Puberdade precoce pode atingir até meninas de dois anos
ADRIANA
RESENDE
da Folha Online
Rogério
Cassimiro/Folha Imagem
|
|
Ariane,
que menstruou aos três anos, faz a lição
de casa |
Sua
filha de cinco anos - ou até menos - já tem
pelinhos na região púbica, aparenta crescimento dos
seios e teve sangramento, como se fosse menstruação?
Pode parecer estranho, mas esses são
sintomas
da puberdade
precoce.
A
anomalia é rara e tem consequências no desenvolvimento
ósseo, hormonal e comportamental da criança. Para
cada 50 casos de puberdade tardia, em meninos e meninas, ocorre
um caso de puberdade precoce.
Na
puberdade, a adolescente cresce de 6 cm a 12 cm. É o que
os médicos chamam de "segundo estirão do crescimento".
O primeiro ocorre antes de a criança completar um ano. Nesse
período, ela cresce cerca de 25 cm. Depois, o crescimento
sofre uma desaceleração e fica em torno de 4 cm a
6 cm anualmente.
Se
esse segundo estirão acontece precocemente a idade
considerada normal para o início da puberdade feminina é
entre nove e 11 anos-, ela cresce exageradamente e fica maior que
as amiguinhas da mesma idade. Depois, pára de crescer e fica
menor que as adolescentes que tiveram um processo normal de desenvolvimento.
Diferentes
razões levam ao aparecimento da puberdade precoce. Essa disfunção
é chamada de central ou verdadeira quando há uma desregulação
no funcionamento do eixo entre hipotálamo e hipófise
respectivamente, uma região e uma glândula do
cérebro, responsáveis pelo controle de funções
vitais do corpo, como a produção de hormônios.
Essa causa representa cerca de 75% dos casos de puberdade precoce.
A alteração
hormonal também pode ocorrer por hipotireoidismo (insuficiência
da glândula tireóide) ou por mau funcionamento das
glândulas supra-renais. Pode acontecer também uma hiperutilização
das glândulas adrenais (acima dos rins), causada por um tumor,
ou um aumento de volume dessa glândula, que é hereditário.
Nesses casos, considerados mais raros, a anomalia é chamada
de pseudopuberdade precoce ou puberdade precoce não-central.
Pacientes portadoras de microcefalia e hidrocefalia ou que possuam
sequelas de encefalite, meningite, tuberculose, sífilis, toxoplasmose
e traumatismo cranioencefálicopodem apresentar a doença.
Os casos em que não é detectado o mau funcionamento
do eixo hipotálamo-hipófise são considerados
mais raros, e a anomalia é chamada de pseudopuberdade precoce
ou puberdade precoce não-central.
Preparação
psicológica
A menina,
porém, ainda não está preparada psicologicamente
para essas mudanças. Elas acarretam desenvolvimento da libido
muito cedo, o que pode provocar reações opostas: timidez
e retração, causada pela diferença entre o
próprio corpo e o das outras crianças, ou sexualização
precoce.
Esse desenvolvimento imaturo da sexualidade pode gerar até
uma gravidez indesejada ou uma doença sexualmente transmissível,
devido ao desconhecimento dos métodos preventivos.
E
a menopausa?
Já
existem estudos que afirmam que a mulher que chegou prematuramente
à puberdade tem mais chances de desenvolver câncer
no colo do útero. Há estudos de que a menarca (primeira
menstruação) ocorre mais cedo em lugares com mais
luminosidade, onde o sol é mais forte por mais tempo.
Há ainda pesquisas que dizem que a mudança alimentar
e a introdução de alimentos mais gordurosos na dieta
tenham provocado uma redução na idade da menarca,
que, hoje, ocorre, em média, entre nove e 11 anos, mas já
foi considerada normal entre 14 e 18 anos. Isso mostra que o ambiente
interfere no amadurecimento biológico e psíquico da
criança, mas esses fatores não são considerados
causas determinantes do distúrbio.
Segundo
especialistas, a puberdade precoce não leva à antecipação
da menopausa. A quantidade de folículos unidades do
ovário que produzem óvulos e os hormônios femininos
é reduzida conforme a idade. No feto, há cerca de
dois milhões dessas unidades, mas o bebê nasce com
cerca de apenas 600 mil, e essa quantidade é liberada nos
ciclos menstruais durante toda a vida fértil da mulher, até
que ela pára de produzi-los, e ocorre a menopausa, naturalmente.
Outro
engano é pensar que a alimentação pode interferir
no processo. A desnutrição até provoca um atraso
no desenvolvimento hormonal da mulher e pode retardar a menarca,
mas isso, segundo os médicos, não quer dizer que o
contrário ocorra: se a criança tiver uma alimentação
balanceada, ela não vai passar obrigatoriamente pela puberdade
precoce.
Fontes:
Bernardo Liberman,
chefe do Serviço de Endocrinologia do Hospital Brigadeiro,
de São Paulo; Paulo
Eduardo Olmos, chefe do Serviço de Reprodução
Humana do Hospital Brigadeiro, de São Paulo; Janete Pereira
de Moura, endocrinologista (tels.: 0/xx/11/257-5461 ou 0/xx/11/484-8511
(aos sábados); Carlos Eduardo Pereira Vega, ginecologista.
Bibliografia:
"Diagnóstico e Terapêutica em Ginecologia", de S. Piato;
"Sinais & Sintomas em Ginecologia", de B. M. Peckham e S.
S. Shapiro
Leia
mais:
Como
acontece a disfunção
Tratamento
"Ah,
mãe! De novo?!!"
|
|