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26/10/2001
-
16h11
especial para a Folha Online
A exposição "Egito Faraônico - Terra dos Deuses", que está no Masp até 16 de dezembro, é uma das poucas oportunidades para conhecer de perto a arte religiosa egípcia. A mostra é realizada em colaboração com o Departamento de Antigüidades Egípcias do Museu do Louvre, de onde foram trazidas 89 das 120 peças. As demais peças pertencem aos acervos do Masp e da Fundação Eva Klabin Rappaport do Rio de Janeiro.
A religião egípcia é o tema central da mostra. Segundo Elisabeth Delange, curadora do Louvre, a religião foi escolhida porque além de ser um traço comum aos 3.000 anos da cultura egípcia antiga, é seu fundamento político e social. "Enfocando esse ângulo, damos um corte transversal em toda a história desse povo", afirmou Delange. Os objetos exibidos são datados entre o séc. 21 a.C. e o século 3 a.C.
A exposição aborda temas relacionados ao mundo divino: deuses protetores do faraó, dos vivos e dos mortos e a multiplicidade das formas divinas. O egiptólogo brasileiro Antonio Brancaglion Jr., curador do Masp, afirmou que "a mostra privilegia o polimorfismo (as diversas formas que os deuses assumem) em relação ao politeísmo (quantidade de deuses)".
Ambiente
Para criar o ambiente cenográfico de uma escavação arqueológica, a exposição está propositadamente localizada no subsolo do Masp, numa área toda recoberta com uma forração em tons de areia que sugere o deserto.
Da mesma forma que o rio Nilo corta o Egito no sentido norte-sul, um eixo central divide a exposição. Do lado direito estão as peças arqueológicas relacionadas aos deuses cuja função era reger e proteger o mundo dos vivos; também desse lado estava a maior parte das cidades do Egito antigo. No lado esquerdo encontram-se as peças arqueológicas que representam os deuses de proteção do mundo dos mortos; na Antigüidade, as necrópoles situavam-se também nessa área.
Fazendo a ponte entre os dois lados, encontra-se no centro do eixo o relevo que mostra o deus Amon passando o sopro da divindade para o faraó Tutankhamon. O faraó personificava o mundo divino no mundo dos vivos.
Recursos didáticos
Na entrada da exposição há uma linha do tempo que destaca a divisão dos impérios (baixo, médio e período Ptolomaico) e expõe a evolução da civilização egípcia em suas diversas dinastias. Também pode ser visto um filme de sete minutos sobre as escavações e os sítios arqueológicos do Egito.
A exposição também conta com um serviço educativo que promove visitas orientadas previamente agendadas (veja serviço).
O antigo Egito: deuses e crenças
Os deuses do Antigo Egito apresentam formas complexas e estranhas, mesclando seres humanos e animais. Muitos deuses representavam forças da natureza. A prosperidade do Egito dependia do sol e da inundação anual do rio Nilo; ambos eram tratados como deuses aos quais era preciso acalmar ou estimular através de cultos e sacrifícios.
Primitivamente cada cidade tinha um deus padroeiro. Quando elas se uniram para formar unidades políticas maiores, algumas divindades locais tornaram-se nacionais, enquanto outras desapareceram ou ficaram em segundo plano. Por exemplo, Amon, o deus da cidade de Tebas, tornou-se um deus nacional que protegeu e guiou a nação durante o Novo Império (1567 - 1085 a.C.), quando Tebas era a sede da monarquia.
O faraó (rei egípcio) era considerado como o intermediário entre os deuses e os homens. A monarquia egípcia era teocrática, na qual o faraó era ao mesmo tempo governante e supremo sacerdote.
Segundo a tradição, o deus solar foi o primeiro monarca e o faraó era seu filho, sua imagem e sua representação física. O faraó era a essência do divino e possuía os atributos de todos os deuses nele encarnados. Na teoria, o faraó era o sacerdote de todos os templos e deuses; na prática, o faraó delegava suas funções ao clero local, que em seu nome oficiava as cerimônias e personificava os deuses.
