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22/08/2001 - 15h44

Ópera "La Traviata" ajuda a conhecer sociedade urbana do século 19

JOÃO BONTURI
especial para a Folha Online

Em comemoração ao centenário da morte do compositor italiano Giuseppe Verdi, o Theatro Municipal de São Paulo apresenta nos dias 22, 24, 26 e 28 de agosto a ópera "La Traviata" ("A Transviada"), em três atos, com libreto de Francesco Maria Piave, baseado na peça teatral "A Dama das Camélias", do francês Alexandre Dumas Filho.

"La Traviata" é baseada na história real da prostituta Marie Duplessis, uma das musas da alta sociedade parisiense na década de 1840. O próprio Dumas Filho foi seu amante e passou com ela um verão numa das residências do seu pai, o consagrado escritor Alexandre Dumas, autor de "Os Três Mosqueteiros", até hoje o mais conhecido romance de capa e espada.

Na peça teatral "A Dama das Camélias", Dumas Filho trocou o nome de Marie Duplessis para Marguerite Gauthier; em "La Traviata", Verdi a denominou Violetta Valéry. Na literatura brasileira, José de Alencar criou sobre a mesma história o romance "Lucíola".

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Alta burguesia parisiense

A peça se passa na França, na década de 1840, durante o governo de Luís Felipe, apelidado como "rei burguês" ou "rei dos banqueiros". A tônica do seu reinado é expressada satiricamente na idéia "enriquecei-vos", uma resposta dada por um dos seus ministros quando interpelado sobre o voto universal.

Na França, a revolução industrial decolou na década de 1830. Nesse momento, o voto era determinado pela renda dos indivíduos (voto censitário). Portanto, só uma elite composta pelos antigos aristocratas e uma parcela da burguesia tinha direito ao voto. Na bolsa de valores a especulação era desenfreada; muitas fortunas surgiam da noite para o dia e os novos milionários eram agraciados pelo rei com títulos de nobreza. Assim o monarca satisfazia a ambição da burguesia em assemelhar-se à nobreza que antes combatera. Por sua vez, a nobreza hereditária anterior à Revolução Francesa (1789) começava a entender que a alta burguesia era sua aliada e que o maior inimigo das duas era o povo.

A alta burguesia copiava da nobreza o modelo da educação, colocava seus filhos nas mesmas escolas e frequentava os mesmos ambientes, quer fossem festas, exposições de arte, teatros de ópera ou palacetes do prazer. A diferença fundamental entre a nobreza tradicional e alta burguesia nesse momento é que a burguesia defende o progresso econômico, dirige os seus negócios industriais, comerciais ou financeiros e dedica menos tempo ao ócio. A ética burguesa é baseada no lucro, na vida familiar, nos hábitos severos, na dignidade do trabalho e do esforço.

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Ética burguesa em "La Traviata"

Em "La Traviata", no primeiro ato, Alfredo Germont, um burguês originário da Provença, região do sul da França, é levado por um amigo ao palacete de Violetta, que na cena está cercada pelo marquês D' Obigny e pelo barão Douphol. Os homens vestem casacas pretas, não sendo possível diferenciá-los socialmente pela roupa e pelas maneiras.

No segundo ato, Alfredo e Violetta convivem na casa de campo dela. Subitamente Violetta recebe a visita do pai de Alfredo (Giorgio), que pede a ela que se afaste do filho, para não comprometer o casamento da irmã de Alfredo cujo noivo ameaçava romper o compromisso por causa do comportamento escandaloso de Alfredo ao viver com uma cortesã. A atitude do pai de Alfredo para preservar a honra da família transcorre dentro dos padrões da ética burguesa. Violetta, por sua vez, ao aceitar o pedido do pai de Alfredo, sacrifica o seu amor pela honra da família e retorna à vida mundana de Paris.

No terceiro ato, em estado terminal provocado pela tuberculose, Violetta recebe uma carta do pai de Alfredo; com remorso da sua atitude anterior, o pai de Alfredo contou ao filho a sua trama e a aceitação de Violetta para manter a honra da família. Porém, o perdão do pai e o retorno de Alfredo não trouxeram de volta a saúde de Violetta que falece em seguida.

Quando a burguesia assistiu a ópera, viu a sua ética ferida no perdão do pai de Alfredo. Jamais seria aceita a união de um jovem burguês com uma cortesã. Para aquela sociedade as prostitutas de luxo eram mercadorias descartáveis, que deviam ser substituídas após o uso.

"La Traviata" fracassou na estréia. A atitude hostil do público foi provocada pelo fraco desempenho dramático e musical dos cantores, o que evidenciou o desvio da ética burguesa contido no enredo. No ano seguinte, quando a ópera foi reapresentada, o novo elenco destacou o sacrifício de Violetta como o elemento principal do drama. "La Traviata" tornou-se então um sucesso.

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Verdi e a unificação da Itália

Verdi foi o mais importante compositor italiano do século 19. A trajetória da sua carreira foi ligada ao processo de unificação da Itália, verificado entre 1815 a 1870. Verdi compôs várias óperas cujos enredos eram nacionalistas. Para driblar a rigorosa censura da época, as histórias nem sempre se passavam na Itália, mas os coros guerreiros e patrióticos eram perfeitamente compreendidos quando observados isoladamente. Os italianos então passavam a cantá-los pelas ruas.

Nas principais cidades italianas, cada vez que uma das óperas de Verdi era apresentada, os muros apareciam pichados com a inscrição "VIVA VERDI", que celebrava o compositor e ao mesmo tempo era a sigla para Vitório Emanuel Rei Da Itália.

A unificação italiana teve uma fase entre 1815 e 1848 com participação expressiva dos republicanos; porém, foi a monarquia do reino do Piemonte e Sardenha, encabeçada pelo Conde de Cavour, primeiro ministro do rei Vitório Emanuel, que concretizou o projeto entre 1848 e 1870.

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