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25/05/2004 - 06h01

Internet não é ferramenta de professores, revela pesquisa

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da Folha de S.Paulo, em Brasília

Pesquisa sobre o perfil dos professores do ensino fundamental e médio no Brasil, divulgada ontem pela Unesco, mostra que quase 60% deles nunca usaram correio eletrônico ou navegaram na internet. Uma parcela ainda maior não lê jornal todos os dias e tem uma idéia negativa dos valores dos jovens de hoje.

A pesquisa "O perfil dos professores brasileiros: o que fazem, o que pensam, o que almejam" ouviu 5.000 professores (82,2% de escolas públicas e 17,8% das particulares), em abril e maio de 2002.



O acesso restrito à tecnologia, avaliado pelos pesquisadores como problemático em uma sociedade que depende cada vez mais dos computadores, tem relação direta com os baixos salários. Um terço dos professores se diz pobre, e 53,1% acreditam pertencer à classe média baixa. "Um professor que não conhece a internet tem hoje capacidade limitada de ajudar seu aluno", diz Maria Fernanda Rezende Nunes, pesquisadora da UniRio (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e uma das responsáveis pelo documento.

A desvalorização econômica da profissão é responsável pela presença majoritária de mulheres (81,3%) na atividade. Segundo Maria Fernanda, a baixa remuneração pode explicar ainda a pouca idade da maior parte dos professores brasileiros (80% têm entre 25 e 45 anos). Em países europeus, segundo ela, a média fica em torno dos 40 anos.

Em sua maioria, os professores são de famílias com pouca instrução. Os pais de 81% dos entrevistados não completaram o ensino básico (fundamental e médio) e 15% têm pais sem qualquer instrução formal.

Mesmo tendo estudado na rede pública, a maior parte dos docentes prefere ver seus filhos em escolas particulares. "A avaliação está na crença de que a escola pública não é suficiente e que a escola privada permite maior mobilidade social", avalia Maria Fernanda.

A pesquisa mostra um quadro desanimador da visão que os professores têm dos jovens: mais da metade acredita que enfraqueceram valores como compromisso social, responsabilidade, seriedade, honestidade, tolerância e respeito aos mais velhos. Na visão da maioria dos docentes, apenas o amor à liberdade teria se fortalecido. "Esta concepção negativa cria um vínculo professor-aluno baseado na desconfiança e na falta de compreensão do outro", diz Juan Carlos Tedesco, Diretor do Instituto Internacional de Planejamento de Educação.

Para ele, a pesquisa ajuda a mapear o que deve ser mudado e onde os investimentos devem ir. "Os professores nunca foram prioridade na agenda das reformas educativas. Só se apostava em laboratórios, espaço e gestão", diz.

Para Eliezer Pacheco, presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) do Ministério da Educação, os números mostram "a tragédia da educação básica", que causou a queda nos números de aprendizagem nos últimos dez anos.

Pacheco enfatizou ainda que a pesquisa deixa claro a perversidade das diferenças regionais no país, "que faz escolas públicas da região Sul terem índices de aprendizado melhores do que escolas particulares do Norte".

Além do Brasil, a pesquisa foi realizada na Argentina, Peru e Uruguai. Foram semelhantes dados como baixos salários e a grande presença de mulheres na profissão. Segundo Tedesco, a pesquisa deve ser refeita em dois anos, para verificação de mudanças.
 

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