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10/10/2002
-
10h06
da Folha de S.Paulo
A implantação do Segundo Reinado significou a formalização de um novo acordo entre os grupos regionais que compunham a elite brasileira. A polêmica em torno da autonomia das províncias, marcante durante a Regência, foi superada e optou-se pela implantação de uma monarquia centralizada no país. As crescentes pressões inglesas pelo fim do tráfico de escravos foram decisivas para a adoção desse modelo.
A união das elites em torno de uma monarquia centralizada visava dotar o Estado do mais alto grau de poder e de autoridade para negociar com a Inglaterra o fim do tráfico nas condições mais vantajosas possíveis. A obra de consolidação do Estado nacional, concretizada nessa fase, atendia sobretudo à necessidade de preservar o tráfico de "carne humana" para as fazendas brasileiras.
A legitimação do Estado nacional no Brasil, entretanto, carecia de um fundamento essencial: o povo. Segundo a concepção de nacionalismo do século 19, a cada povo ou nação deveria corresponder um Estado. Ora, o Brasil acabara de se organizar na forma de um Estado independente, mas não existia no seu território nada parecido com um "povo" _a saber, uma comunidade com um mínimo de identidade étnica, corpo de tradições, história e língua comuns. Ele precisava ser criado.
Essa foi uma das missões mais importantes a que se dedicaram o Estado e as elites políticas e culturais do Segundo Reinado. O apoio dado ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e a Francisco Adolfo de Varnhagen, autor da monumental "História Geral do Brasil", produziram uma interpretação do passado que poderia ser ensinada nas escolas como a história comum de um povo.
José de Alencar, em "O Guarani" e em "Iracema", resgatou valores e tradições dos povos indígenas, exaltando-os como bases da nacionalidade. Na pintura, Pedro Américo e Vitor Meireles enalteceram as vitórias brasileiras na Guerra do Paraguai, valorizando atos de coragem e de heroísmo, importantes para a afirmação do orgulho de uma nação e típicos do modelo de herói romântico.
Nacionalismo e romantismo irradiavam suas influências sobre políticos, intelectuais, artistas e escritores brasileiros.
Paradoxalmente, a busca e a afirmação da nacionalidade se realizavam por meio de uma adesão acrítica aos modelos políticos e culturais europeus aplicados a um contexto e a uma realidade radicalmente diversos.
Roberson de Oliveira é autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e de "As Rebeliões Regenciais" (Editora FTD) e professor no Colégio Rio Branco e na Universidade Grande ABC.
E-mail: roberson.co@uol.com.br
Leia mais:
Química: SO2 é o Homem-Aranha da química
Matemática: A geometria do pedestre
Atualidades: A Opep e a crise no Oriente Médio
Biologia: A biogeografia e a distribuição dos seres vivos
História: O Estado, a cultura e a construção da nação
ROBERSON DE OLIVEIRAda Folha de S.Paulo
A implantação do Segundo Reinado significou a formalização de um novo acordo entre os grupos regionais que compunham a elite brasileira. A polêmica em torno da autonomia das províncias, marcante durante a Regência, foi superada e optou-se pela implantação de uma monarquia centralizada no país. As crescentes pressões inglesas pelo fim do tráfico de escravos foram decisivas para a adoção desse modelo.
A união das elites em torno de uma monarquia centralizada visava dotar o Estado do mais alto grau de poder e de autoridade para negociar com a Inglaterra o fim do tráfico nas condições mais vantajosas possíveis. A obra de consolidação do Estado nacional, concretizada nessa fase, atendia sobretudo à necessidade de preservar o tráfico de "carne humana" para as fazendas brasileiras.
A legitimação do Estado nacional no Brasil, entretanto, carecia de um fundamento essencial: o povo. Segundo a concepção de nacionalismo do século 19, a cada povo ou nação deveria corresponder um Estado. Ora, o Brasil acabara de se organizar na forma de um Estado independente, mas não existia no seu território nada parecido com um "povo" _a saber, uma comunidade com um mínimo de identidade étnica, corpo de tradições, história e língua comuns. Ele precisava ser criado.
Essa foi uma das missões mais importantes a que se dedicaram o Estado e as elites políticas e culturais do Segundo Reinado. O apoio dado ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e a Francisco Adolfo de Varnhagen, autor da monumental "História Geral do Brasil", produziram uma interpretação do passado que poderia ser ensinada nas escolas como a história comum de um povo.
José de Alencar, em "O Guarani" e em "Iracema", resgatou valores e tradições dos povos indígenas, exaltando-os como bases da nacionalidade. Na pintura, Pedro Américo e Vitor Meireles enalteceram as vitórias brasileiras na Guerra do Paraguai, valorizando atos de coragem e de heroísmo, importantes para a afirmação do orgulho de uma nação e típicos do modelo de herói romântico.
Nacionalismo e romantismo irradiavam suas influências sobre políticos, intelectuais, artistas e escritores brasileiros.
Paradoxalmente, a busca e a afirmação da nacionalidade se realizavam por meio de uma adesão acrítica aos modelos políticos e culturais europeus aplicados a um contexto e a uma realidade radicalmente diversos.
Roberson de Oliveira é autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e de "As Rebeliões Regenciais" (Editora FTD) e professor no Colégio Rio Branco e na Universidade Grande ABC.
E-mail: roberson.co@uol.com.br
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