Na religião egípcia houve a veneração de animais, porém esse aspecto variou no tempo e no espaço. Em certos casos, algumas espécies consideradas sagradas eram mumificadas; babuínos, crocodilos, íbis, gatos e cachorros eram sepultados em grandes monumentos. Em outros casos, um animal específico representava a encarnação de um deus.
Culto aos mortos
Os egípcios acreditavam que a morte era o princípio de uma nova vida. Além do seu corpo, todo homem possuía uma alma (Ba) e um outro espírito (Ka). Quando ocorria a morte, Ba continuava vivendo na terra e à noite descansava no seu corpo; o Ka, ia e voltava do outro mundo. Tanto Ba como Ka deviam reconhecer o próprio corpo, por isso o mumificavam. Como essa nova vida poderia ser eterna, os mais poderosos ordenavam a construção de grandes e suntuosos túmulos de pedra.
A vida além túmulo era semelhante à terrena, porém com qualidade superior; não faltavam caçadas, colheitas abundantes, banquetes e mulheres bonitas. A decoração dos túmulos mostra como eles imaginavam essa vida.
Essa idéia atravessou diversas etapas. Primeiro os egípcios acreditavam que o faraó passava a sua vida além túmulo junto a Ra, o deus sol, percorrendo com ele diariamente o céu. Posteriormente o destino do faraó foi vinculado ao deus Osíris. Esse privilégio exclusivo do faraó gradativamente passou para os sacerdotes e depois para a população, de forma que ao morrer todo homem era identificado de certo modo com Osíris.
Uma boa conduta durante a vida assegurava uma passagem tranqüila para o outro mundo. Nas paredes das tumbas há muitas representações desse juízo; o coração do defunto era pesado numa balança, que tinha uma pluma como contrapeso representando a verdade. O resultado era conferido por Thot, o escrivão dos deuses, na presença de Osíris, e os que não atingiam o peso, eram destruídos para sempre.
Saiba quais são os principais deuses
Amon - Rei dos deuses, divindade protetora dos faraós. Posteriormente identificado com Amon-Ra.
Anúbis - Deus da morte, guardião das tumbas e cemitérios.
Aton - O sol. Foi o deus único no reinado do faraó Akhenaton.
Hator - Deusa celeste, que mais tarde tornou-se a deusa vaca, deusa do amor, senhora das estrelas.
Hórus - Deus dos céus do baixo Egito.
Ísis - Rainha dos deuses, a grande deusa mãe, deusa das colheitas e da fertilidade.
Thot - Deus Lua, depois deus da ciência e da sabedoria, criador da escrita.
Khnum - Antigo deus do alto Nilo, criador dos deuses, dos homens e das águas.
Osíris - Deus da fertilidade e da vegetação; posteriormente deus supremo do Egito com Ra e deus dos mortos.
Sebek - Deus da água, e por vezes a personificação do mal e da morte.
Ftah - Deus dos mortos, criador e deus da fertilidade.
Seth - Deus da tempestade, violento e perigoso, assassino de Osíris.
Ra - Deus solar, o deus maior do Estado do antigo Egito, rei dos deuses, pai da humanidade e protetor dos faraós.
Representações zooantropomórficas
Os egípcios colocavam cabeças de animais em corpos humanos para mostrar aos deuses as práticas e os atos humanos. Os animais também poderiam ser símbolos da representação das características de distintos deuses.
As qualidades particulares dos animais como a força do leão, a ferocidade do crocodilo, o cuidado da vaca com as crias, eram reverenciadas. Possivelmente a origem dessa característica foi por um lado o medo dos animais e por outro a sua utilidade. Quase todos os animais estavam associados com um ou mais deuses.
Muitos desses deuses eram apenas protetores, não tinham templo e eram venerados em cultos domésticos. Entre as principais divindades encontram-se:
Estude sem livros com a coluna Tudo é história
Entenda a religiosidade do Egito faraônico em mostra no Masp
JOÃO BONTURIespecial para a Folha Online
A exposição "Egito Faraônico - Terra dos Deuses", que está no Masp até 16 de dezembro, é uma das poucas oportunidades para conhecer de perto a arte religiosa egípcia. A mostra é realizada em colaboração com o Departamento de Antigüidades Egípcias do Museu do Louvre, de onde foram trazidas 89 das 120 peças. As demais peças pertencem aos acervos do Masp e da Fundação Eva Klabin Rappaport do Rio de Janeiro.
