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04/05/2005
-
09h50
FABIANA FUTEMA
VINICIUS ALBUQUERQUE
da Folha Online
O grupo francês Casino, o quinto maior supermercadista da França, irá pagar US$ 900 milhões para adquirir ações que lhe darão o direito de dividir o controle do grupo CBD (Companhia Brasileira de Distribuição) com o empresário Abílio Diniz. O grupo CBD engloba as redes Pão de Açúcar, Extra, Eletro, CompreBem Barateiro e Sendas.
Hoje, o controle da CBD está nas mãos do PAIC (Pão de Açúcar Indústria e Comércio), que detém 61% das ações do grupo. Outros 24% estão com o Casino. Os 15% restantes estão com a família de Abílio Diniz --10% são seus e 5% são de seu pai (Valentim dos Santos Diniz) e de sua irmã (Lucília Maria dos Santos Diniz).
Com a transação anunciada hoje, o controle da CBD sairá do PAIC e passará para uma nova holding. O capital dessa nova holding será dividido entre Abílio Diniz e o grupo francês Casino.
A nova holding terá 65,6% do capital da CBD. Além de ter metade dessa holding, o Casino passará a ter mais 28,7% das ações preferenciais do grupo varejista. Entretanto, um acordo de acionistas determina que somente a holding terá direito a voto nas decisões da CBD. Dessa forma, o controle da CBD será compartilhado entre Abílio Diniz e o Casino, apesar do grupo francês possuir um percentual maior de ações --entre preferenciais e ordinárias. É que o controle estará restrito à holding.
Maior rede de varejo do Brasil, a CBD faturou no ano passado cerca de R$ 15 bilhões. Em segundo lugar no ranking do varejo brasileiro, aparece outra empresa de controle francês, o Carrefour.
O objetivo da família Diniz com o negócio é reduzir o endividamento líquido da empresa, que estava em R$ 897 milhões até março. Esse endividamento será zerado com o pagamento de R$ 1 bilhão em dinheiro que o Casino fará a Abílio Diniz. Além desse montante, o empresário receberá US$ 200 milhões em títulos conversíveis em ações da rede francesa e mais 12,5 bilhões de ações preferenciais do Pão de Açúcar que pertenciam ao Casino. Somando tudo, o Casino deverá desembolsar US$ 900 milhões para ficar com 20,3 bilhões de ações ordinárias da CBD.
Pelo acordo entre as partes, o montante que será recebido por Diniz (R$ 1 bilhão) será integralmente utilizado na compra de 60 imóveis --supermercados e hipermercados-- do Pão de Açúcar. Como esses imóveis estão avaliados em R$ 1,029 bilhão, a diferença de R$ 29 milhões sairá do patrimônio pessoal de Abílio Diniz.
Com a entrada desse R$ 1 bilhão em caixa, a CBD conseguirá zerar a dívida líquida e ainda ficar com R$ 103 milhões em caixa.
Por sua vez, Diniz irá alugar esses imóveis para o Pão de Açúcar em valores de mercado. Os contratos de aluguel são de 20 anos, renováveis por mais 10 em duas ocasiões, a um aluguel equivalente a 2% das vendas brutas mensais de cada loja. Estima-se que ele vá receber cerca de R$ 117 milhões por ano da CBD em aluguéis.
O presidente do grupo Pão de Açúcar, Augusto Cruz, disse que essa operação provocará um impacto positivo no lucro líquido do grupo de R$ 89 milhões a cada 12 meses. Ele considera que além da redução do endividamento, o balanço da companhia também será beneficiado pela diminuição da conta de depreciação causada pela transferência dos ativos --imóveis que foram vendidos para Diniz.
O acordo também prevê que nos próximos quatro anos serão feitos R$ 2,5 bilhões em investimentos na abertura de 40 hipermercados e 120 supermercados.
A venda de ações da CBD para o Casino já era esperada pelo mercado --os franceses possuem participação no grupo desde 1999 e sempre tiveram a intenção de aumentá-la. Surpreendeu, entretanto, que o negócio tenha envolvido o partilhamento do controle do grupo entre a família Diniz e os franceses.
O empresário Abilio Diniz continuará a ser o presidente do Conselho da CBD e também será nomeado presidente do Conselho da holding que controla a empresa. A partir de 2012, entretanto, o grupo francês poderá ter o direito de nomear o presidente da holding, mas isso ainda dependerá de uma série de condições.
Diniz, entretanto, disse que não é sua intenção sair do controle do grupo. "Esse negócio só se viabilizou porque essa é uma empresa brasileira, gerenciada por brasileiros e que tem orgulho de ser brasileira. Mesmo que eles [Casino] queiram [o controle], a gerência do negócio continuará comigo."
A rede francesa foi a segunda em dois dias a anunciar expansão de sua participação em países emergentes, como parte da estratégia dos varejistas europeus em diminuir a dependência dos países europeus, onde o desemprego e os altos preços do petróleo (que refletem em altas da inflação) já começam a afetar a capacidade de gastos do consumidor.
O grupo Carrefour, maior supermercadista europeu, comprou ontem o controle de uma rede varejista na Turquia, tornando-se a líder no país.
Ambas as redes vêm reduzindo seus preços desde o ano passado devido à pressão do governo para tentar reativar o mercado doméstico. O consumo na França tem caído e o governo espera reduzir os preços nos supermercados em mais 5%.
