 2000, eram 43,4 mil.
O levantamento do Itamaraty sobre os brasileiros no exterior é feito com base nos dados enviados pelas 162 embaixadas e consulados. O estudo reflete também as estimativas de autoridades locais para o número de pessoas em situação irregular. O balanço completo de 2002, o terceiro feito pelo governo federal, está na fase final de compilação. O Itamaraty só adiantou à Folha Online a estimativa do total e a média anual de saída.
O Ministério de Relações Exteriores pondera que os números são apenas estimativas, visto que esse indicador é bastante flutuante e de difícil contabilização devido ao elevado número de clandestinos
Procurados pela reportagem, o Ministério do Trabalho, a Secretaria dos Direitos Humanos, a Embaixada dos EUA no Brasil não quiseram se manifestar sobre o assunto. O IBGE informou que nãodispõe de números sobre o êxodo. A população no exterior corresponde a um pouco mais de 1% de todos os brasileiros (175 milhões).
Leia mais
Especial
Sites relacionados
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Ministério Público pede bloqueio de R$ 3,8 bi de dono de frigorífico JBS
- Por que empresa proíbe caminhões de virar à esquerda - e economiza milhões
- Megarricos buscam refúgio na Nova Zelândia contra colapso capitalista
- Com 12 suítes e 5 bares, casa mais cara à venda nos EUA custa US$ 250 mi
- Produção industrial só cresceu no Pará em 2016, diz IBGE
+ Comentadas
- Programa vai reduzir tempo gasto para pagar impostos, diz Meirelles
- Ministério Público pede bloqueio de R$ 3,8 bi de dono de frigorífico JBS
+ EnviadasÍndice