Divulgação Estátua do Rei com osdeuses Osiris e Hórus |
A religião egípcia é o tema central da mostra. Segundo Elisabeth Delange, curadora do Louvre, a religião foi escolhida porque além de ser um traço comum aos 3.000 anos da cultura egípcia antiga, é seu fundamento político e social. "Enfocando esse ângulo, damos um corte transversal em toda a história desse povo", afirmou Delange. Os objetos exibidos são datados entre o séc. 21 a.C. e o século 3 a.C.
A exposição aborda temas relacionados ao mundo divino: deuses protetores do faraó, dos vivos e dos mortos e a multiplicidade das formas divinas. O egiptólogo brasileiro Antonio Brancaglion Jr., curador do Masp, afirmou que "a mostra privilegia o polimorfismo (as diversas formas que os deuses assumem) em relação ao politeísmo (quantidade de deuses)".
Ambiente
Para criar o ambiente cenográfico de uma escavação arqueológica, a exposição está propositadamente localizada no subsolo do Masp, numa área toda recoberta com uma forração em tons de areia que sugere o deserto.
Da mesma forma que o rio Nilo corta o Egito no sentido norte-sul, um eixo central divide a exposição. Do lado direito estão as peças arqueológicas relacionadas aos deuses cuja função era reger e proteger o mundo dos vivos; também desse lado estava a maior parte das cidades do Egito antigo. No lado esquerdo encontram-se as peças arqueológicas que representam os deuses de proteção do mundo dos mortos; na Antigüidade, as necrópoles situavam-se também nessa área.
Fazendo a ponte entre os dois lados, encontra-se no centro do eixo o relevo que mostra o deus Amon passando o sopro da divindade para o faraó Tutankhamon. O faraó personificava o mundo divino no mundo dos vivos.
Recursos didáticos
Na entrada da exposição há uma linha do tempo que destaca a divisão dos impérios (baixo, médio e período Ptolomaico) e expõe a evolução da civilização egípcia em suas diversas dinastias. Também pode ser visto um filme de sete minutos sobre as escavações e os sítios arqueológicos do Egito.
A exposição também conta com um serviço educativo que promove visitas orientadas previamente agendadas (veja serviço).
O antigo Egito: deuses e crenças
Os deuses do Antigo Egito apresentam formas complexas e estranhas, mesclando seres humanos e animais. Muitos deuses representavam forças da natureza. A prosperidade do Egito dependia do sol e da inundação anual do rio Nilo; ambos eram tratados como deuses aos quais era preciso acalmar ou estimular através de cultos e sacrifícios.
Primitivamente cada cidade tinha um deus padroeiro. Quando elas se uniram para formar unidades políticas maiores, algumas divindades locais tornaram-se nacionais, enquanto outras desapareceram ou ficaram em segundo plano. Por exemplo, Amon, o deus da cidade de Tebas, tornou-se um deus nacional que protegeu e guiou a nação durante o Novo Império (1567 - 1085 a.C.), quando Tebas era a sede da monarquia.
O faraó (rei egípcio) era considerado como o intermediário entre os deuses e os homens. A monarquia egípcia era teocrática, na qual o faraó era ao mesmo tempo governante e supremo sacerdote.
Segundo a tradição, o deus solar foi o primeiro monarca e o faraó era seu filho, sua imagem e sua representação física. O faraó era a essência do divino e possuía os atributos de todos os deuses nele encarnados. Na teoria, o faraó era o sacerdote de todos os templos e deuses; na prática, o faraó delegava suas funções ao clero local, que em seu nome oficiava as cerimônias e personificava os deuses.
Na religião egípcia houve a veneração de animais, porém esse aspecto variou no tempo e no espaço. Em certos casos, algumas espécies consideradas sagradas eram mumificadas; babuínos, crocodilos, íbis, gatos e cachorros eram sepultados em grandes monumentos. Em outros casos, um animal específico representava a encarnação de um deus.