O lucro líquido do Pão de Açúcar subiu 64% no ano passado, para R$ 369 milhões de reais. Já as vendas da rede Casino subiram 0,2% no primeiro trimestre. As receitas do grupo fora da França subiram 4,7%.
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VINICIUS ALBUQUERQUE
da Folha Online
O grupo francês Casino, o quinto maior supermercadista da França, irá pagar US$ 900 milhões para adquirir ações que lhe darão o direito de dividir o controle do grupo CBD (Companhia Brasileira de Distribuição) com o empresário Abílio Diniz. O grupo CBD engloba as redes Pão de Açúcar, Extra, Eletro, CompreBem Barateiro e Sendas.
Hoje, o controle da CBD está nas mãos do PAIC (Pão de Açúcar Indústria e Comércio), que detém 61% das ações do grupo. Outros 24% estão com o Casino. Os 15% restantes estão com a família de Abílio Diniz --10% são seus e 5% são de seu pai (Valentim dos Santos Diniz) e de sua irmã (Lucília Maria dos Santos Diniz).
Com a transação anunciada hoje, o controle da CBD sairá do PAIC e passará para uma nova holding. O capital dessa nova holding será dividido entre Abílio Diniz e o grupo francês Casino.
A nova holding terá 65,6% do capital da CBD. Além de ter metade dessa holding, o Casino passará a ter mais 28,7% das ações preferenciais do grupo varejista. Entretanto, um acordo de acionistas determina que somente a holding terá direito a voto nas decisões da CBD. Dessa forma, o controle da CBD será compartilhado entre Abílio Diniz e o Casino, apesar do grupo francês possuir um percentual maior de ações --entre preferenciais e ordinárias. É que o controle estará restrito à holding.
Maior rede de varejo do Brasil, a CBD faturou no ano passado cerca de R$ 15 bilhões. Em segundo lugar no ranking do varejo brasileiro, aparece outra empresa de controle francês, o Carrefour.
O objetivo da família Diniz com o negócio é reduzir o endividamento líquido da empresa, que estava em R$ 897 milhões até março. Esse endividamento será zerado com o pagamento de R$ 1 bilhão em dinheiro que o Casino fará a Abílio Diniz. Além desse montante, o empresário receberá US$ 200 milhões em títulos conversíveis em ações da rede francesa e mais 12,5 bilhões de ações preferenciais do Pão de Açúcar que pertenciam ao Casino. Somando tudo, o Casino deverá desembolsar US$ 900 milhões para ficar com 20,3 bilhões de ações ordinárias da CBD.
Pelo acordo entre as partes, o montante que será recebido por Diniz (R$ 1 bilhão) será integralmente utilizado na compra de 60 imóveis --supermercados e hipermercados-- do Pão de Açúcar. Como esses imóveis estão avaliados em R$ 1,029 bilhão, a diferença de R$ 29 milhões sairá do patrimônio pessoal de Abílio Diniz.
Com a entrada desse R$ 1 bilhão em caixa, a CBD conseguirá zerar a dívida líquida e ainda ficar com R$ 103 milhões em caixa.
Por sua vez, Diniz irá alugar esses imóveis para o Pão de Açúcar em valores de mercado. Os contratos de aluguel são de 20 anos, renováveis por mais 10 em duas ocasiões, a um aluguel equivalente a 2% das vendas brutas mensais de cada loja. Estima-se que ele vá receber cerca de R$ 117 milhões por ano da CBD em aluguéis.
O presidente do grupo Pão de Açúcar, Augusto Cruz, disse que essa operação provocará um impacto positivo no lucro líquido do grupo de R$ 89 milhões a cada 12 meses. Ele considera que além da redução do endividamento, o balanço da companhia também será beneficiado pela diminuição da conta de depreciação causada pela transferência dos ativos --imóveis que foram vendidos para Diniz.
O acordo também prevê que nos próximos quatro anos serão feitos R$ 2,5 bilhões em investimentos na abertura de 40 hipermercados e 120 supermercados.
A venda de ações da CBD para o Casino já era esperada pelo mercado --os franceses possuem participação no grupo desde 1999 e sempre tiveram a intenção de aumentá-la. Surpreendeu, entretanto, que o negócio tenha envolvido o partilhamento do controle do grupo entre a família Diniz e os franceses.
O empresário Abilio Diniz continuará a ser o presidente do Conselho da CBD e também será nomeado presidente do Conselho da holding que controla a empresa. A partir de 2012, entretanto, o grupo francês poderá ter o direito de nomear o presidente da holding, mas isso ainda dependerá de uma série de condições.
Diniz, entretanto, disse que não é sua intenção sair do controle do grupo. "Esse negócio só se viabilizou porque essa é uma empresa brasileira, gerenciada por brasileiros e que tem orgulho de ser brasileira. Mesmo que eles [Casino] queiram [o controle], a gerência do negócio continuará comigo."
A rede francesa foi a segunda em dois dias a anunciar expansão de sua participação em países emergentes, como parte da estratégia dos varejistas europeus em diminuir a dependência dos países europeus, onde o desemprego e os altos preços do petróleo (que refletem em altas da inflação) já começam a afetar a capacidade de gastos do consumidor.
O grupo Carrefour, maior supermercadista europeu, comprou ontem o controle de uma rede varejista na Turquia, tornando-se a líder no país.
Ambas as redes vêm reduzindo seus preços desde o ano passado devido à pressão do governo para tentar reativar o mercado doméstico. O consumo na França tem caído e o governo espera reduzir os preços nos supermercados em mais 5%.
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