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21/08/2003 - 07h43

Plantas da Amazônia reinam em cosméticos e sabonetes

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CRISTINA CAROLA
da Folha de S.Paulo

Priprioca, andiroba, cumaru, copaíba, preciosa, breu-branco, murumuru... Cada vez surge um ingrediente novo, de nome pouco ou nada familiar, nos potes de cosméticos nacionais. E vai entender por que essas matérias-primas de apelo ecológico vão parar em xampus, perfumes, condicionadores, cremes hidratantes e aromatizadores de ambiente, entre outros produtos. O que há em comum entre todas elas é o local de origem: a Amazônia.

Os ativos da biodiversidade amazônica, extraídos de cascas, folhas, raízes, sementes ou frutos, têm sido cada vez mais explorados pelas indústrias de cosméticos. Hoje as maiores empresas brasileiras já possuem suas linhas de produtos "amazônicos".

O potencial da biodiversidade da floresta é enorme. Estudo da Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus) e da Abhipec (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos) identificou, entre as mais de 200 mil espécies de plantas da Amazônia, que 120 podem ter aplicação imediata na área cosmética. Mas pouco mais de 20 são usadas, diz o engenheiro químico Artur Gradin, que coordenou o estudo.

A Natura impulsionou o crescimento desse mercado com o lançamento, há três anos, da linha Ekos. Mas muito antes disso, dez anos atrás, a gigante rede inglesa The Body Shop já incluía na sua linha de cosméticos a castanha-do-pará. Aliás, quem já usou sabe como o óleo extraído dessa semente funciona bem no creme hidratante.

E, para deixar o cabelo macio, é indicada manteiga de cacau --no xampu, claro. Já do cumaru, cuja madeira se transforma em belas tábuas para piso, extrai-se um extrato que perfuma! Porém quem garante tais propriedades?

Habitantes da floresta, como os índios. Eles usam a semente do cumaru para se perfumar, também usam o óleo de copaíba em feridas e arranhões e o de buriti como protetor solar. As índias, em especial, sabem que o óleo de certas plantas deixa a cabeleira mais brilhante e macia. Foi no rastro desse conhecimento popular de estética e de saúde que a indústria nacional e internacional partiu para o investimento nas plantas amazônicas. O ponto de partida da linha Ekos, por exemplo, foi a escolha dos ativos com mais tradição popular.

O primeiro produto da Amazônia usado pelo grupo inglês Croda do Brasil, um dos maiores fornecedores de ativos amazônicos, foi apresentado informalmente por um ex-habitante da floresta à gerente de marketing técnico Vânia Maria Pacchioni. Durante uma feira de cosméticos, em São Paulo, um senhor entregou a ela uma sacola cheia de "produtos da floresta". E lá estava a manteiga de cupuaçu, bruta. "Uma jóia. Aquela gordura era só o resto de um processo artesanal, porque eles extraem uma espécie de chocolate do fruto."

A história de outras empresas do ramo também é curiosa. No Pará, estão duas das mais tradicionais marcas, Juruá e Chamma da Amazônia. O carro-chefe da primeira é o sabonete Juruá, feito à base de mel de abelha, castanha-do-pará e cacau. Possui proteínas e propriedade hidratante e anti-rugas e ainda promete remover manchas brancas e prevenir celulite e estrias.

A história da marca começa com a chegada, ao Pará, do avô italiano das três atuais proprietárias, fugido da Primeira Guerra Mundial. Francisco Filizzola, farmacêutico, fixou-se nas proximidades do rio Juruá e comprou fazendas e seringais. "Ele arrendava as propriedades para os trabalhadores, que pagavam com matérias-primas, como óleos, copaíba, andiroba, patchuli e priprioca", conta uma das sócias, Sonia Filizzola Busman. A partir dos insumos recebidos, ele passou a criar fórmulas e a fabricar sabonetes com andiroba. "Fazia em um tacho grande, com banha de tartaruga."

As fórmulas foram esquecidas por anos, até que Izabel Filizzola, filha de Francisco e mãe de Sonia, já aposentada, redescobriu cadernos deixados pelo pai e investiu na produção do sabonete. Hoje a Juruá conta com uma extensa linha de cosméticos, com destaque para o sabonete Lixaspuma, esfoliante natural inspirado no banho de Cleópatra, em que o leite de cabra foi substituído pelo de búfala --também matéria-prima local.

A outra marca paraense é a Chamma da Amazônia, também ligada à imigração. Filho de libaneses, o acraeno Oscar Chamma, que foi criado em Belém, começou a criar produtos utilizando as matérias-primas locais.

Sem formação acadêmica, mas apaixonado por química e pela Amazônia, Chamma foi autodidata e chegou a ganhar registro no Conselho Regional de Farmácia. "Ele adquiria óleos essenciais de plantas locais e misturava com insumos importados", explica Fátima Chamma, filha de Oscar e diretora-executiva da Fluidos da Amazônia, que fabrica a Chamma. Entre seus produtos mais conhecidos está o Banho de Chamma, perfume de ervas aromáticas.

Leia, ao lado e na página seguinte, uma relação de plantas usadas em cosméticos e as propriedades atribuídas a cada uma. Nem todas possuem comprovação científica no uso cosmetológico. "Em geral, têm ação quando ingeridas", diz Cecilia Veronica Nunez, pesquisadora do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas) que atualmente participa de um estudo para identificar, entre outras, a atividade antioxidante das plantas amazônicas.

"Eu produzo extrato de açaí, que tem uma ação antioxidante já comprovada. Se, quando colocado no cosmético, vai ter, não se sabe", diz o químico Joaquim Baymam, da Universidade Federal do Pará e proprietário da Erva Ativa, empresa de insumos. O que também conta é a quantidade e a forma como o insumo é usado no produto, completa ele.

"As plantas funcionam e funcionam muito bem. Infelizmente, muitas [empresas] acrescentam-nas só para marketing. Nesses casos, a quantidade de extrato e óleo é tão baixa que, eventualmente, pode não fazer efeito. Vira um cosmético comum", diz o professor de química de produtos naturais Lauro Barata, da Unicamp.

A Vita Derm, uma das maiores empresas de cosméticos do país, em parceria com pesquisadores franceses, está formando um grupo para estudar os princípios ativos vegetais da Amazônia. As pesquisas serão feitas aqui, e os testes, na França, usando a bioengenharia cutânea, diz Marcelo Schulman, presidente da Vita Derm e da Associação Brasileira de Bioengenharia Cutânea.

Colaborou Augusto Pinheiro
 

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