Culto aos mortos
Os egípcios acreditavam que a morte era o princípio de uma nova vida. Além do seu corpo, todo homem possuía uma alma (Ba) e um outro espírito (Ka). Quando ocorria a morte, Ba continuava vivendo na terra e à noite descansava no seu corpo; o Ka, ia e voltava do outro mundo. Tanto Ba como Ka deviam reconhecer o próprio corpo, por isso o mumificavam. Como essa nova vida poderia ser eterna, os mais poderosos ordenavam a construção de grandes e suntuosos túmulos de pedra.
A vida além túmulo era semelhante à terrena, porém com qualidade superior; não faltavam caçadas, colheitas abundantes, banquetes e mulheres bonitas. A decoração dos túmulos mostra como eles imaginavam essa vida.
Essa idéia atravessou diversas etapas. Primeiro os egípcios acreditavam que o faraó passava a sua vida além túmulo junto a Ra, o deus sol, percorrendo com ele diariamente o céu. Posteriormente o destino do faraó foi vinculado ao deus Osíris. Esse privilégio exclusivo do faraó gradativamente passou para os sacerdotes e depois para a população, de forma que ao morrer todo homem era identificado de certo modo com Osíris.
Uma boa conduta durante a vida assegurava uma passagem tranqüila para o outro mundo. Nas paredes das tumbas há muitas representações desse juízo; o coração do defunto era pesado numa balança, que tinha uma pluma como contrapeso representando a verdade. O resultado era conferido por Thot, o escrivão dos deuses, na presença de Osíris, e os que não atingiam o peso, eram destruídos para sempre.
Saiba quais são os principais deuses
Amon - Rei dos deuses, divindade protetora dos faraós. Posteriormente identificado com Amon-Ra.
Anúbis - Deus da morte, guardião das tumbas e cemitérios.
Aton - O sol. Foi o deus único no reinado do faraó Akhenaton.
Hator - Deusa celeste, que mais tarde tornou-se a deusa vaca, deusa do amor, senhora das estrelas.
Hórus - Deus dos céus do baixo Egito.
Ísis - Rainha dos deuses, a grande deusa mãe, deusa das colheitas e da fertilidade.
Thot - Deus Lua, depois deus da ciência e da sabedoria, criador da escrita.
Khnum - Antigo deus do alto Nilo, criador dos deuses, dos homens e das águas.
Osíris - Deus da fertilidade e da vegetação; posteriormente deus supremo do Egito com Ra e deus dos mortos.
Sebek - Deus da água, e por vezes a personificação do mal e da morte.
Ftah - Deus dos mortos, criador e deus da fertilidade.
Seth - Deus da tempestade, violento e perigoso, assassino de Osíris.
Ra - Deus solar, o deus maior do Estado do antigo Egito, rei dos deuses, pai da humanidade e protetor dos faraós.
Representações zooantropomórficas
Os egípcios colocavam cabeças de animais em corpos humanos para mostrar aos deuses as práticas e os atos humanos. Os animais também poderiam ser símbolos da representação das características de distintos deuses.
As qualidades particulares dos animais como a força do leão, a ferocidade do crocodilo, o cuidado da vaca com as crias, eram reverenciadas. Possivelmente a origem dessa característica foi por um lado o medo dos animais e por outro a sua utilidade. Quase todos os animais estavam associados com um ou mais deuses.
Muitos desses deuses eram apenas protetores, não tinham templo e eram venerados em cultos domésticos. Entre as principais divindades encontram-se:
NOME | CARÁTER | ANIMAL SAGRADO |
Anúbis | Deus dos mortos | Chacal |
Atum | Sol do entardecer | Touro, leão, serpente |
Chu | Deus cósmico (Ar) | Leão |
Herfases | Céu | Carneiro |
Hórus | Deus do céu | Falcão |
Khnum | Criador dos deuses | Carneiro |
Khopri | Deus Sol (Atum, Ra) | Escaravelho |
Montu | Deus guerreiro | Touro |
Ofois | Deus guerreiro | Lobo |
Osíris | Rei dos mortos | Lobo |
Sebek | Cósmico | Crocodilo |
Tauret | Gravidez | Hipopótamo |
Bastet | Gravidez | Gato |
Hator | Gravidez | Vaca |
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