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05/06/2003 - 10h43

Analfabetos funcionais são 299 mil na região de Campinas (SP)

da Folha de S.Paulo, em Campinas

A região metropolitana de Campinas (95 km a noroeste de São Paulo) tem 299,3 mil pessoas com mais de 15 anos que não sabem ler ou interpretar frases inteiras escritas. São considerados analfabetos funcionais pelo MEC (Ministério da Educação).

O dado revelado ontem pelo mapa do analfabetismo do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) mostra que, de 1,7 milhão de pessoas com idades acima de 15 anos nas 19 cidades da região de Campinas, 17,1% são analfabetas. Desse total, 103,3 mil são incapazes de ler --analfabetos totais.

Considerando os analfabetos funcionais, o índice da região de Campinas é pouco menor do que o do Estado, 18,5%.

Para a doutora em educação ligada à PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Campinas Suelly Galli Soares, 52, os números de analfabetismo em Campinas são inaceitáveis pelo fato de a região ser uma das de maior desenvolvimento do Estado.

"No contexto da região, esse índice é assustador. Ele denuncia a necessidade de ações conjuntas da sociedade em prol da alfabetização", disse Soares, que faz tese de pós-doutorado sobre educação não-formal no terceiro setor na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e na Universidade de Barcelona.

Segundo a especialista, o número de analfabetos na região pode ser explicado por um abismo existente entre uma população muito escolarizada e outra sem escolaridade nenhuma.

O governo do Estado informou, por meio de sua assessoria de imprensa, considerar o índice de analfabetismo da região de Campinas alto. A Secretaria de Estado da Educação alega que vai procurar reverter o problema nas diversas regiões com um projeto de alfabetização que prevê parcerias com faculdades privadas.

A especialista defende a união de governos e empresas para o oferecimento de cursos a trabalhadores do setor de serviços e produção, onde normalmente há um alto índice de analfabetismo.

Medidas como essas poderiam ter assegurado o emprego de pessoas como o ambulante Antonio Crispim, 49, que é analfabeto e vende laranjas nas ruas de Sumaré há seis anos. A cidade tem 29,6 mil analfabetos funcionais, com taxa de 21,2%.

"Muita gente mente que sabe escrever para conseguir um trabalho. Eu sempre falo a verdade e por isso enfrento dificuldades. Já consegui serviços melhores tempos atrás, quando operei máquinas em uma firma, mas hoje até para isso é exigido estudo de primeiro grau."

Entre os 19 municípios da região metropolitana, Campinas é a cidade com o menor índice de analfabetos funcionais (14,5%). Santo Antônio de Posse tem o maior índice, 29,3%.

Também têm índices altos de analfabetismo Artur Nogueira (23,3%), Engenheiro Coelho (27,9%) e Holambra (22,6%).

Dos 19 municípios da região metropolitana, 12 estão com média acima da do Estado.

"Em cidades com maior zona rural, como essas, esses índices são até explicáveis. Pelos problemas de acesso dessa parte da população e até a idéia comum entre ela de que a educação nem sempre é necessária", disse Soares.

O gari Raulino Oliveira, 60, morador de Sumaré, confirma a tese. Ele disse ter sido criado na roça e que nunca estudou porque morava muito longe da escola. Ele é migrante de Minas Gerais e vive há 16 anos no município.

"É bom estudar, mas eu não tive oportunidade. Morava na roça e a escola era muito longe. Só sei assinar o meu nome", declarou.

Na família de Oliveira, a falta de interesse pelo estudo passou do pai para os seus quatro filhos, que frequentaram a escola apenas até o quarto ano de ensino.
 

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