"Não
quero dar uma dimensão
moral a esse assunto", diz Vieira
da Folha Online
Confira a seguir trechos da entrevista do psiquiatra Aderbal Vieira
Jr., coordenador do Ambulatório de Tratamento do Sexo Patológico do
Proad, à Folha Online. (RD)
Folha Online - Qual é o limite que define se uma pessoa é compulsiva
sexual?
Dr. Aderbal Vieira Jr. - Esse limite não existe. Todos me pedem
números, e eu me recuso a dar. Tudo é muito relativo, e eu não quero
dar uma dimensão moral a esse assunto. Para um ator de filmes pornográficos,
por exemplo, transar três vezes por dia pode ser pouco, quando ele
deveria transar cinco, seis vezes. O sexo começa a ser um problema
quando foge do controle, quando começa a limitar a liberdade de ação
e de escolha do indivíduo. Isso pode ser aplicado até a um cara que
não consegue deixar de cantar a namorada do melhor amigo.
Folha Online - Quanto as causas da sexualidade patológica,
já foram publicadas pesquisas nos EUA culpando a Internet ou a televisão
(se vc é assinante da Folha ou do UOL clique para ler os textos Estudo
norte-americano aponta riscos da prática de sexo virtual e Sexo
on line pode viciar usuários). Como o senhor vê essas conclusões?
Vieira - É preciso entender, primeiro, que a sociedade norte-americana
é muito mais moralista do que a nossa. Eles ficam perdidos com esse
tipo de distúrbio e acabam precisando encontrar algum culpado. Depois,
as causas para esse tipo de patologia são variáveis, podem ser comportamentais
ou neurológicas, ou seja, podem depender ou não de problemas físicos,
de funcionamento do sistema nervoso. O sexo compulsivo vem sendo estudado
há 15 anos, o que para a medicina é muito pouco.
Folha Online - E como fica a aplicação de Prozac para os pacientes,
levando-se em consideração esse quadro de pouca informação?
Vieira - O uso de antidepressivos na diminuição da "fissura"
dos usuários de drogas já foi comprovada cientificamente. A dependência
sexual apresenta as mesmas características de outras dependências,
como jogo ou as próprias drogas. Ou seja, a intenção é comprovar a
eficácia do antidepressivo na diminuição da "fissura" por sexo do
paciente, dar uma janela de tranquilidade para ele respirar, organizar
sua vida e tocar a psicoterapia. Até porque, não adianta o paciente
se enganar, se o antidepressivo realmente conseguir amenizar o problema,
a compulsão vai diminuir enquanto ele tomar o remédio, mas, sem tratamento,
sem ajuda, vai voltar tudo assim que ele deixar a medicação. Cria-se
uma outra dependência.
Folha Online - Então a pesquisa que o sr. vem desenvolvendo
alia os dois, medicação e psicoterapia?
Vieira - Sim. O estudo pretende provar o resultado conjunto.
A medicação, como já disse, serve para dar uma janela de tranquilidade
para o paciente, mas não é a cura.
Folha Online - E nos cinco anos de existência do programa no
Proad, houve casos de cura?
Vieira - Há pessoas que hoje conseguem levar uma vida normal,
não têm mais seus atos guiados pelas relações sexuais. Nós não estamos
preocupados com a frequência sexual do paciente, se ele transa mais
ou menos, mas estamos preocupados com ele transar com mais escolha.
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